Capítulo 25

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Kevin Jadier Ackerman

  Keyla estava morrendo.

  Foi a primeira coisa de que soube quando ganhei alta do setor de experimentos. Quem me contou foi um garoto do meu alojamento, encontrei com ele na cantina. Eu simples e desesperadamente corri o mais rápido possível para o quarto. Foi quando eu a vi.

  Keyla estava deitada numa tábua que havia sido posta no chão. Ela ofegava enquanto o suor escorria pelo rosto, sem contar na vermelhidão dele. Uma toalha úmida havia sido posta sobre sua testa. Aquilo sim me afligiu verdadeiramente, ver morrer uma das únicas pessoas com quem havia me importado desde que fui parar naquele maldito Laboratório.

  Eu caí de joelhos, as mãos aparando minha queda enquanto eu dizia:

  - Keyla! - Por meio de ela não me reconhecer devido a seu estado de saúde eu disse: - Sou eu, o Kevin. Não se preocupe, vai ficar tudo bem. - E depois, aos prantos eu comecei a repetir freneticamente: - vai ficar tudo bem Keyla.

  Keyla reuniu todas as suas forças restantes para por gentilmente a sua mão na minha, ela olhou nos meus olhos, ainda ofegando. E com os olhos cheios d' água disse: “Comigo, de um jeito ou de outro vai ficar tudo bem. Mas... E com você?” Eu queria ter dito que sim, mesmo sabendo que não. Ela piscou, a vida esvaiu-se de seus olhos, levada pelas duas e solitárias lágrimas que desciam lentamente, desenhando os contornos de seu rosto. Keyla parou de ofegar, aninhei sua delicada mão entre as minhas, e chorei. Ela não tinha pulsação.

  Eu beijei-a nos lábios desejando que estivesse ao menos parcialmente viva, mas o seu corpo não reagiu nem mesmo minimamente.

  Nem tudo é como nos contos de fadas, nem sempre o beijo de amor verdadeiro ressuscita a donzela. Não fingirei que não a amava, não falarei mais porque seria ainda mais doloroso. Caí na burrice de amar, e sofri por isso.

  O amor não é sofrimento, assim como a vida não é a morte. Mas amar é assinar um contrato com o sofrimento, assim como nascer é assinar um contrato com a morte.

  Não haveria velório para Keyla, no dia seguinte as pessoas na quadra jogariam bola, e seus restos mortais seriam o cenário de fundo. Ela costumava me dizer que queria sobreviver ao Laboratório para ser enterrada. Infelizmente isso não seria possível, perguntei ao meu colega de quarto.

  - O que houve? Quem fez isso com ela?

  - O doutor Wagner.

  Arregalei os olhos: “O doutor Wagner? Por quê?” Como se lesse minha mente, o garoto continuou.

  - Ele estava tentando recriar a experiência de aumento de capacidade regenerativa e melhoria do sistema imunológico. A que ele fez com você. Mas a cobaia não resistiu.

  Não gostei da falta de afetação na voz do garoto, ele pronunciou a palavra “cobaia” como se falasse de uma rã. Percebi que além de não ser a primeira vítima de Wagner, Keyla certamente não seria a última, ele continuaria a testar sua terapia e a aperfeiçoaria à todo custo. Na verdade ela era só mais uma vítima do Laboratório. Fiquei com tanta raiva, jurei a mim mesmo que um dia botaria o lugar abaixo.

  Eu limpei cuidadosamente as lágrimas dos olhos dela. Não sei dizer que tipo de amor nutria por ela, talvez não fosse um amor romântico, mas como eu já disse, sei que a amava. Mas nem mesmo agora, no período de descanso, Keyla poderia ter paz. Pois eu não dividia o meu quarto apenas com Keyla e algumas pessoas com quem eu não falava, também tinha o Clayton.

  - Ah, não é uma pena? - Ele perguntou, estampava um sorriso leve. - Parece que ela não aguentou tão bem quanto você. Nem todos somos fortes não é?

Laboratório de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora