TRECHOS DO DIÁRIO DE SASK
Sábado. Hoje era sábado. Jason estava no quintal, socando a árvore. Como aos sábados eu estava sempre em casa, a Jennifer não havia vindo.
Eu estava sozinho, estava tomando um gole de vinho. E puxa, que vinho perfeito. Era raro que eu bebesse. Na televisão passava um jornal, o índice de homicídio sólido havia subido uns quinze por cento, mas o fico do dia era em uma nova marca de café que estava ganhando lucro. O descaso é uma ciência.
Foi então que eu ouvi um torque de campainha. Me levantei, caminhei a passos curtos em direção à porta. Parecia que o ar havia se tornado bem mais pesado. Eu levei a mão à maçaneta, alguma coisa estava muito errada.
Eu abri a porta e quase caí de costas. Era a mulher mais bela que eu já havia visto na vida. Não, eu não estava bêbado. Se bem que parecia, depois dessas reações estranhas...
- Como vai, Nikita?
- Muito bem, Sask. Você se importa de conversarmos um pouco? É muito importante. - Ela disse, uma das única mulheres que eu podia dizer que já amei na vida. Nikita, uma índia. Uma linda índia. Ela era negra, tinha os cabelos separados em tranças e olhos pretos extremamente fundos. Era da tribo dos Shiuás.
Eu havia conhecido ela havia muito tempo, uns dezesseis anos. Nos namoramos por uns meses e aí, o exército me obrigou a me mudar. A mãe de Nikita já era idosa, e estava doente. E por isso, Nikita não pôde vir comigo. Ela era não sabia usar aparelhos eletrônicos na época, então não tivemos como manter contato à distância. E o exército me prenderia por insubordinação caso eu não fosse. Então fui, e deixei meu amor para trás.
Algum tempo depois conheci a mãe de Jason, ela se chamava Maria Lúcia. Infelizmente ela havia tido uma gravidez de risco antes de me conhecer, desta só ela sobreviveu. Eu a engrávidei de novo, mas dessa vez quem não resistiu não foi o bebê... foi ela, Maria Lúcia, minha amada. E nasceu Jason.
Escrevi estas palavras chorando, até tenho certeza que vão ficar marcas de gotas no papel. Por que eu tinha que não conseguir uma mulher que pudesse ficar comigo? Mas naquele dia Nikita apareceu, e isso me deixou feliz.
Mas ela trouxe consigo notícias arrasadoras. Primeiro ela me disse que depois que eu desapareci a mãe dela faleceu. Pobre senhora, sempre gostou de mim e me defendeu do avô de Nikita. Mas o que realmente me assustou foi quando ela disse:
- Você precisa conhecer seu filho.
Droga, como o mundo é injusto. Eu tinha um filho e até então nem sabia! Tinha uma criança aí no mundo agora que já tinha anos de espera por seu pai, e a coisa ruim é que eu era seu pai. Eu nunca fui o melhor pai do mundo para Jason, mas pelo menos eu era o pai de Jason. Era a mim que ele procurava quando as coisas não faziam sentido.
- Como assim? Que filho? - Eu perguntei sem entender.
- Quando você... foi embora, eu estava grávida. E tive um filho. - Ela fez uma pausa, docilmente. - Eu procurei por notícias suas, assim que eu tive o bebê comecei a te procurar. Eu fui atrás de você em todos lugares que pode imaginar. Acabei desistindo, mas outro dia eu vi uma notícia de que uma assassina havia sido capturada. Ela havia matado um oficial e foi capturada por você, então eu vim atrás de você. Precisava te mostrar teu filho.
Sask estava atordoado. Não sabia o que dizer, e por um certo tempo, achou melhor não dizer nada.
. . .
Pode-se dizer que um filho é um presente ou algo do tipo. Mas acredite, ninguém consegue sentir-se presenteado quando uma mulher interrompe o seu sábado para lhe contar que você tem um filho.
Não que eu ligasse para os sábados. A verdade é que eu fiquei chocado quando soube que tinha outro filho. E ainda por cima com Nikita. Como será que eu devia encarar isso?
Ela me falou sobre o nosso filho, disse que ele seria um guerreiro no futuro. E eu lhe disse "quer dizer que ele será um azarado?"
- Não achei graça. - Nikita respondeu, fiquei muito feliz de ver que ela havia aprendido muito sobre a minha cultura.
Ela também disse que ele havia sido criado à maneira da tribo dela. À maneira dos Shiuás. Ela me trouxe o menino, que havia ficado na poeta para que eu conversasse com ele. O garoto era o estereótipo perfeito de um homem Shiuá: negro, apesar de ter a pelé um pouco mais clara que a de sua mãe ainda era uma tonalidade bem comum aos Shiuás. Cabelos pintados de cor estranha e com uma pena presa ao ouvido por um tipo de alagador.
Depois de algumas perguntas minhas e de algumas perguntas dele, eu fiz a que achei mais necessária.
- Por que os cabelos azuis? - Puxa, mas aquele cabelo estava realmente horrível.
- Justiça. - O garoto respondeu sem titubear e me olhando nos olhos. - Existem quatro cores de cabelo que possuem significado para os Shiuás. E todas elas só podem ser usadas pelos homens. Azul significa justiça, que a justiça é o ideal que você defende. Roxo seria perfeição. Verde seria astúcia e vermelho, seria vingança.
Eu gostei do menino, você é aquilo em que acredita. Bem, meu filho acreditava na justiça.
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Laboratório de Sangue
Science FictionTreze anos atrás, a vila Gran XVI foi destruída. Seus habitantes, mortos, apenas um morador sobreviveu. Ele deseja desesperadamente obter explicações e vingança. O mundo esta um caos. A rebelião bate às portas, ameaçando a estabilidade do governo, e...