Capítulo 14

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TRECHOS DO DIÁRIO DE SASK:

  O menino avançou correndo em minha direção, seus cabelos azuis esvoaçando no ar. Eu me esquivei velozmente dele e saltei para trás. Estávamos em minha casa, Jason estava socando as árvores, totalmente alheio a tudo que acontecia no quintal. E meu adversário estava realmente muito agressivo. O garoto avançou há uma velocidade absurda tentando chutar o meu rosto com toda à força.

  Eu tive de bloquear velozmente com o braço, e chutei a coxa do menino. Ele gemeu de dor, mas permaneceu de pé. Após equilibrar-se, meu filho saltou tentando me socar. Recuei um passo, dois, três. Evitando à todo custo seus golpes furiosos. Ele recuou um passo, saltou e girou o corpo atingindo meu peito com seu ombro. Meu corpo foi lançado para trás, eu me equilíbrei gemendo pela dor. O garoto tentou chutar meu queixo, mas golpeei a perna dele e avancei tentando puxando seu braço na direção de suas costas com a intenção de imobiliza-lo. Puxa, aquele garoto não desistiu, de costas ele chutou meu braço com força. Depois ele se virou e me chutou na cabeça, meu corpo caiu e ele veio para cima. Levantei-me saltando para evitar o garoto e me pûs em guarda.

  O garoto saltou e golpeou minha cabeça com força, tanta que doeu bem mais do que o chute.

  - Ai! - Gritei. - Não precisa atacar com tanta força. - Disse, o mundo começou a rodar.

  Aquele menino lutava sem medo, sem piedade. Atacava com fúria e determinação. Ele era diferente de mim, eu sempre atacava de modo à permitir a defesa. Ele por outro lado, parecia estar tentando tirar a minha vida. Meu filho chutou minha barriga, meu corpo se dobrou perante a força do golpe. A criança avançou um passo, puxou a gola de minha camisa com a mão esquerda e retraiu o braço direito. Ele impulsionou o braço livre com toda a força para me socar. Levei uma mão ao braço dele e a outra à seu ombro. Apliquei com toda a força um golpe que deslocou seu braço. O punho direito atingiu minha cabeça com pouca força. E seu rosto se transformou em uma máscara de dor.

  - Não lute com ele como se estivessem em uma academia. - Nikita me adverte. - Nós, os Shiuás lutamos sempre com tudo o que temos. Sem descanso, sem piedade... sem falhas. E filho. - Ela agora se dirige ao garoto, que estava chorando de dor. - Mais rapidez na próxima.

  Eu me virei para Nikita:

  - Não incentive esse tipo de agressividade! Eu tive que deslocar o braço dele para fazer com que ele parasse. Um pouco mais e um de nós poderia ter se machucado muito sério.

  - Esse é o preço da força. - Nikita diz como se não se importasse. - O que mesmo você sempre dizia? "O caminho do guerreiro é a morte?" Não parece que você acredite realmente neste ideal.

  Percebendo que o objetivo da citação era calar a minha boca, respondi:

  - Essa citação de Myamoto é inquestionávelmente verídica, porém você esta distorcendo o significado dela. Mussashi queria dizer que um guerreiro deve estar sempre disposto a abrir mão de sua vida. E que deve ter plena consciência que pode perdê-la a qualquer momento, tanto que ele disse que os guerreiros precisam reconhecer-se na condição de cadáveres ambulantes. Mas o guerreiro só deve sacrificar-se se houver um motivo válido, em uma guerra os guerreiros morrem para proteger o seu povo. Um homem talvez dê a vida por sua amada. Mas a vida é algo sagrado, não se deve abrir mão dela por razões triviais. Por exemplo, se o seu filho morrer em um treinamento para se tornar um guerreiro mais forte de que isso servirá? Seria uma vida desperdiçada. E não existe qualquer honra em uma morte desnecessaria.

  Agora ela é quem se cala. Eu ouço o garoto que decidiu usar os cabelos azuis em símbolo de justiça cochichando baixinho.

  - Uma morte honrosa. Ou uma morte patética...

  Eu me assustei um pouco com ele, tinha a impressão de que ele não teria interesse por isso.

  - Bem, acho que acho que em breve você poderá conhecer o seu irmão. E já que ambos gostam muito de lutar, poderão treinar juntos. Só terá que pegar mais leve, aprenda uma coisa: não se treina para ferir, se treina para curar.

  - Como assim curar? - Pergunta Nikita.

  Eu olhei para ela sem conter uma expressão de profundo carinho respondi:

  - Deve-se para dominar o corpo e preservar o espírito. Veja bem, quando eu tento ferir o corpo de alguém eu estou buscando um modo de fazer com que essa pessoa sofra fisicamente. Quando eu tento ferir com palavras, eu estou fazendo com que o espírito da pessoa sofra. Treinando eu devo dominar o corpo, para que este não possa ser ferido. E meditando eu posso por a minha mente e o meu espírito em um estado de concentração que lhes afaste de seu sofrimento. Desta forma eu torno-me mais forte e me curo, me curo por completo.

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