Capítulo 19

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  Rosa estava confusa, toda aquela história de ajudar um criminoso a fugir da polícia parecera tão... errado. Feliz ou infelizmente, salvar a vida de Kevin foi decisão dela. Mas havia uma grande diferença entre salvar a vida de um criminoso e ajudar ele a fugir.

  Ela, Jason e Kevin estavam de pé na cobertura de um alto prédio. Suas formas negras pareciam recortadas contra a luz da lua, sua aparência era a de fantasmas emanando uma luz prateada.

  Kevin havia sido gentil em elogiar Rosa. Ele parecia ser uma pessoa legal.

  "Mas pessoas legais não andam por aí traspassando os outros com armas." Pensou Rosa consigo mesma.

 
Ela foi traga de volta quando Jason tomou a palavra:

  - Aliás Kevin, agora que usamos de toda essa encenação e artimanhas para dar uma justificativa para a sua fuga. Acho que você pode nos contar qual é o próximo passo, não é?

  - Claro. - Respondeu Kevin. - O próximo passo é liquidar um soldado chamado Brian.

  A garota, assustada perguntou:

- Mas, por que?

  - Ele é o próximo alvo. - Kevin respondeu dando de ombros. - Há um tempo eu consegui uma folha de pagamentos do Laboratório. Só tinha o nome e conta bancária dos soldados à serem pagos. Mas não é muito difícil rastrear uma conta bancária se você tiver acesso ao sistema de registros online da polícia.

  - E você tem acesso a isso? - Perguntou Jason, visivelmente estranhando a idéia de um assassino usar um sistema da polícia.

  - Eu desperdicei um feriado em que poderia ter ficado descansando para invadir um pequeno batalhão.

  Kevin dizia "invadir um batalhão" mais ou menos como se dissesse que pulou um muro da escola.

  - Certo... - Disse Jason tentando decidir se pedia ou não mais informações sobre o caso da invasão. - E esse Brian é o próximo da lista?

  - Não, Clayton era o último na lista. Mas não precisei pesquisar nada além da localização atual dele. Eu já o conhecia.

  - O que? Impossível que Clayton seja o último da lista! - O tom de voz de Jason era de desconfiança.

  - Clayton era o último. É verdade que quase todos os casos não tenham sido publicados por conta da censura. Mas eu já matei mais de cinquenta membros do Laboratório.

  Para todos os efeitos, vivíamos uma ditadura. O nosso sistema governamental tinha dois chefes de Estado. Um ditador e um imperador, mas o imperador, na realidade, não passava de uma figura pública. O verdadeiro governante era o ditador. Ele era quem fazia o país funcionar.

  - Se a lista de alvos termina com Clayton, por que quer matar esse Brian? - Perguntou Rosa.

  - Por que ele sobreviveu. Há uns treze anos houve uma ação militar em uma vila chamada Gran XVI. - O coração de Jason quase pulou ao ouvir o nome de sua vila natal da boca de Kevin. - Até onde se sabe oficialmente não existem sobreviventes, mas esse cara esta vivo. Esse tipo de ação os militares só tomariam em último caso. Foi uma medida drástica, cruel e descabida. Posso apostar meu único braço que nisso o Laboratório esta envolvido.

  - Espera, Brian? Era o melhor amigo do meu pai! - Jason subitamente compreendeu. - Aquele desgraçado traidor. Eu aposto que é por isso que Sask deixou o diário. Para que  eu soubesse que ele nunca foi até a casa de Edgar por causa de uma intervenção de Brian, ou então eles foram juntos até lá, e descobriram algo muito importante. Mas Brian deve ter ficado com muito medo. O único modo que encontrou de se salvar foi trair seu amigo e sentenciar todos que um dia conheceu e amou à morte.

  - Ele era amigo do seu pai? O que você quer dizer quando diz que ele traíu seu pai?

  - Parece que meu pai foi o culpado pelo ataque. - Respondeu Jason, infeliz. - Ele descobriu alguma coisa, ameaçou alguém, cometeu um erro grave ou algo assim. Não foi uma ação dentro da lei, disso eu tenho certeza.

  Jason pegou o diário de Sask, era um diário pequeno e Jason o pôs em uma espécie de capinha, só para poder prendê-lo na cintura. Abriu a capa e deu à Kevin.

  - Só precisa ler uns trechos, vou te indicar as partes importantes.

  Foi uma leitura pesarosa. Rosa observou com interesse as ações de Kevin. Ele pegou o diário com ar de quem esta investigando alguma coisa. Ele luta com cautela, as vezes se assustava. Em algum momento os olhos de Kevin se encheram de lágrimas. E ele teve de terminar a leitura chorando baixo. Quando terminou de ler, ele entregou o diário à Jason.

  - Depois disso não sei. Só sei que num belo dia Sask voltou mais cedo do trabalho e me mandou para o lugar mais longe em que pôde pensar. Com um amigo que ninguém, nem mesmo eu, conhecia. No dia seguinte já estavam todos mortos.

  - Obrigado. Aquele desgraçado não escreveu meu nome. Jason, prazer. Sou Kevin, seu irmão.

  Kevin limpou cuidadosamente as próprias lágrimas antes de explicar:

  "Somos irmãos Jason, o Shiuá de cabelos azuis, ele sou eu, e ex-namorada de Sask é a minha mãe. Eu vou te contar a minha história...

  Isso aconteceu três dias depois do último trecho que você me mostrou, eu estava conversando com a minha mãe. Ela me dizia: 'Filho. Espero que esteja gostando do seu pai.' Eu não sei o que ia responder. Não tive tempo. Alguém bateu à porta.

  - Já vai!

  Quando me aproximei a pessoa chutou a porta, era um soldado. Usava uniforme camuflado de malha pesada. Ele também estava de capacete, de um tipo que não conheço, mas cobria completamente o seu rosto.

  Os dois estavam armados com fuzis, tão logo eu percebi que estavam armados um deles tentou me dar uma coronhada.

  Ele só não contava com o fato de eu ser um Shiuá, e os Shiuás são ensinados a lutar desde pequenos. Outra coisa com a qual ele não contava era que os fuzis jamais seriam as armas adequadas para usar em ambiente fechado.

  Me agachei evitando o golpe, e chutei o fuzil com força. Ele se desequilibrou e começou a andar para trás, tentando recuperar o equilíbrio. Eu meti-lhe um chutão no joelho e ele caiu, por fim eu quebrei-lhe o nariz com o braço esquerdo. Tomei-lhe o fuzil e joguei pela janela. Peguei a pistola do coldre do soldado. Segurei com a mão esquerda e atirei na perna do sujeito.

  Desci as escadas, lá tinham mais dois soldados. Descarreguei a munição da  arma no primeiro. Vendo que a munição tinha acabado e seu corpo estava caído na escada, eu avancei com rapidez, o soldado tentou reagir.

Mas como eu disse, fuzis não são a arma adequada para espaços fechados, demora muito para conseguir mirar na posição desejada. Sem contar em ser pesado e espaçoso. Sem lhe dar chance, eu arremessei a pistola em sua cabeça. (O que teria sido uma ótima manobra se o soldado não estivesse de capacete.) Avancei e dei-lhe um murro. Seu corpo caiu rolando pela escada.

  Infelizmente Sask meio que tinha deslocado um pouco meu braço poucos dias atrás, socar o soldado fez ele doer como se fosse sair do meu corpo.

  Minha mão esquerda instintivamente foi ao encontro do meu ombro. O soldado subiu as escadas rapidamente e me deu uma coronhada na cabeça. Quando eu acordei, estava em um lugar que nunca tinha visto antes..."

Laboratório de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora