Capítulo 1

370 50 114
                                    

No céu, os pássaros voavam. Vários deles, pequenos riscos pretos no céu. O menino que estava sentado na varanda de sua casa observando-lhes não sabia identificá-los. Para ele isso tão pouco tinha a menor importância. Tinha doze anos.

Era um menino de cabelos castanho escuros, pele branca e olhos castanhos claros. Usava luvas brancas nas mãos, uma camisa branca e uma calça jeans preta além de uma jaqueta cinza escura.

Atrás de si o menino ouviu uma voz distante, seu pai dizendo:

- Tchau Jason. Volto a noite, comporte-se bem.

- Tchau Sask... Ou melhor, pai.

Até os nove anos, Jason nunca viu ninguém se referir a Sask como "pai". Nem Sask se referia a si mesmo como "pai" aos nove anos uma freira que sabia que Sask era pai de Jason viu o menino se referir ao pai como "Sask" e fez um discurso obstinado, repetindo: "é pecado, isso é pecado hein, é pecado, não é certo, é pecado, é pecado e é errado porque é pecado, isso não agrada a Deus, é pecado..."

Jason sentia raiva ao pensar que teria de ficar com sua babá. Pensava: "Poxa, eu entendo perfeitamente que meu pai precise trabalhar. O que não entendo é por que meu pai paga essa mulher..." E dirigiu um olhar acusador à uma moça esparramada no sofá roncando enquanto um fio de baba lenta e asquerosamente descia de sua boca e molhava o braço do sofá. "...Para ficar 'responsável' por mim."

O menino foi até o quintal. Observou a grama bem-aparada, as duas árvores médias e o toco de outra, só vários metros a frente da casa estava o portão cinza claro. Ao lado esquerdo da casa havia um pequeno beco, onde o garoto entrou, espremido entre a parede da casa e o muro que delimitava o lote. Depois do beco, atravessou a porta, fechando-a atrás de si.

Ali havia uma área de serviço. Um pouco depois dela tinha um outro quintal. Pouco menos espaçoso que o primeiro. Nele havia uma cerejeira, abaixo dela as rosadas folhas preenchiam um espaço pouco maior que o ocupado pela árvore, como que da aura da árvore ou coisa assim.

Jason deu um meio sorriso por causa da idéia, "aura". As folhas da árvore tinham sido podadas de modo a formar um quadrado no topo, não haviam folhas à menos de uns 1,70 metros do chão. De um lado da árvore muitas partes da casca do tronco estavam caídas no chão. Do outro haviam incontáveis cortes no tronco em toda a sua extensão.

Jason foi ao lado descascado da árvore, tirou as luvas brancas e as deixou cair no chão. Ele então tirou as faixas ensanguentadas que estavam sob as luvas. Olhou para as mãos: a pele dos dedos estava muito ferida, uma carne desconjuntada como se ainda á pouco tivesse parado de sangrar.

Jason encarou a árvore fixamente, de tão imóvel que estava a árvore parecia até retribuir o olhar de Jason. Então o menino se pôs em guarda e socou a árvore, repetidas vezes, incontáveis vezes. Até suas mãos sangrarem, e depois disso continuou socando. Gemendo de dor. Até que os braços de Jason se recusassem a se mover. Então Jason caiu no chão arfando, cansado, com dor.

Ficou deitado ali pelo que pareceu uma eternidade, então foi até o tanque e lavou as mãos.

- Urghh. Jason gemeu cerrando os olhos com o ardor. Esperando até que as mãos parassem de sangrar.

Depois disso pegou uma caixa com faixas limpas num pequeno armário sobre o tanque. Enfaixou as maos, e calçou as luvas.

Então ele deu a volta na casa pacientemente, abriu a porta e gritou furioso:

- Levanta da droga do sofá, Jennifer!!!

A babá saltou do sofá.

- Quem??? Você! Ô moleque quem te deu autoridade para gritar comigo?

Laboratório de SangueOnde histórias criam vida. Descubra agora