cap. 3 | as barbitchs

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Me certifiquei de anunciar no meu Instagram e Twitter antes de dormir sobre a seleção arrasadora de Barbitchs que eu faria no outro dia, então assim que acordo radiante em plena dez da manhã do dia seguinte, estou sobrecarregada de notificações.

Meninas – e alguns meninos também – do todo o Brasil estão em estado de choque. As mensagens desesperadoras deles surgem segundo após segundo, onde súplicas e mais súplicas para se tornarem uma das minhas crias são claramente expostas.

Infelizmente eu era apenas uma garota bonita com um cérebro e corpo funcionando, então deixei bem claro que o máximo que eu escolheria seriam três pessoas. Fui logo anunciando que a seleção seria feita hoje na minha casa exatamente as duas da tarde. Sei que foi tudo muito encima da hora, mas quem estivesse mesmo disposto a ser uma Barbitch original teria que fazer um esforço – Aliás, eu não sairia andando com qualquer uma por aí.

Depois de fazer meus rituais de beleza no banheiro com aroma de pétalas de rosa, vou até meu closet enorme e tão amado para escolher uma roupinha qualquer. Estou me sentindo bem básica hoje, então apenas pego uma blusinha branca sem mangas com um shortinho vermelho de cintura alta. Uma sandália trançada de saltos médios e deixo minhas ondas ruivas soltas sobre as costas.

Vejo meu irmãozinho Pablito jogando vídeo game em seu quarto quando passo pelo corredor. Ao contrário do meu aposento de dama requintada, o dele tem diversos quadros desses desenhos japoneses de olhos grandes. É tudo muito fofo, mas bem cafona também.

– Bom dia neném. – Chamo sua atenção.

Ele retira os fones de ouvido pomposos e me lança um olhar matador em troca.

– Não sou neném! Já tenho dez anos.

– Mas pra mim ainda parece um bebê que mal saiu das fraldas.

– Sai daqui sua chata! – Ele me lança uma almofada que tem o formato de um bicho amarelo estranho.

Dou muita risada. Eu adoro implicar com aquele garoto maluco.

Assim que desço a escadaria da direita, as puddles francesas da minha mãe começam o seu furdúncio matutino em volta das minhas pernas. A coitada da empregada teve que as vestir com roupinhas amarelas dessa vez. Uma mini sainha balançando por cima dos rabichos peludos.

– Quieta Tinker Bell. – Aponto um dedo feroz para elas. – E você também Katy Perry!

Eu achava um absurdo minha mãe ter colocado o nome de uma das cadelas de Katy Perry. Me lembro que quando elas chegaram a cinco anos atrás eu nem morava aqui, então quando descobri que meu pai havia as comprado na França só deu tempo de eu nomear uma delas. Minha mãe nega até a morte, mas eu sinto que ela escolheu esse nome para bater de frente comigo. Ela sabia que minha cantora favorita é a Taylor Swift.

Uma reunião do clube de mulheres desocupadas estava acontecendo bem na sala de estar. Elas deviam ser umas oito no total. Minha mãe abre um sorriso assim que me vê passando e acena com uma mão cheia de anéis de ouro.

– Barbará! Vem dizer um oi para as Insaciáveis.

Sim, era desse jeito ridículo que elas se intitulavam. Como eu havia dito ontem, minha mãe tinha esse clube beneficente/suspeito a bastante tempo. No geral, eram mulheres ricas que não tinham nada para fazer, mas queriam se sentir úteis, então uma vez ou outra davam festas beneficentes ou faziam algum evento sem necessidade.

– Olá. – Abro meu primeiro sorriso falso de hoje.

Todas elas me cumprimentam cheias de uma vitalidade falsa. Algumas dizem como estou mais bonita, outras comparam semelhanças inexistentes entre minha mãe e eu.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora