cap. 26 | tretas ou travessuras

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Havia um enorme nó na minha garganta, assim como outro dentro da minha cabeça. Eu havia escutado todas as palavras de Cazinho, mas simplesmente não conseguia digerir aquelas informações. Não era possível que ele sentisse aquilo por mim. Não era possível que mesmo depois de tudo ele me enxergasse daquela maneira.

Não sei qual de nós dois está mais sem graça agora.

– Eu não sei o que dizer. – E não sabia mesmo. – Eu confesso que não esperava por isso. – E não esperava mesmo. – Você sabe, são tantas coisas acontecendo. As Barbitchs estão surtando, Xuxa tentando destruir minha vida...

Aquelas palavras eram vazias, eu sabia disso. Eu simplesmente não conseguia chegar a uma conclusão sobre o que Cazinho havia falado e principalmente sobre meus próprios sentimentos. Era estranho, mas naquele momento eu estava com muito medo.

Cazinho sorri. É leve, talvez um pouco decepcionado, mas não é triste.

– Eu entendo Barbie, eu juro que entendo. Tudo anda uma loucura. Mas não se preocupe, não precisa falar nada somente para me agradar. Não é sua obrigação sentir o mesmo por mim.

Ouvir aquilo faz meu medo ficar ainda maior. Esse nó idiota na minha garganta! É como se eu estivesse impossibilitada de dizer que estava tudo bem. Que ele não precisava se sentir mal por aquilo. As palavras simplesmente não saem e eu apelo para um sorriso bobo. Quem sabe possa mostrar a Cazinho que eu entendia.

– Eu quase me esqueci do que eu vim fazer aqui... – Arrumo uma desculpa. – E então, você aceita dirigir aquele automóvel preto novamente? 

Cazinho dá risada da minha tentativa infantil de quebrar o clima. Eu me sentia tão estúpida que poderia morrer.

– Não me entenda mal, eu aprecio muito a sua boa vontade de vir até a minha casa e fazer essa proposta, mas acho que eu preciso de um tempo.

Fico automaticamente mais desanimada, porém sinto que eu mereço aquilo. Tento me lembrar que não é só a minha vida que está completamente do avesso. Cazinho estava tomando conta de sua família, havia sido despedido sem motivos e acabava de fazer uma confissão sem retribuição.

Suspiro claramente deprimida.

– Eu entendo, você pode ter o tempo que quiser. Acho que só estou um pouco decepcionada em não ter você por perto para me dar uns conselhos.

No fundo eu sabia que não era só aquele o motivo da minha decepção.

– E sobre o que exatamente você quer um conselho? – Ele pergunta.

Eram tantas coisas. Finjo pensar sobre o assunto e ele dá risada.

– O que você faria se uma colega de infância que estivesse com muita raiva de você voltasse para destruir sua vida?

Claro que ele já estava por dentro de toda a briga pessoal/virtual com Xuxa – A louca. Mesmo assim ele parece pensar de verdade na resposta ideal.

– É uma situação complicada, não posso negar. Mas como todo problema, você pode localizar a raiz e dar um basta. Você já pensou em pedir desculpas?

Pedir desculpas? Por um minuto lanço um olhar tão revoltado para Cazinho que ele precisa segurar para não rir na minha cara. Como assim eu deveria pedir desculpas? Xuxa estava tentando acabar com a minha vida desde o começo do ano. Ela era a vilã aqui.

– As vezes precisamos fazer coisas que não queremos. – Cazinho reforça seu argumento. – Eu sei que pode não parecer o ideal em um momento como esses, mas um pedido de desculpas pode fazer toda a diferença.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora