cap. 12 | comedores de terra

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Pérola estava oficialmente tendo encontros semanais com uma psicóloga, e o pedófilo/omelete de ovos, respondendo por um processo que cheirava a remédios. É como dizem na TV: Tudo vai bem quando termina bem!

Mas não para mim. Eu ainda carregava o peso de me tornar uma pessoa melhor nas costas, assim como precisava aguentar as postagens estúpidas de Felipe e Susi, a babação de ovo sem fim de Richard e ter aulas de canto duas vezes na semana.

Duas coisas eram certas: A primeira é que eu havia contado uma pequena mentirinha sobre ser cantora, e a segunda, que eu não podia ser uma fracassada e fugir daquele teste para o musical do High School Musical. Eu já havia feito duas aulas com o senhor Poncho na minha casa. A primeira coisa que ele havia notado na minha voz era um "grave considerável para uma mulher". Eu não havia entendido direito de início, mas depois ele me explicou que os homens atingiam as notas graves com mais facilidade, assim como as mulheres as agudas. Pelo jeito eu era um caso invertido.

Não importava. Se eu tinha um belo grave, iria usar ele ao meu favor para conseguir o papel de Gabriella. Até havia cogitado a hipótese de subornar a bancada do teste, mas me lembrei que estou me tornado uma pessoa melhor agora.

– Vamos ter uma festinha no final de semana! – Minha mãe canta alegremente quando entra no meu quarto.

Estou sentada no centro da cama. Minhas pernas dobradas e mãos em posição de oração. Abro um dos olhos saindo do meu estado inerte de ioga para iniciantes.

– E qual a causa? – Pergunto.

Eu sabia do que ela estava falando – As Insaciáveis atacam novamente! Você deve se lembrar delas. O clube idiota da alta sociedade da minha mãe. Elas gostavam de promover eventos beneficentes quando não tinham mais nada para fazer.

– Transtorno de Pica.

Agora abro os dois olhos, bem arregalados.

– É como uma doença, bobinha. – Minha mãe se aproxima para sentar na beirada da cama. – Se trata basicamente de pessoas que tem apetite por coisas que não se dá para comer, como terra, carvão, tecido... E também, vamos aproveitar a data de Tiradentes.

Eu nunca havia ouvido falar de Transtorno de Pica, e sabia que ela só havia escolhido aquela suposta doença como desculpa para ter o que fazer.

– Tiradentes foi semana passada. – A relembro.

Minha mãe revira os olhos ainda sorrindo. Claro que ela sabia que havia sido semana passada.

– Estamos apenas com uma semana de atraso. – Ela não se importava. – E o nosso foco vai ser arrecadar dinheiro para as pobres pessoas que tentam comer terra. Não seja egoísta! Aliás, quero que você faça um discurso.

– Eu? Discurso? – Dou risada.

– Você mesma! Sei que adora ter os holofotes em sua direção. E também, ter a filha da líder discursando no evento para a sociedade é comovente.

Ah, então era isso. A senhora Lisandra estava cuidando direitinho para que sua imagem de chefona benfeitora se ampliasse entre os endinheirados de Osasco. Eu já devia ter imaginado.

Inicialmente eu penso em recusar. Eu não fazia a menor questão de ir aquela festa para falar a verdade. Mas depois, conforme os dias foram se passando e as histórias de Susi no Instagram com Felipe aumentaram, eu pensei: Por que não? Era um evento beneficente e eu poderia convidar quem eu quisesse. Era a oportunidade perfeita para seguir com os meus planos.

Aceito fazer aquele discurso para os comedores de terra. Aviso as Barbitchs, Richard e mando mensagens para Oliver e Felipe. Estendo o convite a seus devidos parceiros. Se Felpe e Susi estavam se vangloriando por aí que eram um casal, já estava mais que na hora de Richard e eu nos apresentarmos para a sociedade também. E bem na cara deles para mostrar que eu não era nenhuma renegada.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora