cap. 25 | delicado

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Ter o apoio de Pérola e Sheron naquele momento tão difícil da minha vida foi algo inexplicável. Além de eu ter a prova viva de que a amizade verdadeira existe, eu pude enxergar como eu estava completamente louca me tornando uma reclusa no mundo.

Uma coisa que nunca havia acontecido antes se inicia nos primeiros dias de outubro. Enquanto faço minhas seções de ioga para iniciantes, hidrato meu cabelo com creme capilar japonês de crescimento e continuo comprando roupas na internet, reflito sobre minha própria vida. Deixo o ódio imensurável que tenho por Xuxa de lado e penso em como acabei entrando naquela situação.

Era para eu ser mais esperta do que isso. Penso em mim mesma convencendo o inimigo a caminhar do meu lado e depois em todas as vezes que ela me enganou friamente. Era mesmo como ela havia me dito na última vez. Como eu podia ser tão tapada? No mínimo era para eu ter desconfiado das conversas distorcidas que ela carregava.

Nesse meio tempo me assusto com uma nova descoberta. Eu era uma garota boba, superficial e egoísta.

Foi duro admitir aquilo para mim mesma, mas era até compreensível que eu tivesse aqueles defeitos sendo que já era tão perfeita fisicamente e financeiramente. Pela primeira vez na minha vida eu começava a entender o que Deus havia tentado me alertar naquele sonho maluco. Eu não precisava sair por aí fazendo boas ações para me tornar uma pessoa melhor. Eu precisava corrigir a mim mesma.

Talvez eu não conseguisse enxergar na maioria das vezes, mas minhas atitudes expressavam uma pessoa vazia. Algumas pessoas quando me viam, enxergavam apenas uma garotinha metida e medíocre (por mais absurdo que essa ideia pudesse parecer), mas se eu era daquele jeito mesmo sem perceber, será que eu poderia mudar?

Quem sabe. Talvez, eu pudesse.

Começo a pensar em todas as pessoas que estiveram presentes na minha vida nesses últimos tempos. Uma por uma. É cansativo, mas me forço a pensar em como agi com cada uma delas. Agora, olhando por fora, o que Felipe havia me dito naquela noite em que terminamos começava a fazer sentido:

"Barbie, você nunca assume os seus erros! Você simplesmente faz o que quer sem querer ser responsabilizada depois."

Como eu pude ser tão cega? Quanto mais eu pensava no assunto, mas sentido fazia. Eu precisava consertar todo aquele tempo perdido. E eu sabia exatamente por quem começar.

Certa tarde, entro decidida na sala principal da minha casa. Minha mãe e as Insaciáveis tomam chá, enquanto conversam entre risadas alguma idiotice qualquer.

– Preciso falar com você. – Corto o assunto do grupinho beneficente/suspeito.

Minha mãe me oferece seu sorriso metade natural e metade artificial.

– Querida! Que bom que você está aqui, junte-se a nós. As Insaciáveis vão ficar radiantes com a
sua presença.

Não respondo. Nem ao menos esboço reação. Desde que eu havia descoberto que aquela dissimulada havia despedido Cazinho, estava a ignorando o quanto eu podia e ela sabia muito bem disso. Por algum motivo, parecia da natureza dela se fazer de inocente e desentendida.

Caminho até o salão com a plena certeza de que ela está me seguindo. Poucos segundos depois estamos de pé, frente a escadaria direita para o segundo andar.

– O que é tão importante ao ponto de você me fazer sair de uma das reuniões?

Eu odiava o fato dela colocar aquelas "reuniões" como algo sagrado. Acho que nessa altura no campeonato eu podia tachá-las como as minhas tentativas de ser um ser humano melhor: Um fracasso.

– Você vai recontratar o Cazinho e pedir desculpas a ele.

A primeira reação dela é dar uma risada como se eu tivesse feito uma piada, mas eu me mantenho lá imóvel e plena até que ela perceba que estou falando muito sério.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora