cap. 28 | xeque mate

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Lute como uma garota, eles dizem. Era exatamente o que eu ia fazer.

Quando a semana prometida finalmente nos dá boas vindas, chego a conclusão de que vou (na verdade vamos) acabar com a maníaca da Xuxa do meu próprio jeitinho. Eu poderia suar o vestido treinando arremessos com as Barbitchs, mas prefiro fazer um trabalho que exija menos esforço. Minha primeira grande ideia é obrigar meu irmãozinho caçula Pablito a nos ensinar a jogar vídeo game. Invadimos o quarto dele certa manhã e depois de toda aquela fase do convencimento/chantagem, ele não tem outra escolha senão nos colocar de frente para sua TV enorme e mostrar alguns jogos de luta.

– Barbie, isso é perca de tempo. Acho que a gente devia estar praticando pra valer ou vamos levar uma surra no sábado. – Sheron como sempre é pessimista.

– Que nada! Além do mais, a gente tá praticando pra valer. Habituar nossas mentes a todos esses movimentos flexíveis (aponto para os personagens pulando na tela) fará com que nosso sistema motor os absorva. Eu li isso em uma revista, juro.

Eu tinha mesmo lido aquilo em uma revista? Ou será que eu havia sonhado?

Enfim, minha segunda ideia brilhante é praticar coreografias de músicas pop famosas. Fazemos no salão principal da minha casa mesmo que é bem espaçoso. Obviamente, todo o esforço e controle para executar aquelas danças sensuais e de tamanha flexibilidade seria crucial para a partida. Até aproveitamos para ensaiar uma dancinha de provocação para quando eliminarmos alguém do outro time idiota.

A terceira, última, e espetacular medida de preparo para o jogo, é nada menos do que a confecção de um uniforme perfeito. Eu era uma expert em moda e sabia que uma roupa poderia interferir em tudo, então tratamos logo de conseguir a ideal. Precisávamos de um traje que fosse a nossa cara, mas que também imprimisse toda nossa garra como jogadoras de verdade. Leva mais de um dia para conseguirmos o modelo perfeito de cropped rosa choque com um "B" bem grande, branco e brilhoso no meio. Me certifico de mandar fazer um modelo de camisa masculina para Cazinho também.

Por falar no meu ex-motorista/colega de jogo, troco algumas mensagens curtas com ele durante os últimos dias. Estou sempre perguntando se está tudo certo para o grande dia, e ele respondendo que estará lá. Até o chamo para nossos treinos de vídeo game, danças e confecções de roupas, mas como ele é a mãe de sua própria família, sempre está ocupado demais com alguma coisa.

Acho que se fosse a alguns meses atrás, ou até semanas, eu surtaria por ele não estar comigo no exato momento em que eu quero, mas agora eu era como uma nova garota. Eu era linda, glamourosa e simpática, porém também era um ser humano compreensível, que estava aberto a ouvir as justificativas do meu próximo antes de inventar uma mentira maligna, ou até mesmo fazer rituais em cemitérios.

Eu era um exemplo para o resto da humanidade.

No sábado de manhã estou inquieta. Achei que fosse levantar radiante como sempre e ler meu horóscopo diário, mas acordei nervosa. Fiz todo o meu ritual de beleza sagrado e depois escolhi uma roupinha básica pensando na tarde que se aproximava. Conferi meu Instagram umas duzentas vezes para ver a repercussão do acontecimento. As pessoas estavam mais acesas do que nunca. Hashtags, posts, status, tweets... As apostas continuavam mais ferozes essa manhã e a desmiolada da Xuxa ainda liderava com dois porcento de vantagem.

No almoço como apenas vegetais e frutas para que meu corpo esteja totalmente ligado com a natureza, logo depois faço uma sessão de ioga para iniciantes que dura uns trinta minutos antes de eu começar a me aprontar. Visto meu cropped personalizado, shorts soltinhos mega curtos e calço meus tênis brancos com um detalhe prateado nas pontas. Prendo meu cabelo em um rabo de cavalo firme e cheio de ondas sobrevoando sobre as costas. Eu estava pronta.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora