cap. 14 | taylor mata katy

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Passo dias digerindo o desastre com o musical. Eu não podia simplesmente aceitar interpretar o Troy, mas por outro lado também não podia recusar assim de bandeja e entregar toda glória para Susi. Eu sabia que era isso que ela queria. Será que ela achava que enganava alguém com aquele teatrinho de "Vamos protagonizar juntas"? Imagino o sorriso no rosto dela quando contou para o Felipe... por que ela era tão má?

Jogo toda a programação de ensaios e outras idiotices do musical para a empregada que cuida da minha cobra. Acho que ela estava meio sobrecarregada, mas infelizmente teria que arcar com aquilo, uma vez que minha vida era, número 1: Ocupadíssima! E também número 2: Dificílima! Tento focar a semana seguinte na minha rotina de bem feitora com as Barbitchs. Apesar dos meus pensamentos estarem cheios de nomes variados, eu não podia me esquecer da minha sina.

É muito trabalhoso fazer compras no shopping segunda com Sheron se lamentando nos nossos ouvidos. Ela não para de falar sobre uma tal noite que está para acontecer na boate em que ela trabalha. Terça, quarta, quinta, sexta, sábado e até domingo são a mesma coisa. O tal espetáculo na boate "Estonteante" com direito a uma convidada surpresa que Sheron parecia idolatrar e temer ao mesmo tempo.

Não consigo dar muita importância quando avançamos para a próxima semana. Era quase dia quinze de maio, e aquilo significava dia da família. Pode parecer uma data indiferente como qualquer outra, mas era como uma tradição para os Ventura. Meu pai – vulgo viajante em tempo integral – sempre voltava naquele mesmo dia para o nosso famoso e obrigatório almoço em família, e como ele passava quase todo o seu tempo em países diferentes fazendo dinheiro para gastarmos a rodo, eu ficava muito animada em podermos nos reunir.

É um dia anterior a chegada do meu dad de Barcelona e as Barbitchs e eu estamos em uma boutique no centro. Assim como o próprio almoço em família, eu tinha a minha tradição de presenteá-lo com um relógio Cartier. Dessa vez estou de olho em um com estampa de zebra que vai dar um toque despojado ao estilo completamente lambido que ele tem. É difícil concentrar minha atenção na compra com Sheron tagarelando sobre sua competição que se aproxima, mas como a líder da diversidade que eu sou, dou o meu jeitinho.

– O Cartier Black and White 4.0 só está disponível para estoque amanhã. – A vendedora com expressão esnobe me avisa.

Tudo bem, aquilo não era um problema. Aproveito a ida na boutique para comprar um Rolex rosê simplesinho para usar com minha jaqueta Clock nova. Vejo como Pérola e Xuxa gostaram dele e resolvo comprar um para elas também. Até para Sheron que finalmente fica mais feliz em ganhar um presente.

Depois de praticar vinte minutos de ioga para iniciantes no santuário das deusas aquela noite (eu gostava de redimir minhas vibrações naquele lugar em especial), volto mil vezes mais leve para meu quarto de dama requintada. Sinto o peso de ser perfeita se aliviar por saber que irei reencontrar meu pai amanhã, então sou impulsionada quase inconscientemente até o terrário da minha cobra Taylor Swift. Ela parece tão serena sobre sua pedra favorita que decido retirar a tampa de vidro aquela noite. Além do meu petzinho ser totalmente inofensivo e dócil, acho que ela merecia um arzinho noturno.

Durmo como uma princesa. Sonho com unicórnios, relógios rosas e maldições imperdoáveis. Desperto no meu estado naturalmente maravilhoso as nove da manhã, pronta para buscar o presente do meu pai. Sorrio para o terrário que fica na minha lateral esquerda.

– Bom dia Taytay.

Não consigo a enxergar daqui. Ela provavelmente está dentro de sua caverninha ou pelo pequeno bosque artificial. Me levanto espreguiçando meus braços e vou até de frente para o vidro. Coloco a tampa novamente e dou alguns toques para ver se ela dá as caras. Acho que ela estava tímida hoje.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora