cap. 23 | a vingança de conchinha

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17 ANOS ATRÁS

Quando eu tinha um ano de idade, minha mãe me posicionou sobre a pia de frente para um espelho de rosto e eu disse minha primeira palavra. Não foi "mama" ou "papa", mas sim um "linda" todo inocente. Naquela época eu não entendia porque havia dito aquilo, mas hoje com oito anos de idade e sendo a menina mais bonita da terceira série, eu entendo.

Estou muito, muito, muito animada! É o último dia de aula e isso significa que a partir de amanhã estou livre. Nada de professores, nada de matemática, nada de aula de educação física que quase sempre deixa meus vestidos manchados. E o melhor de tudo: Mamãe e papai vão me levar para a Disney nas férias!

Passo a manhã toda no meu quarto favorito da minha casa. É um cômodo a parte no segundo piso que papai disse que eu poderia transformar no que quisesse. Obviamente usei ele para guardar as minhas Barbies. Eram inúmeras prateleiras com centenas de bonecas. Nossa empregada que eu não sabia o nome, geralmente ficava lá brincando comigo.

Uma vez ou outra ela observava as variações da modelo magra e sorridente e me perguntava:

– Você nunca pensou em pedir uma Polly de presente? Ou quem sabe uma Susi?

Suspiro como se não aguentasse mais responder aquela pergunta. A empregada sem nome me olha como se eu não tivesse idade para suspirar como se não aguentasse mais responder aquela pergunta.

– Susi é apenas uma cópia desfavorecida da Barbie. Eu não gosto dela.

Na hora do almoço me sento a mesa com a minha mãe. Ela está sorridente e animada como sempre. Algumas amigas dela quando nos visitam, sempre insistem em dizer que somos parecidas. Eu não acho. Só o fato dos meus cabelos serem vermelhos e os dela pretos já nos tornam bem diferentes na minha opinião.

– Cadê o papai? – Pergunto.

O almoço ainda não foi servido, mas eu sabia que ia ser atum com salada.

– Ele precisou viajar hoje bem cedo para a Alemanha. Você sabe que o seu pai é um homem muito ocupado.

Escondo meu desapontamento. Eu ainda era nova, mas já estava acostumada com meu pai indo e vindo de países estrangeiros a todo momento. Para todo caso, isso não queria dizer que eu não sentisse a falta dele.

– Hum. – Dou de ombros.

Minha mãe parece perceber que aquilo me deixa para baixo. Ela abre um sorriso maior ainda e pequenas rugas se formam no canto de seus olhos. Se continuar desse jeito ela vai precisar fazer aquele procedimento que as mulheres fazem rapidinho.

– O que foi, não está animada com o último dia de aula? E a Disney? Você está louca para conhecer, não é?

Sim, eu estava. Só dela mencionar aquilo eu já abro um sorriso. Uma empregada chega minutos depois e serve a carne de peixe envolvida por salsa, assim como eu já esperava.

– Eu e seu pai estávamos pensando... – Minha mãe limpa a boca com o guardanapo. – A gente acha que você fica muito sozinha aqui nessa casa enorme. Talvez gostasse de ter alguma companhia. Quem sabe um irmãozinho ou irmãzinha.

Quase engasgo com o atum.

– Irmão? Não! Eu não quero irmão nenhum! Eu gosto de ficar sozinha aqui na nossa casa enorme! E para falar a verdade eu não estou totalmente sozinha, a... – Tento me lembrar o nome da empregada. Minha mãe me desafia com o olhar porque sabe que eu não sei. Bufo! – De qualquer forma, eu não me importo de ficar sozinha.

Será que ela estava ficando louca? Eu ouvia algumas das minhas amigas falarem direto sobre como queriam um irmão ou sobre como era chato serem filhas únicas. Eu não achava. Ser filha única era uma experiência maravilhosa onde você era o total centro das atenções.

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora