cap. 7 | a panha de café chique

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Confesso que demoro dois dias inteiros para conseguir beijar Richard, mas acabo fazendo pelo bem dos meus planos em uma baladinha qualquer do sábado seguinte. Não era tão ruim se você parasse para pensar. Além de eu ter conseguido uma foto perfeita dos nossos lábios se tocando – que o mundo inteiro já havia visto no meu Instagram, inclusive meu ex-namorado insensível – eu ainda fazia mais uma boa ação dando uma chance para um cara que tinha problema de ansiedade.

O que eu não imaginava era que Richard fosse tão grudento. Ele me mandava mensagens durante todo o dia. Sua marca registrada era o emoji de rostinho com óculos escuros. Ele queria saber se eu estava bem, se eu queria que ele me comprasse um presentinho, se eu estava com saudades... Enfim! Todo o tipo de coisa mais idiota do mundo.

Driblei ele a semana toda como um jogador de futebol profissional, e só o encontrei quando realmente veio a calhar. Quando já era domingo a noite, reuni as garotas para ir a igreja novamente. Mesmo agindo de maneira tão correta durante os últimos dias, eu não podia me desviar da minha missão como benfeitora no mundo. Eu não queria ir para o inferno.

– Vestido bonito. – Comento quando vejo Xuxa parada com as outras meninas uma esquina depois do meu condomínio. A gente sempre se encontrava ali nos domingos. – Eu tinha um desses ano passado.

As Barbitchs parecem surpresas com o meu comentário. Acho que não era tão comum eu sair fazendo elogios assim. Xuxa arregala os olhos revelando os vestígios de sua retardes que ainda não havia ido embora, mas eu não podia negar que sua evolução era notável. De poucos dias para cá ela estava se vestindo bem melhor, e seus cabelos rebeldes sempre bem domados.

Abro uma exceção e peço para que Pérola e Sheron caminhem na frente essa noite. Eu era uma artista incrível e amável, mas estava desgastada demais com o apego de Richard para tirar selfies com os possíveis fãs que apareceriam pelo caminho.

Escolhemos uma igreja católica dessa vez. Quando dou o primeiro passo para dentro do salão grandioso em tons de dourado, quase todas as pessoas se levantam dos bancos e nos atropelam procurando pela saída.

– Acho que chegamos tarde. – Sheron conclui o óbvio.

Eu devia começar a ter conhecimento do horário das celebrações. Provavelmente ajudaria.

Bem, eu não estava satisfeita. Sigo pelo salão com as garotas me acompanhando. O barulho dos nossos sapatos estala a cada passo, criando um eco irritante por todo o local. Algumas pessoas que continuam organizando coisas perto do palco param para nos observar, assim como a banda que parece desligar os instrumentos. Eu adorava usar esse truque para forçar a atenção.

– Eu quero falar com o padre. – Paro bem atrás de uma mulher de cabelos grisalhos.

Ela está conversando alguma coisa com uma moça que parece bem mais jovem, mas logo se vira dando de cara com nós quatro. Um sorriso perdido no rosto, como se tentasse nos reconhecer. A moça que estava falando com ela nos dá uma olhada estranha e se afasta.

– Desculpe querida, o padre não está aqui hoje. – Ela responde gentilmente.

Olho rapidamente para Pérola.

– Você disse que era uma igreja católica!

– E é... é sim! – Ela responde acuada.

A mulher da igreja continua sorrindo.

– É mesmo uma igreja católica, mas o padre só comparece nas missas. Hoje tivemos uma celebração.

Então era isso. Agora eu podia me lembrar daquele detalhe. Pérola me lança um olhar cabisbaixo acompanhado de um bico de pato – Ah meu Deus! Já fazia um tempinho que eu não vinha a igreja. Por que ela tinha que ser tão dramática?

Uma Barbie Incompreendida [✓]Onde histórias criam vida. Descubra agora