Diferente dos apliques caríssimos, o creme de crescimento capilar japonês demora uma semana para chegar em minhas mãos. Eu até estava gostando dos meus cabelos mais curtos, mas com o passar dos dias, algumas "adversidades" me fizeram mudar de ideia.
Tudo começou quando eu estava dando uma volta com as Barbitchs na primeira segunda pós atentado. Estávamos olhando as vitrines das lojas a procura de novas aquisições para nossos armários. Percebo, a medida que caminhamos, a maneira como o cabelo de Sheron e de Xuxa batiam contra suas costas.
Eu não era a que tinha o cabelo mais longo agora. Todo mundo sabe que a líder é a que tem o cabelo mais longo.
– Você deve estar muito feliz em ter o maior cabelo agora. – Falo contra minha vontade para Sheron. Na verdade, eu nem sabia se aquele cabelo negro aloirado nas pontas era mesmo dela.
Sheron suspira entristecida.
– O maior cabelo agora é o da Xuxa, não o meu.
Faço as três pararem de caminhar. Pérola fica observando enquanto eu meço o comprimento dos cabelos de Sheron e Xuxa. Os dela eram curtíssimos até em comparação com os meus. Depois de uma dedicada análise, percebo que Sheron tinha razão. Eram poucos centímetros, mas as ondas castanhas de Xuxa venciam a competição.
– Uau! Isso é tão inesperado. – Foi a única coisa que ela disse.
Por sorte, os apliques avermelhados ficavam perfeitos em mim. Se aquela foto minha não houvesse vazado na internet, eu poderia facilmente omitir meu novo visual por tempo o bastante para os fios crescerem novamente.
Tudo isso me levava a pensar no "espião". Eu tinha uma forte intuição que a pessoa por trás da fofoca era a mesma que havia tentado me descabelar naquela manhã. Eu pensei nas pessoas que me atenderam no hospital, assim como nas do salão de beleza. Toda aquela gente não tinha nada contra mim (nada que eu soubesse), o que me forçava a pensar que havia sido alguém do meu âmbito pessoal.
Minha primeira opção obviamente era Susi. Ela era de longe a pessoa que tinha mais motivos para querer me ver feia e acabada. Porém, não descarto a hipótese de ser outra pessoa também. Será que as Barbitchs haviam se unido e queriam uma nova líder? Ou seria minha própria mãe por sempre achar os meus cabelos mais bonitos que os dela? (ela sempre confessava esse detalhe com ar invejoso). Em um surto, eu até cogito a chance de ser Tinker Bell, a puddle francesa que ainda não tinha se recuperado totalmente do seu luto canino. Essa hipótese logo é descartada quando eu deduzo que ela não conseguiria manusear objetos cortantes.
Faço relatos carregados de emoção em todas as redes sociais confessando para os meus fãs a mudança de visual. Abro o jogo sobre uma pessoa ter feito isso comigo propositalmente e peço para que fiquem calmos pois tudo está sob controle – Era o que eu esperava. Explico também sobre o cara na foto comigo (que era Cazinho). Conto que ele é apenas meu motorista, independente de ser "jovem e bonitão" como sugerem as milhares de Barbitchs que estão tweetando por aí.
Domingo, na igreja, tenho uma daquelas minhas epifanias do destino. Enquanto o padre discorre sobre a importância de "abrir as portas para Jesus entrar" eu só consigo pensar no dia dos namorados. Seria exatamente daqui a dois dias e incrivelmente tinham nos dado uma folga dos ensaios do musical. Me lembro de passar essas últimas cinco datas de formas semelhantes. Como Oliver e Luca sempre foram um casal, e Felipe e eu também sempre fomos um casal – eca! – sempre dividíamos o dia fazendo qualquer coisa que já fazíamos normalmente. Enquanto permaneço lá sentada com as Barbitchs em silêncio a minha volta, imagino se eles vão manter a tradição. Só que agora não seria mais Oliver, Luca, Felipe e eu. Seria Oliver, Luca, Felipe e Susi, a americana do Texas vulgo repicadora de cabelos alheios.
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Uma Barbie Incompreendida [✓]
HumorBarbie, a patricinha ruiva e mimada que bomba na internet, retorna em uma jornada de redenção para criar o exército de garotas perfeito, e dessa vez ela está convencida a ser uma menina boazinha (ou pelo menos um pouquinho melhor). Deixe o seu lado...