Jogo de futebol. Quadra de esportes do Colégio Pedro II, São Cristóvão, Rio de Janeiro, Brasil.
No colégio
[Tarde do dia seguinte ao Despertar]
A bola bateu na trave e quicou direto para dentro da rede. Giovanne gritou em euforia, a torcida de seu time vibrou. Tinha marcado o primeiro gol! Só mais alguns e a vitória vai tá no papo. Era daquilo de que ela gostava, do calor, da adrenalina, da disputa... Amava estar no meio disso tudo, jogar era parte de sua natureza. Suas amigas estavam nas arquibancadas junto com a multidão de alunos e funcionários do colégio, seu trio de malucas dando aquele apoio, gritando bem alto o seu nome.
As únicas coisas que incomodavam Giovanne eram a ausência de sua irmã e o fato de não poder ir assistir à peça dela. Caramba, Mari, essa droga tinha que ser logo hoje? Reclamou consigo mesma, tocando a bola para outra das jogadoras de seu time — ambos os times eram compostos só de garotas (as equipes masculinas jogariam na partida do dia seguinte). Enfim, depois sua maninha via o vídeo do jogo com ela e os pais, Giovanne sabia que Laura gravava a tudo, não havia uma treta ou grande acontecimento que escapasse da câmera do smartphone da amiga. Tomara que a Mari consiga gravar a peça. Não quero perder essa por nada.
Uma de suas companheiras estava prestes a fazer um gol. A bola ia com tudo, veloz, mas acabou voando na direção contrária após ser socada em pleno ar por um homem alto, careca e gordo que, pelas roupas azuis e amarelas, era um entregador dos Correios (mais o que alguém assim fazia ali?), e ele parecia ser meio... verde? Quer dizer, não era verde, verde. Dava para ver que ele era moreno, mas havia um toque esverdeado em cada pedacinho de pele exposta, como se ele tivesse recebido algumas demãos de verniz adulterado.
Então mais gente esverdeada irrompeu pelas portas traseiras da quadra — cada um vestido de uma forma diferente, de idades diversas, um grupo nada homogêneo —, interrompendo a partida de futebol sem cerimônias.
As pessoas que se amontoavam na área esportiva começaram a ser atacadas pela calada multidão (salvo os sons de seus passos, nenhum dos intrusos fazia qualquer ruído), atingidas por garras e golpes cruéis e certeiros.
Não haveria jogo para assistir mais tarde, afinal.
Giovanne mal absorvera o que acontecia e já corria para junto das amigas, ajudando-as a sair dali. Mais importante do que saber o que estava havendo, era que fugissem o quanto antes! O que é isso tudo? Da onde vieram essas coisas?!
A mente de Giovanne estava a mil por hora, os pensamentos esbarrando uns nos outros, enquanto corria com a maior velocidade que suas pernas alcançavam (quando se está falando dela, é grande coisa), praticamente puxando suas amigas (um pouco difícil, elas eram três). Eu pedi pra acontecer algo, mas não assim, não isso! Não queria que ninguém se machucasse... Ela se lamentava agora por ter desejado que um meteoro caísse. Tudo isso talvez seja culpa minha. Podia ser meio louco acreditar que tudo aquilo fosse consequência de um simples desejo idiota, mas, afinal, aquelas pessoas eram tudo menos normais. Merda! Samantha só sabia gritar, Laura e Camila tiveram que arrastá-la a maior parte do caminho, Giovanne ia à frente (ela se sentia como Sor Bronn correndo desesperado pelo campo de batalha com corpos, tripas e sangue de Lannisters e Dothrakis voando por todos os lados).
Não foi nada fácil percorrer o colégio na miríade de gritos, mortes e corridas a esmo em que tinha se transformado o ambiente a seu redor. Mais de uma vez as quatro escorregaram e quase caíram em poças de sangue que se espalhavam pelo chão. Por mais de uma vez Giovanne teve que impedir que suas amigas fossem pegas pelas garras dos monstros bizarros (eram esverdeados e praticavam maldades, logo eram monstros), por pouco não acabou ferida. Podia até aguentar alguns arranhões desde que as meninas estivessem bem, mas era melhor não arriscar — tinha notado que as pessoas ao serem machucadas, ficavam verdes, loucas e violentas também.
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Yggdrasil - Demasiadamente Humano
General FictionAquela era para ser uma noite memorável para os rapazes da BTS. Era o segundo BBMA deles em dois anos consecutivos, afinal! Mas, claro, que um lacre escondido sob as areias do Egito tinha que ser rompido justo naquele dia, justo naquele momento e jo...