Capítulo XVII - Alma Aberta

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“Eu posso criar sonhos, porém jamais sonho. Eu sonhei dessa vez, eu estava lá com você […]”.


Taehyung voava acima das nuvens.

Sem peso, sem preocupações, sem nada a não ser a brancura fofa a cercar sua pequena espaçonave.

Viajava numa bolha de sabão. Acima de tudo, mais leve que tudo, uma pluma só alma.

E, a gravidade se abateu sobre ele, sugando-o e o empurrando para baixo, contra o colchão nuvioso. Por um instante, temeu que seu veículo se rompesse em um rastro de cheiro, mas de algum modo a fina parede resistiu. E desceu.

Desceu, desceu, desceu, chocando-se contra um telhado vermelho. A parede de sabão estremeceu.

Desceu através dele, através do escuro e da umidade, tanta umidade que ela atrapalhava a sua visão. Mesmo assim, viu cachos dourados, um carvalho através de uma janela aberta e sentiu dor, medo e muita raiva. Havia uma cama e alguém agonizando sobre ela, alguém chorando sobre ela.

Como posso trazer ordem a tudo? — Uma voz de menina, uma voz entremeada pelo choro, indagou. — Como?!


A bolha estourou.

V acordou como se emergisse de um mergulho demorado, sentando-se de supetão e bebendo ar como se sua vida dependesse disso. Sua camisa estava empapada de suor.

— Khro… Esse sonho… foi você?

Não. Foi espontâneo. Eu posso criar sonhos, porém jamais sonho. Eu sonhei dessa vez, eu estava lá com você, Taehyung. Eu também ouvi.

— Você acha que era…

O Portal? Não posso precisar a voz, não sou Hasa. Entretanto, a sensação de estar naquele quarto foi deveras parecida com à que senti ao devorar a memória de Aevarast. São existências semelhantes, asseguro. Quanto ao outro ser sobre a cama…

— O Senhor dos Fazrat, Zadha-Rine… Lembro bem da presença maçante dele…

O ponta de lança de Larhen está impossibilitado de combater, e Aevarast-Evanih e Danae-Ie, que poderiam aceleram seu processo de cura, estão sob a influência das trevas. Todos os Lirthua’shoa, exceto Makir-Edash, estão marcados pelas trevas. Entramos num período de calmaria, Taehyung. O Portal se debate, impotente.

Taetae espreguiçou, a boca escancarada em um bocejo longo e desregrado; suas palavras saíram por entre ele:

— Vamos cuidar de… um assunto mais urgente, então… comer. Sinto que vou começar a… devorar a mobilha… se eu não colocar algo… no estômago logo. Talvez, eu coma metade da despensa.

E, da despensa de congelados, e da adega. Tem coisas lá que eu jamais provei. Vamos provar, Taehyung.

— Ok, depois… vamos procurar notícias de Jimin-ah… e Hasa-Ithor-nim e… ver a noona. Quero vê-la logo…

*     *     *

“O caminho que nos aguarda […] fará a nós e àqueles que amamos sangrarmos vida e choro.”.

Às nove e quarenta e três da manhã, a princesa Giovanne bateria à porta, pedindo por comida (especialmente doces). Seokjin não tinha mais doces em seu quarto — seu pequenino estoque acabara durante a madrugada —, então a garota iria até a cozinha e depois passaria na despensa. Não iria encontrar nenhuma guloseima por lá, assim como nada para comer. Khro e Taehyung, que teriam perdido o controle ao tentar saciar sua fome negra, seriam os responsáveis por não haver nada nos armários, nas geladeiras nem nas despensas. (Dizer que o estômago do Hagar da Amizade era como um buraco negro não seria exagero, e não era culpa de ninguém. Só um fato difícil de lidar, inclusive para o próprio Khro. Ele sempre se sentia péssimo por tirar comida da boca dos amigos.)

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⏰ Última atualização: Aug 05, 2019 ⏰

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