Capítulo IX - Súplica à Égide: o Cavalo do Rei se Move

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Guiado pela voz
"Como um sussurro, diga no meu ouvido..."

[Enquanto J-Hope e o Senhor dos Hagar ainda estavam trancados no closet...]

Jimin ainda estava de molho na cama, deitado em posição fetal, de olhos fechados e embrulhado nas cobertas. Apesar de não sentir sono algum, não tinha vontade de sair dali — o mundo fora daquelas paredes agora lhe parecia assustador e frio — e não era necessário que saísse, pelo menos não até que o Hagar da Confiança e da Carência recebesse ordens para agir. Suspirou, enroscando-se mais em si mesmo, aproveitando o quanto podia do conforto daquele macio e breve refúgio, aproveitando o conforto daquele abraço. O grupo estar de folga era a melhor coisa desse dia...

Quanto a Hasa-Ithor, ele havia se desfeito da imitação faiscante de seu Jiminnie e retornado para dentro dele e agora cantarolava Best of Me, tão baixinho e suave que parecia uma autêntica canção de ninar. Sua presença era como uma cálida manta a envolver o coração dele. Se a intenção era abrandar o espírito de seu desnorteado hospedeiro, estava se saindo bem.

Tais palavras ecoaram baixas e melodiosas aos ouvidos de ambos:

Algo, por favor, me salve, por favor, me salve...

Música?! Hasa-Ithor se sobressaltou, parando de cantarolar, e Jimin abriu os olhos, sentando apressado e mirando em volta, arisco e receoso, à procura do intruso que tinha invadido o quarto (nesse caso, intrusa, pois a voz era de menina). Não encontrou ninguém, no entanto. A voz continuou — mais do que ecoar ao seu redor, ela o atravessava:

É interminável, mesmo se eu tentar fugir, eu caí em uma mentira.

É a minha música. Frisou Dooly, intrigado. De onde vinha aquela voz? Por que podia ouvi-la? Será que passaria a escutar vozes? Engoliu em seco. Hasa-It- Se deteve, pois o Hagar havia insistido que o tratasse de modo informal. Hasa-yah, estamos ouvindo essa menina por causa das suas habilidades?

Hum... É verdade que posso fazer o que eu bem quiser com todos os tipos de ondas, incluindo ouvi-las, mas não estou fazendo nada agora, Jiminnie. Foi essa voz — lindíssima, diga-se de passagem — que nos encontrou, não o contrário.

Liberte-me desse inferno...

Com notas de comoção ora mais acentuadas, ora mais incertas, a voz falhava, evidenciando a presença de um choro crescente. Isso dissolveu os receios que Jimin nutria por causa do caráter insólito daquela situação e o deixou sinceramente preocupado. Tinha uma garota — provavelmente uma ARMY — chorando, e era um pranto visceral. Por que ela estaria chorando? Curiosamente, saber a resposta dessa pergunta lhe pareceu mais urgente do que exorcizar suas próprias dúvidas e demônios. O Hagar da Carência acrescentou:

Linda e... também um tanto triste. A pobrezinha parece estar sofrendo muito.

Mas por quê? Podiam ouvi-la cantar, mas será que podiam fazer alguma coisa para ajudá-la? Podiam? Como saber? Quão longe ela estava? Onde ela estava? Onde?

Por favor, salve o eu que está sendo punido.

Movido pela necessidade já forte e mais e mais crescente de ir até a dona da voz misteriosa que o afligia, Jimin se levantou e foi apanhar a muda de roupas que Jin havia deixado cuidadosamente dobrada sobre o baú aos pés de sua cama. Eram as mesmas que usara na noite anterior — camisa de mangas longas com estampa zebrada, uma camiseta branca e calça skinny preta — e estavam tão impecáveis que faziam o relato que ouvira dos Ak'hagar e também as reminiscências que captava através de sua ligação com Hasa-Ithor parecerem mera fantasia. Vestiu-as depressa, calçou as botas, despejou um pouco da água da jarra que estava sobre a cômoda ao lado da cama nas mãos, molhou o rosto e se virou para a porta do quarto, finalmente se detendo. Esse não é o melhor caminho, é?

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