Capítulo VI - Ante as Imagens

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Diante da figura de terra

J-Hope estava uma pilha de nervos. Por que raios tinha que ter aberto a boca? Se tivesse se controlado e se contentado em admirar o teto em silêncio, não teria visto aquele brilho na mão de Jin e agora não estaria encerrado no closet com aquele espírito, que pairava a poucos centímetros do chão, bloqueando a saída. Um espírito! Ai, mamãe!

— E- então... — começou Hobi com a voz vacilante e os lábios tremendo de nervoso, os olhos enormes. — Vou estar mentindo se eu disser que não estou assustado com toda essa história de ter um ser megalomaníaco querendo destruir o universo, espíritos e coisa e tal...

— Hoseok — Berat-Enira o chamou, a voz suave, e J-Hope, que zanzava de um lado a outro pelo estreito corredor do closet, continuou seu falatório sem nem perceber:

— Mas, quero que saiba que acho muito nobre o que você e seus amigos fazem...

— Hoseok — Ak'houan-a-rae tentou de novo, e outra vez o rapper não o escutou.

— Quer dizer, proteger o universo e todos os zilhões de seres que existem nele deve ser um trabalho para lá de complicado...

— J-Hope! — Dessa vez, Smile Hoya ouviu o chamado de Berat, parando de andar. — Por favor, não torne tudo mais difícil.

— Mais difícil? — J-Hope deu um sorriso de mostrar todos os dentes, que logo se converteu em uma careta desesperada. — Por acaso você está pretendendo sugar o meu cérebro e devorar o meu coração para usar minha carcaça vazia? Porque mesmo que seja pelo bem das pessoas, eu não gostaria de morrer assim!

A reação de Hagar'miresa foi a última que o rapper esperava. Ele começou a rir, um riso descontraído daqueles que vem lá do fundo, segurando a barriga de terra e barro.

— Ai, que ideia! Vocês, jovens Crianças de Ak'Mainor, são mesmo criativas... Mas, não, eu não farei nenhum mal a você, Hoseok. Me admira isso, pensava que você tivesse mais fé nos outros e esperança no futuro.

— Mas eu tenho muita fé e esperança — objetou Hobi, pondo a mão em concha ao lado da boca. — Só que elas correm para debaixo da cama quando escuto algo como "fantasma", ou "alma penada", ou "espíritos ancestrais".

— Nós, os Ak'hagar, não somos almas mortas, somos seres espirituais e estamos vivos, assim como você e seus companheiros. Simplesmente, não temos forma física.

— Huuuuum, legal...

— Hoseok, não lhe farei mal — assegurou Berat, a descontração que havia tomado a voz e as feições terrosas dele acabou por se desvanecer em indisfarçável melancolia —, dou-lhe minha palavra e juro pelos nomes de Akasha e Akisha. Então, por favor, conversemos seriamente. Enquanto estamos aqui, vidas se perdem.

— Como assim? — Enfim, Ak'houan-a-rae tinha a atenção de Jung Hoseok.

— Para além dos Lirthua'shoa terem escapado, Edoras já havia sido liberada na Terra das Lágrimas, local onde mantive os servos de Larhen-Edriza lacrados por mais de sessenta e cinco milhões de anos. Seu povo o conhece como Egito. Os Shoa infectaram algumas centenas de Filhos de Menora ao se libertarem, e agora já são dezenas de milhares os caídos, e o número continua a crescer a cada minuto que passa.

— Mas por quê? — Hobi voltara a deambular pelo recinto, era só agonia. — Por que vocês não os impedem? Não é o seu trabalho?

— Acredito que Qenía tenha lhes explicado que precisamos de corpos físicos para atuar nesse plano... — Hoseok assentiu, passando as mãos pelos cabelos. — O sacrifício de nossas liberdades, esse foi o preço que paguei para impor a Prisão de Carne a Larhen-Edriza e seus servos. Por causa disso, não podemos fazer nada sem nossos hospedeiros. Se qualquer um de nós tentasse lidar com os Lirthua'shoa ou com Edoras sem um corpo, seria automaticamente banido dessa dimensão e não conseguiria retornar por muitas gerações de homens. Somos poucos, não podemos arriscar.

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