Capítulo X - Suplício da Égide: o Cavalo da Rainha se Move

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Guiado pelo egoísmo

Jungkook olhou em volta, à procura de um lugar seguro (seguro igual a deserto, no qual pudesse se esconder), e correu logo que o avistou, correu o mais rápido que pôde. Tratou de sair depressa dali, costurando por entre a multidão desesperada e fugindo da quadra esportiva pelos fundos. Teve vislumbres horripilantes pelo caminho: dedos sendo mergulhados em globos oculares, cabeças rachando contra a dureza do chão de concreto, um pescoço canibalizado... Teve uma sorte imensa pelos infectados pela praga das pragas não o terem seguido. Ele passou voado por um pátio vazio com bancos revirados, havia um portão mais adiante, mas o maldito estava fechado com um cadeado dos grandes. O Bangtan Boy continuou a correr, enveredando por um corredor à esquerda do acesso.

Foi parar em um estacionamento. Não havia nenhum daqueles infelizes de pele azeitonada por ali. Podia ter se escondido em meio aos carros, debaixo de um, porém se deteve. Algumas pessoas haviam ido atrás dele e faziam exatamente o que havia pensado. Trincou os dentes, descartando aquela ideia. Muita gente junta poderia atrair aquelas coisas, seria um erro ficar ali. Precisava de outro lugar. Outro lugar... Procurou ao redor, avistando o outro extremo do estacionamento. Passando uma cerca, havia um quiosque rodeado por alguns arbustos, tinha até raias de piscina enroladas penduradas sob ele. Olhou para trás, ninguém estava em seu encalço, então foi apressado se esconder lá.

Finalmente alcançou o quiosque, ele ficava de cara para a piscina, teve que se abaixar atrás das raias para que ninguém o percebesse e procurou pelo cantinho que melhor o ocultasse. Acabou escolhendo um dos arbustos, ele bloquearia a visão de quem estivesse no deque da piscina e as raias cuidariam de escondê-lo da vista de quem estivesse no estacionamento.

Se dobrou à sombra das folhas, entontecido. Sentia ânsia de vômito e só então se deu conta de que chorava. Como se chorar adiantasse de alguma coisa... O sal das lágrimas irrompia de seus olhos e os fazia arder, tornando ainda mais insuportável o amargor da bílis a empestear sua garganta. Teria vomitado se tivesse algo em seu estômago, mas nem isso tinha, só aquele misto de enjoo com desespero. Como Jimin pôde largá-lo ali? Esses espíritos ancestrais... Isso é tudo culpa deles! Um acesso de tosse o acometeu, então tapou a boca para reprimi-lo o máximo possível. Quieto, tinha que ficar quieto. Quando tudo acabasse, aquelas criaturas iriam embora, atrás de mais vítimas, e poderia pensar no que fazer.

— "Você sempre dá conta, não importando qual seja o desafio." — Zaku-Zaoh repetiu as palavras de Jimin, falseando a voz dele. O maldito flutuava de pernas cruzadas sobre uma cadeira que estava recostava à árvore mais próxima do quiosque. O tronco não o ocultava completamente, mas passaria batido desde que não se mexesse. — Aquela Criança devia estar devaneando, não me admira que tenha sido escolhida por Hasa...

— Você enlouqueceu se acha que eu vou mesmo enfrentar aquelas coisas! — Jungkook retrucou com a voz afetada pelo choro e pela tosse, segurava-se para não gritar.

— Não acho — disse Zaku, fitando as unhas —, apenas calhei de ser arrastado para cá com você. Além disso, pouco se me dá a sua covardia. Não terá de enfrentar nada, pois não permitirei que o faça. Auxiliar Sua Excelência Akisha é dever dos Ak'hagar, meu dever, não seu. Você é apenas um instrumento para a manifestação do meu poder. Agora de pé, que não tenho tempo para sua crise autocomplacente.

A atitude do Hagar fez com que o coração de Jeon Jungkook, até então disparado, se acalmasse. O pavor que o oprimia se converteu em pessimismo extremo e o ultrapassou, convertendo-se em indiferença. Uma pedra, não seria estranho dizer que isso foi o que seu coração se tornou. As lágrimas a molharem seu rosto se fizeram invisíveis sob a frieza de seu olhar. Disse:

— Como você fez questão de ressaltar: é seu dever, não meu. Fique à vontade para cumpri-lo sem mim.

— Não teste a minha paciência, moleque-

Yggdrasil - Demasiadamente HumanoOnde histórias criam vida. Descubra agora