Interlúdio - Relicários de Almas

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Doze aos pés do Portal

Num país que não direi qual, numa cidade que direi muito menos, numa rua qualquer, havia uma casa. Se era pequena ou grande, bonita ou feia, funcional ou confortável não era o cerne da questão, não nesse momento, pelo menos.

Nessa casa morava uma menina e, como muitos dos jovens Filhos de Menora, ela carregava fragmentos de outras almas dentro de si. Até aí nada de muito relevante, todas essas novas anomalias universais carregavam um pouco de umas das outras dentro de seus corações, mas essa menina era especial por dois motivos: trazia em si um fragmento de alma de cada um dos recipientes dos Doze Lirthua'shoa e havia sido em sua carne que se manifestara a brecha para o local que estava além do espaço e do tempo, ao redor do qual essas grandezas se encontravam, o túmulo do coração envenenado de Yggdrasil, a prisão de Larhen-Edriza. Ela era o Portal.

— Tao, ainda vai demorar muito? — indagava ela pela quinta vez, mirando a porta principal. Estava sentada no alto da escada, com os cotovelos sobre os joelhos, o rosto apoiado nas mãos e a expressão ansiosa.

— A qualquer minuto, senhorita Natasha — repetiu Aevarast-Evanih, o Fazr'sho do Tempo, pacientemente. Estava recostado ao corrimão das escadas, logo a direita do Portal, em vigília. Uma fumaça cinzenta, marca registrada do Edor'sho do Atalho, surgiu diante da porta fechada. — Viu? — Silhuetas abaixadas, retraídas e tombadas se destacavam à medida que se dissipava. Evanih franziu o cenho.

Natasha gritou e desceu correndo as escadas.

— Pobrezinhos, quem fez essa maldade com vocês?! — Quis saber ela ao jogar-se no chão, abraçando Natrahe-Tacathie e Maleeon-Hohi e olhando perdida para os outros. — Por quê? Não entendo...

— Os serventes do Senhor do Caos — respondeu Gama-Tash, envergonhado —, Ak'hagar.

— Sehun... Quer dizer, então, que estiveram numa batalha?! — Os olhos azuis de Natasha cresceram. Ela ainda não entendia bem toda a situação, porém sabia sobre Ak'Mainor-Menora e seu séquito de espíritos maníacos. Já não a admirava o estado de seus ídolos, pobrezinhos.

— Vossa Excelência... — Natrahe murmurou, tocando a face da menina antes de desfalecer nos braços dela. Maleeon já estava incônscio.

— Chen... Kai! — Natasha começou a chorar, recostando a bochecha nos cabelos do Edor'sho do Atalho e perguntou quando o Senhor dos Fazrat, Zadha-Rine, se abaixou ao lado dela — Eles vão ficar bem, não vão, Kris? Não vão?

— Claro que sim, senhorita — disse ele, enquanto ele e Makir-Edash, o Fazr'sho da Levitação, retiravam os Shoa do Atalho e do Raio dos braços da menina. Ele fez uma careta ao ver que a alvura da pele e do vestido dela havia sido maculada pelo sangue deles, mas sorriu e continuou, cordato e solícito — Deixe tudo sob meus cuidados. Um pouco de repouso lhe fará bem. Luhan irá acompanhá-la.

— Não precisam de mim? — O tom dela foi de decepção, quase tristeza.

— Sempre. — Zadha alisou a bochecha dela com as costas da mão, cuidando de remover uma mancha de sangue. — Mas já se emocionou demais hoje, não é saudável. Deve estar sempre calma e radiante. Deixe comigo, senhorita, cuidarei de tudo.

— Está bem — Natasha deu o braço a torcer e se levantou —, mas quero que quem fez essa maldade pague.

— Irão pagar. Eu prometo que irão.

A menina se deixou conduzir por Makir-Edash pelas escadas.

Assim que os dois desapareceram da vista, o general dos Fazrat'shoa se voltou para os companheiros caídos. Os traços de sorriso e cordialidade haviam desaparecido de seu rosto. Disse, focando seu olhar frio no Senhor dos Edoras:

Yggdrasil - Demasiadamente HumanoOnde histórias criam vida. Descubra agora