Capítulo XIV - Coração Confuso

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"Fica firme, Gio. Você tem que cuidar da Mari".

Ao recobrar os sentidos, Giovanne não abriu os olhos de imediato. Seu corpo estava todo dolorido, como se tivesse sido massageado por um rolo de macarrão furioso.

Não conseguiu pensar em nada por alguns instantes, mas logo sua mente começou a clarear. Lembrou-se do jogo, dos monstros esverdeados, de ter sido espancada por eles, de suas amigas ficando iguais a eles — céus, suas amigas! O que será que havia sido feito delas? —, da onda d'água que os engoliu, de Jungkook...

Jungkook.

Aquele era mesmo ele? Se era...

— EU ENFIEI MESMO A MÃO NA CARA DELE?! — berrou Giovanne, sentando-se de supetão, os olhos arregalados.

— De quem?! Enfiou a mão na cara de quem, Gio?

Mari? Giovanne estranhou, ela não devia estar na peça?, e se virou na direção da voz.

Marianne estava mesmo ali, logo a sua direita, com o notebook apoiado sobre as pernas cruzadas e uma expressão assustada no rosto. Ela ainda estava com as mesmas roupas que usava pela manhã — blusa manga de sino roxa e jeans —, diferente de Gio, que tinha tido seu uniforme preto e branco do time de futebol substituído por uma camisa cinza de mangas longas que parecia mais um vestido nela — e que por sinal ela jamais havia visto. A visão da porção de travesseiros e almofadas em que Marianne se recostava fez com que a mais nova percebesse que estavam sobre a mesma cama, e era uma puta cama! Tão grande que fazia a do quarto de seus pais parecer um bercinho de maternidade.

Logo, não estavam em casa, na enfermaria de seu colégio, muito menos num dos quartos de hospital do SUS. Mas, então, onde estavam?

Giovanne deu uma boa olhada ao redor.

O quarto não era especialmente grande. Tinha espaço o bastante para comportar a cama, ambas as mesinhas de cabeceira, uma bancada de trabalho com computador, tablet profissional e outros materiais de desenho alinhada à parede à esquerda da cama, uma bateria à direita e as estantes onde livros, CDs, DVDs, troféus, bonecos e miniaturas de plastic models dividiam espaço a ladearem a porta no centro da parede na outra extremidade do recinto. Uma segunda porta, que provavelmente dava para um closet, quem sabe um banheiro, ocupava o restante de espaço vazio na parede direita, e um par de grossas cortinas, ambos os lados da parede atrás da cama.

Giovanne o achou aconchegante não apenas pela funcionalidade, como pelos tons: mármore azul-claro ia do chão ao teto, a brancura dos móveis contrastava com a cor turquesa das cortinas e da roupa de cama. Aquele era o quarto dos seus sonhos sem tirar nem pôr, o que era ridículo! Nunca o havia descrito para ninguém, não com aquela precisão de detalhes.

— Mas onde é que a gente tá?! — bradou Giovanne ao se deparar com um urso de pelúcia gigante (que por sinal combinava com as paredes) sorrindo sobre os travesseiros, logo atrás dela.

— Num lugar seguro — respondeu Marianne. Ela havia voltado a mexer no computador, como se estivesse tudo na maior normalidade.

— Ok, mas onde exatamente fica isso?

— Não faço ideia, também acordei aqui.

— Então como sabe que é seguro? — Ruguinhas de espanto surgiram na testa de Gio. — Você já tentou explorar por aí?

Marianne negou com um aceno de cabeça.

— Sei porque uma das pessoas que me salvou disse que seria seguro, e eu confio nela.

— Salvou? Não me diga que aquela gente esverdeada também te atacou!

— Também...? — Marianne prosseguiu, pensativa, parecendo dizer mais para si mesma do para a irmã — Então, minha dedução estava certa, você realmente é o outro Fragmento de Ak'Mainor...

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