11 - RAPTO

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O olhar de medo, que antes estava estampado no rosto de Iara, havia sumido. Agora tudo o que conseguíamos ver era a mesma inocência que ela tinha quando a conhecemos. A pergunta que ela nos fez estava agora no fundo do meu subconsciente. Quem nós éramos? Assassinos de seus pais. Era a resposta que me vinha a mente. Mas não fomos nos quem os matou, fomos encurralados, mas nós os envolvemos nisso. Era nossa culpa. E tudo estava caindo de uma vez como um castelo de cartas. Dei um passo para trás com a mão na cabeça após a pergunta.

Foi Dan quem a respondeu.

_Somos seus amigos, você não nos reconhece?

_Hm? O que ele disse? – Disse ela direcionando o olhar para mim. Ela não falava inglês como seus pais.

_Nós... – Comecei incerto. Todas as lembranças de Iara ainda estavam fervilhando em minha mente e toda a sua lógica infantil ainda estava na minha cabeça. Para a Iara de alguns minutos atrás éramos monstros, mas para essa Iara, dei uma resposta diferente. – Somos viajantes... Você lembra do seu nome? – Forcei um sorriso.

Ela ficou quieta por um momento, parecia estar procurando a resposta em sua cabeça. Por um momento desesperador fiquei com medo de ter roubado até seu nome mas, por sorte, ela acenou com a cabeça.

_Sou Iara! – Disse ela no meio de um sorriso como a primeira vez.

_Okay Iara, eu sou Kennedy, mas pode me chamar de Ken e esse aqui é o Daniel, ele não sabe falar português.

_Ele é estrangeiro? Uau! – Seus olhos começaram a brilhar como se essa informação fosse única na vida e Dan fosse alguma espécie de animal raro que ela nunca tivesse visto. Ela correu até ele e começou a andar ao seu redor rindo com a nova descoberta.

_Ela parece bem pra mim – Disse Dan olhando para a criança que corria em círculos – Bem até demais não acha? – Ele levantou uma das mãos e uma pequena sombra correu sob os pés de Iara fazendo com que ela caísse de cara no chão.

_Dan! – Gritei com ele e fui até Iara ver se ela estava bem.

_O que foi? Ela já estava me dando nos nervos... eprecisamos sair daqui esqueceu? – Disse ele já andando para dentro da floresta.

Iara não chorou nem esboçou nenhum sinal que estivesse ferida ou assustada. Ela apenas olhou para onde tinha tropeçado e voltou a correr em volta de Dan como se nada tivesse acontecido.

_Ela é bem... insistente! – Disse ele parando e cruzando os braços.

_Dan, não seja criança.

_Relaxa, não vou machuca-la.

_Iara precisamos sair daqui você vem conosco?

_Não... – Disse ela ainda correndo ao redor de Dan – Preciso esperar meus pais aqui, eles logo virão me buscar.

Dan moveu apenas um dos dedos e a sombra correu sob os pés de Iara novamente, mas desta vez, antes que tropeçasse ela pulou no momento em que a sombra passou e soltou uma gargalhada.

_Hm, essa pirralha...

Ela parecia decidida. Traduzi o que Iara havia falado para Dan e, como era esperado, ele também não soube o que dizer a ela.

_Não podemos continuar aqui e não podemos deixar essa tampinha para trás. O que vamos fazer? – Perguntou Dan que agora usava as duas mãos para tentar parar Iara que corria ao seu redor enquanto se desviava das sombras de Dan.

_Eu não sei, apenas deixe me pensar um pouco.

Iara ainda estava convencida que seus pais a encontrariam e a levariam para casa novamente e não seria eu a contar-lhe o que havia roubado de suas memorias. Mas por outro lado ela estava irredutível e nada do que tentávamos lhe convencia a ir conosco.

Os 7: O HerdeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora