No outro dia, quando Alessandra acordou, assustou-se por ver a cama de Fátima vazia e arrumada. Apavorada, ligou para a padaria e foi informada, por um dos funcionários, que ela já estava trabalhando. Mais aliviada, tomou um banho rápido, vestiu-se e foi até o primeiro andar. Estava curiosa para ver como ela se levantara.
_Adivinha quem está trabalhando desde as cinco da manhã e voltou a fazer aqueles gestos estranhos?_comentou Alba com ar penalizado._Minha querida, pode se preparar para um longo caminho até unir essas duas...Cláudia e Fátima, pode apostar.
Alessandra olhou para a mesa que Alba indicava e viu Cláudia sorrindo para um freguês, enquanto anotava o pedido. A médica resolveu agir naturalmente e foi sentar-se na mesa de costume e esperar a moça vir servi-la.
_Bom dia, moça bonita!_Fátima a cumprimentou com um largo sorriso._Quer dizer que, agora, além de ter pesadelos, eu me tornei sonâmbula?
_Como disse?_Alessandra a olhou confusa.
_Sonâmbula...aquela pessoa que anda dormindo...parece que eu saí do meu quarto ontem à noite e voltei para o quarto da Alba, onde você está dormindo, pois acordei lá hoje, você não viu?_Fátima olhou a médica sorrindo e com a mão na cintura, enquanto esperava ela fazer o pedido._O de sempre?_falou sem esperar Alessandra responder.
A médica assentiu e notou que ela conservara o hábito de arranjar suas próprias desculpas para justificar as suas crises. Fátima voltou com a bandeja e sentou-se animada.
_Hoje deveremos virar a noite fazendo salgados, doutora. Alba recebeu mais duas encomendas enormes de salgados para outras duas festas!_Fátima estava mesmo animada.
_E tudo isso ela deve a você, que entregou aquela encomenda enorme quase sozinha._disse Alessandra começando a tomar o café.
_Não foi nada._disse Fátima levantando os ombros com desdém._Eu adoro cozinhar e me sentiria péssima se visse a Alba perder esse negócio que ela diz sonhar há anos.
A psicóloga quase engasgou com a pergunta seguinte:
_Quando vai embora?
_Ahn...não sei ainda...por quê?_novamente Alessandra sentiu-se triste por ver que a moça demonstrava certo interesse em que ela partisse.
_Por nada...só curiosidade..._mentiu saindo para buscar o pedido da médica.
Alessandra ficou imaginando como conduzir a situação, visto que parecia que a moça queria que ela fosse embora logo e visto que Alessandra queria se aproximar mais dela. Esperou a garota voltar.
_É impressão minha ou você está tentando me evitar?_perguntou a médica pegando a moça de surpresa.
_Bom...eu...me desculpe..._Fátima começou a gaguejar e ficou vermelha.
De repente, enquanto colocava os pratos com os pãezinhos sobre a mesa, derrubou um copo de suco e molhou toda a toalha, indo sujar a roupa de Alessandra.
_Oh, meu Deus! Me desculpe...eu estou meio distraída hoje, não sei por quê..._Fátima começou a limpar a mesa envergonhada.
_De repente você não dormiu bem à noite..._insinuou a médica.
Diante do silêncio da garota, a médica continuou.
_Não precisa se preocupar...volto lá em cima e troco a blusa depois.
Fátima terminou de limpar a mesa e saiu cabisbaixa. Alessandra viu quando ela colocou a bandeja sobre o balcão e saiu cochichando algo com Alba. A médica não perdeu tempo e foi falar com a irmã.
_Alba, o que aconteceu? O que ela disse?
_Disse que você a pressiona demais...diz que você fica olhando pra ela, como se a analisasse..._disse Alba recolhendo alguns copos que estavam sobre o balcão.
_Mas eu não faço isso..._retorquiu Alessandra.
_Faz sim...você a tem acompanhado com os olhos enquanto ela servia a outra mesa, a acompanhou quando ela veio pra sua mesa, a acompanhou quando ela saiu e quando ela voltou...ela percebeu o seu interesse por ela e ficou incomodada. Diz que você parece estar a analisando e que isso a incomoda. Dá pra ser mais discreta?
Alba saiu com os copos numa bandeja. A irmã a seguiu.
_Onde ela foi?_perguntou Alessandra.
_Pediu quinze minutos para ir ao banheiro...nem pense em ir atrás dela. Volte pra sua mesa, tome o seu café e desapareça ou quem vai desaparecer é ela, acredite. Nós duas sabemos que ela não dormiu direito e que teve uma noite de cão. Ela não sabe disso, mas duvido que não tenha o corpo moído da noite mal dormida e da chuva que tomou. Dê um tempo a ela, Alessandra.
Alessandra fez justamente o que a irmã falou. Talvez ela estivesse certa. Talvez, sem perceber, estivesse monitorando as atitudes da garota o tempo todo e a estivesse assustando. Resolveu relaxar e esperar mais um pouco.
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NOVOS RUMOS-Armando Scoth Lee-romance lésbico
Romance"Não importa quantas vezes você tiver que recomeçar a sua vida. Se você focar no amor, você sempre será feliz." É confiando nesta máxima de sua falecida esposa Élida que a psicóloga Alessandra dará início a sua busca pela felicidade. Em sua jornada...