NOVOS RUMOS-Armando Scoth Lee-romance lésbico

CAPÍTULO 22-ALESSANDRA DECIDE AFASTAR-SE DE FÁTIMA

 A médica decidiu se afastar do quarto de Fátima que ficava no andar de baixo por alguns dias. 

A irmã lhe informou que o estado da garota melhorara e que ela pretendia retomar as atividades na padaria no dia seguinte. Pediu, porém, que Alessandra se mantivesse distante dela, pelo menos até a garota decidir se reaproximar. Em caso de dúvidas, Alessandra resolveu atender o pedido da irmã, visto que não sabia como agir com a moça.

No dia em que Fátima voltou a trabalhar na padaria, Alessandra tinha saído com Henrique para buscar material para o estabelecimento e, por isso, só foi se encontrar com a moça na hora do almoço. A médica ficou olhando a moça servir as mesas, com o uniforme azul e branco, com o sorriso solto e com a touca branca escondendo os cabelos. Sentou-se numa mesa distante, esperando que ela se aproximasse sorrindo.

_E aí? Gostaria de fazer o seu pedido agora, moça bonita?

Era estranho ouvi-la falar assim, como se elas não tivessem tido aquele atrito há alguns dias. Novamente, a médica ficou sem saber se ela se esquecera ou se estava fingindo. Fez o pedido e ficou olhando a garota anotá-lo. As unhas estavam roídas severamente e a garota parecia ter emagrecido um pouco.

Serviu Alessandra sem dizer nada e saiu a deixando novamente confusa. A semana passou, sem que Alessandra conseguisse se reaproximar de Fátima.

A garota levantava-se cedo e  recolhia-se cedo. Não quisera voltar para o segundo andar e Alba, mesmo contrariada, aceitara a decisão dela. Alessandra acreditava que a moça queria se manter o mais distante possível dela, esperando que ela fosse finalmente embora e a deixasse retomar o lugar que ocupava no quarto de Alba.

Um dia, a padaria recebeu uma encomenda enorme de salgados para serem entregues no final de semana. Alessandra viu todos se esforçarem para dar conta do serviço, mas parecia que o destino estava contra os donos do estabelecimento, pois, de repente, o restaurante só ficava lotado e as pessoas iam e vinham atarefadas em servir as mesas e preparar a comida. 

Num outro dia, a psicóloga pegou a irmã discutindo com um dos salgadeiros que, nervoso, disse que pedia demissão e que não trabalharia mais ali. Desesperada, Alba pediu desculpas, mas o rapaz não quis conversa. Saiu sem olhar pra trás.

Alba passou o avental no rosto e olhou o corre-corre das funcionárias pela cozinha até o final do dia. Os salgados deveriam ser entregues no outro dia, pela manhã e, por mais que todos se esforçassem, ficara claro que não daria para atender a encomenda. Finalmente, ao final do dia, Alba levantou as mãos para o alto e exclamou:

_Ok, chega! Vamos ter que completar os salgados com os do Tino, pois não vou manter a minha equipe de plantão a noite inteira e amanhã ter gente derrubando as bandejas sobre os fregueses. Pronto. Gostaria de agradecer a todos, mas vamos desistir. Não há como terminar isso dentro do prazo sem prejudicar vocês. Podem ir pra casa e, Cláudia, ligue para a padaria do Tino e encomende os salgados que faltam. Sei que ele é o nosso maior concorrente, mas, fazer o quê. Quando terminar, Cláudia, por favor feche tudo e  pode ir dormir. Eu estou arrebentada e não dou mais um passo._disse Alba saindo da cozinha visivelmente derrotada por ter que recorrer à padaria concorrente.

Todos foram dormir e Fátima ficou olhando o telefone da padaria vizinha na mão. Sabia como era importante para Alba entregar aquela encomenda no prazo e que completar os salgados com os do concorrente poderia causar problemas a ela. 

Fátima não teve dúvidas. Fechou todo o estabelecimento, apagou as luzes do lado de fora e se trancou dentro da cozinha. A moça enrolou salgados durante toda a noite, numa precisão e rapidez que até ela mesma desconhecia.