_O que você queria que sua mãe fizesse?_perguntou a psicóloga olhando a moça deitada em seu divã.
_Queria que ela notasse as marcas que o meu namorado deixa em mim...queria que ela se lembrasse de perguntar se a minha dor de cabeça melhorou...queria que ela perguntasse, pelo menos uma vez na vida, se eu estou bem ou se gostaria de descansar mais um pouco...queria que ela reconhecesse tudo o que eu faço por eles e me amasse um pouquinho, ao invés de me ver sempre como a empregada da casa._desabafou triste.
A moça estava usando as mesmas roupas de sempre, mas agora estava de tênis novos, que a amiga lhe dera. Os olhos estavam fundos, os cabelos opacos e parecendo tristes, como a dona, as unhas roídas, como sempre.
_Ela te ama, do jeito dela, acredite._tentou a psicóloga cautelosamente.
_Onde viu isso? Num comercial do Dia das Mães? Num desses livros grossos que estão na sua estante atrás de você?_Fátima a olhou profundamente._Pois quer uma novidade, doutora? Seus livros e seus professores mentiram, sabia? Nem todas as mães amam seus filhos e a minha é uma delas.
A psicóloga fizera o papel dela, apesar de acreditar que a paciente estava certa ao dizer que sua mãe não sentia nada positivo em relação a ela.
Decidiu mudar de assunto:
_Não quer falar do Marcos agora? Não quer me contar o que ele quer que você faça e que tem te causado tanta repulsa?
_Se prometer me passar aquele antidepressivo..._chantageou a garota.
A médica não gostava de antidepressivos...preferia uma boa conversa, uma boa caminhada, uma viagem, encontro com os amigos...mas admitiu que talvez estivesse errada. Talvez a garota realmente estivesse precisando de antidepressivos, mas a própria Alessandra sentia-se deprimida naquela noite.
_Ele já te apertou, algemou, lhe fez marcas das quais você não quis falar como as conseguiu...qual a nova exigência sádica do seu namorado, Fátima?
A garota deitou-se de barriga pra cima e suspirou derrotada: tinha que contar pra médica, já que não tivera coragem de contar nem pra melhor amiga.
_Que tal ele me pegar por trás, mesmo sabendo que eu não gosto e depois querer enfiar tudo na minha boca? Que tal ele falar que quer ver como eu me comporto ao provar dos meus próprios fluídos? Ele vive pedindo isso...mas eu ainda não quis fazer...pois acho isso...repulsivo...nojento!_ela tampou o rosto.
Fátima começou a chorar.
_Reconsidere abandoná-lo, novamente._aconselhou pela milésima vez.
_Já lhe disse, não se lembra? Ele me mata se eu o deixar! Mas primeiro, ele diz que matará o Same...ele é policial, lembra-se? Disse que balas perdidas encontram garotos brincando na rua todos os dias. Não posso deixar que ele machuque o Same!_desabafou aflita.
A médica esperou que a garota chorasse mais um pouco. Faria bem a ela.
_O que a Lana te aconselhou fazer?
_Não contei a ela...não posso contar a ela. Sangue quente...vai querer matar o Marcos.
_A Lei Maria da Penha..._tentou a médica.
_Só funciona pra ricos e olhe lá, não lê os jornais? Que valor tiveram as tais medidas protetivas para aquelas que foram procuradas nas ruas e mortas? Dois casos só lá no meu bairro. E, como ele é policial, nem vai dar nada pra ele...pois isso aqui é Brasil...e a polícia sempre está certa._falou conformada demais para deixar a médica tranquila.
Alessandra voltou a reconsiderar a sua decisão de não passar antidepressivos. Freud passaria?
_Não é bem assim..._tentou a médica.
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NOVOS RUMOS-Armando Scoth Lee-romance lésbico
Romance"Não importa quantas vezes você tiver que recomeçar a sua vida. Se você focar no amor, você sempre será feliz." É confiando nesta máxima de sua falecida esposa Élida que a psicóloga Alessandra dará início a sua busca pela felicidade. Em sua jornada...