CAPÍTULO 17_ALESSANDRA CUIDA DE FÁTIMA

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 Henrique dirigia com apreensão pelas ruas que os levariam novamente a Novos Rumos. Queria chegar rápido e esclarecer tudo. Não sabia até que ponto a moça poderia ser um problema para a irmã mais velha e mesmo para a irmã caçula.

Alessandra estava tensa e agitava-se no banco de tempos em tempos. Perdera a pessoa que mais amava na vida e, agora, pelo que ela resumira ao irmão, estava prestes a reencontrar uma de suas pacientes mais estimadas, após sofrer com a notícia de sua morte. A médica pedira ao irmão para guardar segredo sobre suas suspeitas até mesmo para Vítor, seu parceiro, até que ela pudesse esclarecer tudo sobre a garota.

A noite já caíra quando, finalmente, eles chegaram a Novos Rumos. Alba veio receber a irmã com um abraço carinhoso.

_Que bom que você resolveu voltar, querida!

_É...Henrique me convenceu a ficar aqui e descansar mais um pouco. Ainda não estou preparada para voltar a trabalhar ou mesmo a entrar novamente na minha casa. É melhor ficar aqui, com vocês, até me fortalecer mais. E aí? Como está a sua protegida?_Alessandra tentava controlar o tom de voz para não levantar suspeitas. 

Não queria que a irmã percebesse que tinha voltado só para ver Cláudia.

_O médico disse que é o início de uma pneumonia, pobrezinha. Ela está muito magrinha, come tão pouquinho e além do mais, como já lhe disse, talvez os pesadelos a deixem sem energia. Eu disse a ela que não precisava se esforçar tanto na cozinha e na padaria, mas ela parece querer ocupar todo os espaços do dia, Alessandra, e só vai se recolher quando o último funcionário fecha o comércio.

Alba entrava lentamente com a irmã apoiando o braço em seu ombro.

_Estive pensando que talvez eu devesse ver essa sua garota, afinal, pelo que Henrique falou e pelo que nós duas conversamos no telefone, ela já é quase parte da família._Alessandra tentou apresentar um tom de quase desinteresse com a irmã.

_Ah, que bom. Eu só teria a agradecer, querida. Ela chegou aqui tão pobrezinha...aquelas roupas que você mandou o empregado dar para os outros, pois é... Ele as deu pra Cláudia, se não se importa.

_Claro que não...eu não me importo._Alessandra conseguiu se conter. 

Seria difícil ver a garota que a confundia tanto vestida com as roupas de Élida.

Alba guiou a irmã até o quarto que dividia com a garota. Bateram na porta, mas ninguém respondeu. Abriram.

_Chiii...pobrezinha. Está tão fraquinha, Alessandra. Deve ter dormido a pouco, pois a tosse a deixa sem fôlego. Quer voltar depois...quando ela acordar?_perguntou Alba ajeitando os cobertores sobre a garota.

Alessandra agora, sentindo a necessidade de desvendar aquele mistério logo, olhou a moça de frente com atenção. Apesar dos cabelos curtos e do semblante abatido, ela não tinha mais dúvidas: aquela era Fátima!

_Se você não se importar, gostaria de ficar um pouco aqui com ela. Henrique disse que ela apresenta um certo grau de confusão mental, quando dorme...alguns pesadelos e diz coisas estranhas. Bom, já que eu quero ajudar, por que não começar agora, não é verdade? Pode ir, Alba. Eu ficarei com sua amiga  um pouquinho.

Alba sorriu satisfeita, vendo o interesse da irmã. Ficava feliz por Cláudia, tendo finalmente a ajuda que precisava e por Alessandra, retomando a sua antiga vocação de psicóloga.

_É claro...pode ficar o tempo que quiser..._Alba beijou carinhosamente a cabeça da irmã.

_Se quiser, pode deixar que eu passo essa noite com ela, Alba. Façamos assim, eu fico aqui, na sua cama e você dorme no meu quarto, o que acha?_disse Alessandra temendo denunciar a sua aflição em ficar aquela noite com Cláudia.

_Ah, seria bom...como eu estou cansada! Com os pesadelos dela toda noite, nem sei que dia dormi durante toda uma noite, acredite. Pode ficar aí então que eu durmo no seu quarto. Se precisar de alguma coisa, é só chamar, tudo bem?

Alessandra fez sinal afirmativo com a cabeça e esperou a irmã fechar a porta para se aproximar mais da cama e se sentar na cadeira que estava encostada no móvel.

A médica pegou a mão direita da garota e olhou as unhas roídas. De repente, a garota se mexeu e se virou de costas para ela. O edredom estampado cedeu um pouco e Alessandra sentiu uma dor enorme ao notar que ela usava uma das camisolas de Élida. 

Tocou, sem se conter, as costas da moça, como se hipnotizada pela lembrança da outra, que tanto se encaixava no corpo moreno e magro, com os cabelos cortados. Fechou os olhos como se pudesse sentir a presença da mulher amada sob suas mãos e acariciou as costas ainda aquecidas pela febre.

_Same..._sussurrou a garota lentamente._Same...desça já desse telhado...olhe os fios elétricos, já te falei pra não soltar pipas aí...

Alessandra parou a mão que afagava as costas e tentou se controlar, pois sentia que a garganta queria explodir num choro sentido, pois a garota a trouxera novamente à realidade: aquela não era Élida...Era Fátima.

Levantou-se devagar, sem fazer barulho e foi agachar-se do outro lado da cama, diante do rosto que respirava profundamente. Cruzou os braços e olhou o semblante que sorria, diante de alguma lembrança boa. Tocou a testa da garota. Ela ainda tinha um pouco de febre. Alessandra sentou-se sobre uma almofada que estava num dos cantos do quarto e aguardou, para ver se ela pronunciava mais alguma palavra. Mas ela se manteve em silêncio até o outro dia.

NOVOS RUMOS-Armando Scoth Lee-romance lésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora