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É fato que o tempo não para, a cronologia não falha. O universo nunca falha, a terra dá voltas completas num prazo de dias. A verdade por trás dos boatos está do outro lado, nos brotos, na beira dos planetas, nunca se sabe de verdade. O mau existe no tempo, um espírito que impõe que temos nossa responsabilidade nessas bombas cronometradas de tragédias. Eu vejo a mentira, porque nunca chegamos perto o suficiente para saber a origem. O tempo não é nosso, porque o homem se insere na razão do universo, brincando com número entre dedos sujos, carniceiros; feito tempo que se pode desperdiçar; um tempo finito mascarado de egoísmo. Portanto, não é a desculpa sem pudor e nem a cronologia que te ajuda nas justificativas desse motivos, o fato de que nunca olhamos imparciais, ou porque nunca enfrentamos a rosa dos ventos, conquistar hemisférios. É tudo por egoísmo, não? Por que negar?

Aprendera a lição de me igualar aos outros, embora desaprendera totalmente as palavras nos lírios, aquelas que me contam o outro lado da história; uma versão provável caso acreditasse. E esse aprendizado vinha da humilhação mútua sobre o incomum, o diferente e o rejeitado. Embora não provassem concretamente a razão de ser no mundo, nos dava a possibilidade de mudar. Eu era diferente. Eu pensei que fosse diferente, porque minha capacidade interpretativa superou a futilidade. Sentia toques inoportunos da Terra chamando meu nome em um grito; um grito de miséria e desastre; talvez não fosse diferente dos outros, me convenci no final.

Jae nunca mais voltou. Muito se especula sobre seu paradeiro. Alguns dizem tê-lo visto numa cidadezinha da costa leste, que fizera tatuagens pelo corpo inteiro como se quisesse passar uma mensagem aos turistas curiosos, com sede de aprender sobre a vida. Outro dizem que foi morar com a avó num país africano, e que agora vive do teatro e da música, uma opção que prefiro imaginá-lo mais do que a outra. E ainda existem aqueles que acreditam em suicídio. Eu não sei. Sinto que não preciso saber. As coisas mudaram. A banda se dissolveu, Wonpil cresceu dez centímetros e teve uma filha, Sungjin ganhara a bolsa no concurso e Dowoonparece saber de alguma coisa, mas nunca diz nada. Eu era o mesmo, ligeira e ironicamente diferente, rebaixado num ego enjaulado e hormônios a flor da pele. Ainda doía, corroendo uma parte do meu cérebro toda a vez que pensava no quanto as coisas tinham mudado ou se tudo não passara de uma revelação inconsciente sobre quem eu era. Meu coração palpitava naquela falta de saber, num ritmo assombrado, e me assustava reconhecer a profundidade e superficialidade de todo o episódio do ensino médio. Parecia que o tempo se atrasava, engano meu, perdido nos dias de glória, papéis perfumados, dobraduras líricas.

Nunca soube o porquê de sua escolha floral. Jaehyung nunca falava sobre flores, ou coisas bonitas num geral. Ele era fútil. Eu era fútil. Nós todos éramos. E não quero dizer sobre a flor em si, mas sim no arranjo floral de pensamentos aprofundados que seres humanos, de dom e maldição, não persistem com fúria. Fácil assim, viver um dia após o outro se espremendo entre os olhos invejosos ou cheios de julgamento a fim de ultrapassar mais uma linha universal de um eixo que NÃO MUDA, só porque as coisas são o que são, ponto final. Mas ele teve a chance de se redimir a si mesmo. Eu estava errado sobre tudo. Sempre estive.

Queria conhecer alguém de verdade; um daqueles que se machuca para valer, em todos os sentidos da palavra, e se deixa pelo mundo sem se preocupar de mascarar os cinco sentidos; que se arruma para um show privado e canta a canção de vida numa honra certeira, merecedor pelo caminho trilhado; que se faz com nós e se desfaz no desconhecido. O maior ato de sinceridade é se permitir a colisão, numa amplitude de pontos de vista. Eu não sei se Jae fugia do ato da vida. Mas, que ele foi mais humano do que qualquer um, isso é fato.

ㅡ H.U.R.T. day6Onde histórias criam vida. Descubra agora