《2》Bullying

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Falar com o meu pai não era uma tarefa nada fácil, em principal quando envolvia eu estar fora de casa, já estávamos do lado de fora do hospital, Gerard digitava alguma coisa no celular enquanto esperava meu pai pensar se iria me atender ou não.

-- Problemas com a ligação? -- ele finalmente retira os olhos da tela de seu celular e dou de ombros.

-- Em tese, meu pai é uma pessoa muito ocupada... Mas algumas vezes só me ignora -- digo ouvindo o bipe e a mensagem pré-gravada pela milésima vez, reviro os olhos e desisto de tentar falar com o homem que levava o mesmo nome que o meu -- Sei que resolveu me ignorar, então eu apenas vou fazer o mesmo e deixar essa merda de recado, não vou estar em casa hoje para o jantar.

Encerro a ligação antes que eu xingue meu pai por fazer isso novamente e guardo meu celular voltando a olhar para o mais velho ao meu lado, ele me olhava de volta apreensivo, mas sabia que eu podia fazer isso, já era maior de idade e só estava avisando meu pai desta vez por realmente gostar de ter onde morar.

-- Não vai criar problemas com seu pai?

-- Eu sou o problema do meu pai, isso é só um detalhe... -- digo negando com a cabeça, era só mais um drama familiar que não dizia respeito a ele, mas mesmo assim deixo com que escape -- Sobre o que quer conversar?

-- Bem... -- ele começa a andar e faz sinal para que o siga -- Queria saber se pode me contar um pouco mais sobre Mike, eu sentia que conhecia meu irmão, mas agora acho que talvez não seja assim...

-- Eu o conheço a quase dois anos, não acho que eu saiba mais dele do que você, que o conhece a vida toda -- sigo os passas do maior até o carro, já era noite e o estacionamento se encontrava quase vazio.

-- Às vezes Frank, o tempo não nos diz o grau de intimidade das pessoas -- mais uma vez sua voz saí suave junto com um meio sorriso. Ele destrava o carro e entramos quase juntos.

-- Mas vocês convivem juntos desde que ele nasceu, isso não é relevante? -- falo puxando o cinto.

-- Sim, de certa forma -- ele suspira baixo e procura pela ignição -- Mas e se pegássemos o seu exemplo? -- olho para ele levantando uma das sobrancelhas em curiosidade -- Seu pai não o conhece desde quando nasceu?

-- Isso é... -- engulo a seco revendo o que estava falando -- Ele não me conhece.

-- Em menos de dois, acho que o conheço melhor do que seu próprio pai, que viu você nascer -- ele diz olhando para frente, prestando atenção na estrada e assinto com a cabeça, ele não quis ser rude, apenas justificou seu ponto de vista e estava certo.

O tempo não nos diz o grau de intimidade das pessoas.

-- Gosta de comida mexicana? -- assinto com a cabeça quando escuto sua voz quebrar o pequeno silêncio que se formou, não continuo a conversa, apenas me encosto um pouco mais no banco por causa do estômago dolorido.

O caminho é feito sem muita conversa, não vou negar que estava gostando desse tempo a mais com Gerard, mas por outro lado minha cabeça insistia em me dizer para parar de ver coisas onde não havia nada, alguém como ele não iria se interessar por um adolescente com seus próprios dramas internos, o máximo que eu podia fazer era me contentar com a minha paixonite e os poucos flertes correspondidos, muito provavelmente sendo os mesmos uma brincadeira. Vi quando Way se curvou para ligar o rádio e o som de Alice Cooper invadir o carro, ele sorri de lado ao ouvir Poison já tocando pela metade, talvez ele já conhecesse ou apenas gostou do som, mas em todos os casos essa era uma das minhas favoritas.

***

Assim que chegamos no restaurante o cheiro da comida picante nos recebe com um ar de "bem vindos", corro meus olhos pelo lugar até então novo para mim, Gerard já havia guardado o jaleco desde que saímos do hospital e agora arrumava a camisa social de um jeito mais descontraído, o ambiente era familiar, não me fazendo ficar constrangido por vestir apenas uma camiseta preta de mangas um pouco compridas e uma calça jeans da mesma cor, antes a mesma ficava em um tamanho bom, mas ultimamente preciso do auxílio de um cinto para mantê-la no lugar. Sinto a mão do maior em minhas costas e olho para ele em sobressalto por estar distraído, o mesmo ri baixo e vamos juntos para uma das mesas livres do fundo, o restaurante fazia jus à cultura, tendo a decoração com algumas caveiras mexicanas espalhadas pelo lugar e alguns quadros com a escrita do México.

Don't Touch《Frerard》Onde histórias criam vida. Descubra agora