《7》Uma Bagunça

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Observo cada detalhe daquela sala, tudo já era familiar para mim, as cores seguiam um padrão agradável aos olhos, diferente do resto do hospital, naquela sala havia cores. Mais ao canto tinha vários tipos de brinquedos, duas meninas brincavam ali, eram gêmeas e estavam esperando pelo irmão que entrou antes de mim, a mãe lia uma das várias revistas que sempre estavam perfeitamente arrumadas em uma pilha ao lado das cadeiras de espera, muitos pacientes com toc eram atendidos aqui, por isso o cuidado de deixar tudo arrumado, e em algumas ocasiões, limpo demais, pessoalmente me dava agonia em apenas pensar em derrubar aquela pilha de revistas, imaginar o trabalho que a pessoa teria para arrumar de volta. Os quadros ficavam completamente retos e em um padrão estranho nas paredes, pareciam estar grudados ali. Mas havia uma coisa que eu nunca iria me acostumar naquele lugar, o jeito como era silencioso, como se as paredes pudessem nos ouvir, todos ficavam calados com seus próprios problemas, martelando suas próprias angústias, não tinha tantas pessoas no meu horário, era sexta feira a tarde, quase noite.

Sempre escolhi horários meio aleatórios para a consulta, o Dr. Farley me aconselhou a fazer isso na verdade, disse que pelo que ele percebeu em mim, preciso sempre de mudança, que se me deixasse no mesmo horário por muito tempo provavelmente me cansaria. Experimentei o horário da segunda feira uma vez, incrível como aquilo estava cheio e mesmo assim não haviam conversas.

Meus fones berravam Bowie nos meus ouvidos e era o único jeito de me sentir um pouco mais confortável naquele lugar, estávamos em cinco naquele lugar, e parecia estar sozinho, não que eu gostasse de falar muito, mas era tão estranho. Lucy era a quinta pessoa no lugar, ela era um caso um pouco mais diferente, eu já cheguei a perguntar à ela por que estava aqui, e bem, ela disse que via algumas pessoas, que na maior parte das vezes, só estavam na cabeça dela, demorou um tempo até ela me dizer isso, mas sou uma pessoa até que simpática e conversamos em algumas vezes que nossos horários batiam, ela podia ouvir essas pessoas também, mas agora graças ao remédio, ela só conseguia ver, ela estava duas cadeiras de distância de mim e ao me pegar olhando para ela, apalpou a cadeira ao lado com uma expressão confusa.

-- Não tem ninguém ai, Lucy -- retiro os fones e falo bem baixo.

-- Ah… -- ela sorri envergonhada e pula para a cadeira ao meu lado.

-- Quem estava ali? -- pergunto ainda no mesmo tom de voz, para mim era fascinante o que a nossa mente era capaz de reproduzir, e Lucy não se incomodava com a minha curiosidade.

-- Era um cara bem alto, magro e velho -- ela diz quase cochichando -- Ele usava um chapéu engraçado, meias amarelas com bolinhas azuis e tinha o cabelo da mesma cor que o meu.

Seguro o riso ao imaginar um senhor de idade com o cabelo azul e verde, Lucy segura uma das mechas para dar mais intensidade ao que diz e olha para frente vendo a mãe das crianças nos encarar, dou de ombros e a incentivo a continuar a descrever o velho.

-- Mas como ele era? Muito alto quanto? -- sussurro.

-- Leve ao pé da letra o “muito alto” -- ela sussurra de volta -- Ele tinha a pele toda enrugada e um olhar perdido, eu nunca tinha visto uma bengala tão grande na vida! Sua pele parecia colar nos ossos em algumas partes e ele ficava me olhando às vezes.

-- Incrível -- digo me arrumando de lado na cadeira -- Mas, isso vem acontecendo com frequência?

-- O pior, ou melhor, é que não. Por isso que eu pensei que fosse uma pessoa de verdade -- ela cochicha a última parte e sorrio assentindo com a cabeça.

Ficamos em silêncio quando um barulho alto vem das gêmeas, quando olhamos para elas, um monte de bloquinhos estavam caídos perto delas e apenas alguns sobraram empilhados, a mãe olha para as filhas negando com a cabeça e ambas se apressam em juntar tudo.

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