《3》Covarde

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Assim que abro meus olhos com certa dificuldade, é inevitável não sentir minha cabeça responder ao alarme que tocava estridente ao meu lado, me viro sem vontade alguma de sair da cama e me forço a desligar aquele som maldito. A noite passada se manifesta como um filme rápido em minha mente, meus olhos voltam a se fechar e nem mesmo a lembrança do beijo me faz querer sair do quarto para encarar o dia. Antes de querer tomar qualquer decisão escuto batidas firmes na porta, resmungo negando para mim mesmo que havia alguém do outro lado e que eu poderia me dar o luxo de ficar um pouco mais na cama, as batidas voltam repetitivas e me levanto de uma vez tendo a sensação que poderia matar alguém com minhas próprias mãos.

-- O que foi Alex? -- vejo o ser pálido de uniforme diante de mim e me sinto uma criança por querer fazer birra para ficar mais tempo no quarto.

-- Lamento por ser eu quem veio te tirar da cama, mas seu pai me pediu para chamá-lo, Frankie -- o homem diz com um sorriso caloroso, se eu não estivesse com tanto sono, me sentiria culpado por mandar ele ir a merda mentalmente.

-- Só te perdoou se fazer meu café da manhã, sua comida é a melhor… -- digo vendo o mesmo rir e me levar de volta para o quarto, ele acende a luz e então preciso fechar os olhos para me acostumar com a claridade -- Só não deixa a Beth saber que disse isso.

-- Eu faço seu café, mas não se atrase, seu pai está mais nervoso que o de costume, não quero vocês brigando mais uma vez… -- Alex diz revirando os olhos ao começar a arrumar alguns dos vários papéis espalhados em cima da minha escrivaninha -- Sei que cada um tem seu modo de entender a própria bagunça mas, Frank o que custa jogar isso fora? -- ele me mostra vários papéis de doces indignado, já que havia um lixo bem ao lado.

-- Sei lidar com meu pai, e isso é minha arte! -- falo rindo baixo da cara que Alex faz em seguida.

-- Isso é lixo, seu preguiçoso! -- começo a me trocar enquanto ele termina de organizar as lapiseiras e canetas dentro do suporte -- Parte do seu uniforme está na lavanderia, devia usar ele pelo menos uma vez na semana.

-- Não gosto de usar aquilo, me sinto em um pornô -- falo fazendo o mais velho rir -- Eu falo sério, se eu fosse uma garota e tivesse que usar aquelas saias me sentiria indignada!

-- Já recebemos avisos da escola, você usou aquele uniforme durante três anos, por que não mais um? -- observo o homem dobrar os lençóis enquanto ria da minha mais nova indignação -- Vista o uniforme daqui para frente, eles disseram que já toleram demais.

-- Bullying é permitido, evitar de usar aquele traje pornô, não, nunca vou entender as escolas -- falo procurando pela calça em meu guarda roupas.

-- Que tipo de pornô você anda assistindo? -- pergunta negando com a cabeça -- Por favor Frank, prometemos que íamos vigiá-lo. Além do mais, eles sabem o que fazem.

-- Sabem mesmo? Duvido disso, como suposto dependente da escola, minha obrigação é aturar aquilo? -- vejo ele se calar, Alex odiava se meter nesses assuntos, por isso apenas acobertava quando eu chegava em casa com as roupas sujas de sangue ou corria para o hospital.

Ele era uma boa pessoa, acho que só não queria arrumar confusão. Alex trabalha aqui desde que eu tinha 5 anos, meu pai precisava de alguém para cuidar de mim enquanto ele estivesse ocupado no trabalho, lembro de duas garotas antes dele, ambas pediram demissão alegando que eu era uma peste e não eram obrigadas a aguentar isso, nunca fui uma das crianças mais comportadas, mas o que você espera de uma criança hiperativa de 5 anos? Alex veio logo depois, gostei dele mais que as outras garotas, diferente delas, ele costumava brincar comigo e quase nunca gritava, hoje ele não é mais babá por motivos óbvios, mas por insistência minha, meu pai o deixou ficar como faxineiro, o homem alto de cabelos escuros costumava dizer que nunca deixaria de cuidar de mim, mesmo que eu estivesse com os meus 20 e tantos anos, se ele ainda trabalhasse em casa, estaria dando um jeito de cuidar “desse marmanjo”. Agradeço por Alex ter escolhido ficar, ele é um ótimo amigo, sempre que preciso de alguém para conversar em casa, ele está disposto a me ouvir, além de cozinhar muito bem.

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