《5》Nós

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Passaram-se duas semanas desde que falei com Gerard pessoalmente, ele me mandava mensagens para saber como estava indo as dores e se havia melhorado, tocamos poucas vezes no assunto do beijo que aconteceu naquele carro, mas sempre que era colocado em pauta, um convite para nos encontrarmos novamente vinha em seguida. Nesse exato momento eu me encontrava completamente atrapalhado e um tanto perdido dentro da minha própria casa a procura das minhas chaves, já que eu finalmente havia cedido e marcado de me encontrar com o médico de olhos verdes amendoados, Alex assistia e ria do meu desespero em me atrapalhar nas palavras ao explicar para ele o que estava acontecendo, se eu não estivesse tão nervoso e me sentindo um bobo por causa disso, estaria rindo também. Era fim de tarde, eu já tinha terminado todas as lições do dia, então agora apenas tentava me manter calmo o máximo que um ser humano prestes a se encontrar com a pessoa que gosta era possível.

-- Alex se você parasse de rir e me ajudasse a achar minhas chaves eu agradeceria! – falo perdendo o resto da minha paciência, o homem, um pouco mais alto que eu, anda até o outro lado da sala onde estávamos há uns cinco minutos, e tira meu molho de chaves de dentro do velho cinzeiro que ficava como enfeite na mesinha.

-- Se sabia que estava ali o tempo todo, porque não me disse!? – olho para ele quase indignado e ele apenas me lança um olhar divertido como resposta, bufo baixinho e escondo meu rosto em minhas mãos – Pareço um pré-adolescente indo ao seu primeiro encontro, não é?

-- Relaxe querido, vai dar tudo certo – Alex me entrega as chaves me dando um abraço logo em seguida – Eu sei que está nervoso para encontrá-lo, mas precisa ter calma.

-- É que dessa vez parece diferente, eu não vou para uma consulta com ele, eu estou indo me encontrar com ele! – me separo de seus braços e o sorriso ainda não abandonou seus lábios, agora esbanjando ternura.

Alex era o único que sabia da minha verdadeira orientação sexual, meu pai estava em casa dessa vez, mas como sempre, nunca deixava de trabalhar, o escritório ficava no segundo andar e sempre que o velho Iero entrava lá, não ligava para mais nada a sua volta, então não corria o risco de ele aparecer de repente e me ouvir falando. Lembro do dia em que Alex acabou descobrindo sobre eu ser gay, ele acabou flagrando me aos beijos com outro garoto no meu quarto, pensei que teria um surto repentino ao ver aquela cena, mas ele apenas voltou a fechar a porta como se nada tivesse acontecido e esperou o garoto ir embora para poder vir falar comigo sobre. Foi uma longa conversa na verdade, ele quis entender o porquê de eu estar escondendo minha sexualidade e como eu estava me sentindo, ao final da conversa o fiz prometer que não contaria ao meu pai, Alex concordou com a condição de eu sempre contar tudo a ele e como me sentia, acho que fizemos um bom acordo.

-- Em primeiro lugar, se acalme... E em segundo, vocês já tiveram conversas assim antes, não tem que ficar nervoso.

-- Eu me sinto com catorze anos novamente, quando fui ao meu primeiro encontro, mas não estou indo ao jardim e muito menos encontrar a pessoa de quatro anos atrás! – digo negando com a cabeça e o homem à minha frente se limita a uma risada baixa.

-- Espero que tenham uma ótima tarde... – ele não dá corda para o meu surto e me acorda para o horário antes que eu me atrasasse.

[-X-]

Marcamos de nos encontrar em uma cafeteria, estava mais frio do que eu esperava, mas nada de novo sobre o estado de Nova York, o táxi para no endereço que eu havia dado, deixo o dinheiro com o motorista e saio do carro um tanto quanto apressado, o tempo ameaçava chuva e estranho o inverno deste ano estar sendo mais molhado que o normal. Me dirijo ao local com passos não tão apressados agora, a cafeteria ficava em um bairro comercial, não era horário de pico, então não havia tanto movimento como de costume, apenas algumas pessoas andavam para cima e para baixo, preocupadas demais com seus problemas para prestar atenção ao resto, assim que chego a porta, uma garota de pele morena oferece uma rosa tão de repente, que levo um pequeno susto, me deixo sorrir aceitando a flor, observo uma cesta em seu antebraço, não estava mais tão cheia como deveria estar no começo do dia, mas as que estavam ali, tinham cores variadas do rosa mais claro ao vermelho mais escuro, pago o um dólar a ela e sou retribuído com um sorriso. Empurro a porta de vidro a minha frente e um sininho toca, imitando os cafés ingleses, olho em volta e sinto o ar escapar quase por completo de meus pulmões, meu olhar se mantêm preso no homem pálido sentado em uma das mesas ao lado da janela, ele mantinha o olhar preso em um caderninho enquanto rabiscava alguma coisa ali, ao seu lado um buquê improvisado de rosas, variando do rosa ao vermelho.

Don't Touch《Frerard》Onde histórias criam vida. Descubra agora