《11》Escolhas

208 15 26
                                    

Mais duas semanas haviam se passado, e as coisas nunca pareciam melhorar para mim. Pelo menos as férias do meu curso já haviam chegado, e as férias de verão também, todo ano nessa época eu visitava minha mãe, a mulher morava do outro lado do estado, mas mesmo assim eu sempre dava um jeito de passar no mínimo, uma semana com ela. Apenas ano passado que houve um pequeno imprevisto, minha mãe teve que ser internada de última hora, ela tinha alguns problemas de coração e isso sempre me preocupou, Linda nunca me deixou ajudar nas despesas dos seus remédios, dizia que não queria se aproveitar do próprio filho, o que para mim nunca teve cabimento, eu estava disposto a ajudar. Lembro que no último verão que passei com ela, fizemos alguns artesanatos, ela amava cerâmica, e resolvi fazer uma "exposição" com as coisas dela. Fizemos no quintal mesmo, colocamos todas as coisinhas em mesas e os nomes de cada uma embaixo. Ela vive em um bairro pequeno, onde todos conhecem uns aos outros, e quase todas suas amigas e vizinhas foram ver o que estávamos aprontando ali, foi um dia feliz, para ela e para mim.

Esse ano eu estava contando com a minha ida para lá, mas meu pai e a merda do universo estragaram isso. O velho Iero estava mais suportável, já que para ele, eu era realmente hétero e não havia risco algum do seu filho ficar com algum homem, mas mesmo nesse clima, ele colocava pressão para que eu aceitasse logo o estágio que tinha arranjado para mim, mesmo sem meu maldito TCC pronto, só para eu me acostumar com a rotina durante as férias, depois quando as aulas voltassem eu pararia, já que eu não iria mesmo para casa de Linda. Mais uma vez ela havia passado mal, estava no hospital, eu queria poder ir para cuidar dela, e ajudar, mas mais uma vez eu me deixei levar pela manipulação barata que meu pai fazia comigo, o velho homem quase fez com que eu me sentisse o pior filho do mundo, quando me disse que a única coisa que importava eram as minhas vontades, que tudo se tratava do meu querer.

Depois de dez minutos ouvindo aquela ladainha, eu acabei cedendo, mas não disse nada sobre aceitar o estágio, pelo menos eu tinha o luxo de enrolar o quanto eu quisesse, eu sabia que era bom no que fazia, e meu pai também, toda essa pressão era para me forçar a tomar uma atitude. Se fosse a algumas semanas atrás, eu já estaria fazendo a vontade do meu pai, sem ao menos questionar, mas ultimamente alguma coisa estava me fazendo pensar duas vezes, alguma coisa não, alguém. Andei conversando muito com Gerard, acho que por ele ser mais velho, eu tenho uma certa segurança em pedir conselhos, dei um jeito de seguir pelo menos um dos que ele me deu essa semana, que era pensar antes de aceitar tudo que meu pai jogava em cima de mim, ele insistia em dizer que eu sempre teria uma escolha, e estava quase me convencendo disso.

A única coisa chata que eu tive que contar à ele, foi o fato do meu pai achar que o par da aliança em meu dedo pertencia a uma mulher, eu sempre joguei limpo e fui sincero com todas as pessoas que já passaram pela minha vida, achei que contar isso era necessário, eu confiava nele e pedi sinceridade no começo disso tudo, se me fazia mal e envolvia ele, achei justo contar. Imaginei que aquilo fosse magoá-lo, talvez, não é legal esconder algo assim, eu não queria ter que esconder ou mentir na verdade, mas o meu medo falava mais alto. Eu acho que tive uma sorte grande em achar Gerard, já que ele foi até que compreensivo com isso, mas percebi o quanto aquilo tinha deixado ele abalado, infelizmente essas emoções e situação estavam além do meu controle, tivemos longas conversas essa última semana na verdade, falamos sobre nós no geral dessa vez, já que sempre que nos encontrávamos o assunto principal era como estava sendo a reconciliação dele com Mike, ou o meu processo de tentar ajudar Ray com seu pai problemático.

Gerard estava finalmente conseguindo superar aquele estresse todo, acabando por diminuir as visitas ao terapeuta, aquilo foi bom de se ouvir, saber que estava conseguindo se recuperar depois de três anos guardando aquilo só para ele. Já o meu estado ainda continuava o mesmo, era difícil de definir, segundo o meu psicólogo, não estávamos regredindo no tratamento, mas também nenhuma progressão estava sendo feita, eu estava empacado no mesmo lugar já tinha alguns meses, e era isso que preocupava Farley, eu não me sentia como antes, não chegava nem perto na verdade, mas alguma coisa ainda me afetava, algo que não me deixava sentir aquela felicidade que todos dizem sentir, aquela motivação de levantar da cama e estar disposto, ainda me faltava ânimo, eu precisava de um comprimido para me ajudar até nas tarefas mais simples, como sorrir ou ir ao banheiro e escovar os dentes.

Don't Touch《Frerard》Onde histórias criam vida. Descubra agora