Recreadora

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Branch não compareceu à aula durante umas duas semanas. No dia seguinte ao acidente, a I.A.N ligou para ela, pedindo que fosse uma recreadora temporária. Ficou mais que animada. Pediram para inventar um pseudônimo, uma máscara e que não revelasse a ninguém. Era parte da democracia da instituição. Eles queriam que fosse total segredo, a fim de que as caridades fossem anônimas. Achou essa filosofia um tanto interessante.

     Naquele sábado, foi apenas dar um "oi" para os Gatti. Não custava nada, e poderia ver como "andava" seu "amigo". Bateu à porta, e Marco atendeu:

— Bom dia, Popps.

— Bom dia, senhor. — riu — Só vim ver como vão as coisas com vocês.

— Entre. — deu passagem, e ela entrou — A mamãe sentiu muito a sua falta nesta semana, e queria agradecer por aquele dia.

— Ele é meu amigo, o que mais eu faria? — depois de uma pausa — Como ele anda?

— Não anda. — riram — Chateado por não poder ir no compromisso de sábado.

— Qual é esse tal compromisso?

— Isso você vai ter que ganhar a confiança dele para descobrir.

— Mas ele não coloca confiança nenhuma em mim! — bufou

— Só pelo fato de não ter exigido para que te tirassem do quarto à força quando foi internado, se conheço meu filho como penso que conheço, ele confia o bastante em você. Por falar nele, se quiser dar um "oi", está deitado no quarto.

     Subiu e bateu à porta da:

— Pode entrar. — ouviu desde o outro lado

     Entrou. O moreno estava olhando distraidamente para a janela. O dia estava lindo:

— Eu vim ver como você anda.

— O verbo "andar" não é o mais adequado. — riram — Dentro do possível, até que bem.

— Pode me contar o que aconteceu na quadra?

— Não.

— Por quê?

— Pessoas demais já me traíram na vida!

— E o Archer!? Por que confia nele, então!?

— Porque ele também foi traído, e também sofreu muito ao meu lado!

     Silêncio. A expressão do rapaz era de quem queria falar, mas a razão costurava sua boca. A rosada teve que reprimir sua vontade de gritar e contrariar-lo para responder:

— Ok. É você que vai ficar sozinho!

— Eu nunca estou realmente sozinho, e é melhor só do que mal acompanhado.

— Se você afastar todo mundo que não conhece, vai perder a chance de achar quem quer o seu bem.

Dizendo isso, saiu do quarto. Cumprimentou a Rosiepuff e foi para o I.A.N com o garoto ainda assombrando seus pensamentos. Não sabia o motivo, mas se arrependeu de deixá-lo lá no quarto. Entrou no hall de entrada, animada. Um monte de crianças conversam, todas com algum tipo de deficiência. Havia uma cadeirante, dois cegos, uns sete com alguma deformação no corpo, um surdo com sua tradutora de sinais, um garoto parecendo não ligar para onde estava ou com quem estava e uma dupla isolada. A menina tinha cabelo preto meio encaracolado e pele parda, quase chorando de desespero; o garoto era pálido e ruivo, acalmando-a em sussurros. Aproximou-se, e a tal menina segurou o choro o máximo que pode:

— EU NÃO TENHO OS ÓRGÃOS DE QUE VOCÊ PRECISA!! NÃO ME MATE!!

— ... O que?

— EU SOU INOCENTE, JURO!! NÃO ME BATE!!

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