Reconciliação

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— Arrasou, hein. — elogiou, um esboço de sorriso.

A menor corou.

— Você ... quer conversar?

— Quero. — disse, começando a andar — Vem. Melhor a gente ir p'ra outro lugar mais vazio.

     Seguiu-o, nervosa. Era tudo ou nada.

     Foram para o meio das árvores. O tempo estava gostoso. As folhas faziam sombra. As vozes dos outros estavam meio distantes.

     Ele sentou-se sobre uma raiz de árvore. Ela apoiou as costas no tronco de outra logo ao lado, ainda de pé. Silêncio.

— ... Por que você veio? — suspirou, cruzando os braços — Eu sei que eu te convidei, mas ...

— Eu não ' mais com raiva. — falou — Quer dizer, eu não quero mais te ver queimando viva.

Conseguiu arrancar um sorriso dela pelo drama.

— Eu bem que merecia.

— Merecia nada. Do jeito que você ' se matando.

— Como assim? — questionou, confusa.

— Você não ' mais andando com a Gangue das Guloseimas; ' com olheiras e roxos no corpo; ' mais magra; fica só estudando no canto. — enumerou — Tem mais alguma coisa te incomodando, não é?

Ela suspirou novamente. Fechou os olhos, segurando o choro. O moreno esperou pacientemente.

— ... A minha mãe se mudou p'ra SP quando eu tinha uns cinco anos. Ainda era casada com o meu pai, mas a gente ficou aqui em Itu. Ela não me visitava com frequência.

O Gatti ficou quieto. Sabia como a ausência de mãe doía.

— Eu via todas as minhas amigas tendo as mães delas como melhores amigas e fazendo absolutamente tudo juntas. E parecia que as mães gostavam muito quando as filhas eram princesinhas inocentes e cor-de-rosa.

Levantou uma sobrancelha, confuso. Estava ficando estranho. Não sabia direito onde ela queria chegar. Mas manteve-se em silêncio.

— Eu acabei me forçando a me tornar a princesinha inocente e cor-de-rosa sem perceber. A minha lerdeza escondeu o que eu sentia até de mim. Eu só queria a atenção da minha mãe ...

Ela enxugou as lágrimas que ameaçavam cair. Respirou fundo. Engoliu saliva com dificuldade.

— Eu me acomodei nesse papel. Eu incorporei a personagem. Talvez não cem por cento, mas incorporei. Eu continuo lerda, inocente e cor-de-rosa. E ... daí, eu conheci você.

Por um momento, ele achou que ela pararia de narrar. Mas não foi o que aconteceu.

— Eu meio que me acostumei com tratar todo mundo bem ... ou me esforçar p'ra fazer isso. E eu te achei interessante desde o início. Quebrar esse gelo que você sempre dava em todo mundo meio que pareceu um desafio muito bom.

— Vou aceitar como um elogio ... — brincou.

— Mas ... meio que me lembrava a minha mãe. — suspirou — Eu sempre mandava cartões p'ra ela. Eu sempre tentava ligar. Eu sempre pedia p'ra visitar ela em SP. Mas ela nunca podia. Não deixava eu me aproximar de verdade. Sempre tinha alguma coisa que impedia a gente de se aproximar e começar uma amizade.

Branch sentiu um pouco de remorso. E dó.

Cristal havia morrido. Não tinha mais como conviverem. Não estava sob o controle de ninguém.

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