A voz dele

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     A semana passou quase voando. Não era nem Abril e já estavam falando do Sarau em Julho. O professor de Geografia passou um trabalho para duas semanas sobre parques ecológicos. Nada demais além de "Reloginho" aprontar mais um pouco de suas boas ações. Ficou animada para o final de semana. Se trocou, pôs a máscara e saiu. Não viu a placa dizendo "piso molhado" e teria caído se certo "alguém" não a houvesse pegado:

— Ninguém vai cair, não! — disse o moreno mascarado — Hoje todo mundo só vai para cima! — puxou-a, sorriu — Bom dia, florzinha linda.

— B-bom dia. — corou, se soltando

— Bem ... GALERINHA, BORA FAZER ARTE ... NO BOM SENTIDO! — completou depois de uns segundos

Fizeram fila e foram até o auditório. O primeiro a subir na palco foi Vítor:

— Eu fiz esses desenhos. — falou com um pouco de dificuldade

Eram incríveis. Coloridos, traços firmes e definidos, harmônicos ... para a idade dele, obras-primas. O mais velho ficou descrevendo-os para Paulo e Rosa, que ficaram surpresos também. Rosa subiu logo em seguida com uma folha cheia de furinhos de braille:

— Eu escrevi um poema pra um garoto especial pra mim. — anunciou para logo começar a declarar — "Dizem ver o arco-íris/ Dizem que é beleza sem igual/ Por que não tentam enxergar, também/ O interior de alguém?" — se perdeu um pouco nas linhas para logo voltar — "Não, não digo que é injusto/ Digo eu que nem existe palavra para nomeá-lo/ Alguém lindo por dentro e por fora .../ ... Ser tão rejeitado!" — pausa para respirar — "Ele não pode ser legal,/ Não pode ser nomeado/ Porque, por muitos .../ ... Teve o coração despedaçado."

     Todos bateram palmas, e a rosada achou aquela história familiar ... familiar até demais! Anny, quase caindo de nervosa, subiu com um microfone na mão e um ukelele nas costas. Ajeitou como pode no suporte aquele microfone e plugou o instrumento na caixa de som. Alguma coisa a fez relaxar o suficiente para parar de tremer e falar:

— E-eu fiz essa música ... que fala ... como é conversar com alguém ... tendo pânico ...

Meio desajeitada, formou o primeiro acorde e pegou na palheta. Respirando tão fundo que deu até aflição e começou a tocar:

     A mais impressionada foi, sem sombra de dúvidas, Poppy. Quem diria que aquela garota desesperada conseguiria cantar e tocar uma música original? (AUTORA: de verdade, gente, é MUITO DIFÍCIL!!) Quase em estado de shock, Anny desceu do palco. A mais velha só foi prestar atenção em alguma coisa quando:

— Agora eu vou cantar alguma coisinha pra vocês, galera! — disse ele

— EBA! — gritaram as crianças

— Você canta, Reloginho?

— Desde que me entendo por gente! É só dar play no vídeo ali. — apontou para um computador

     Obedeceu. (Coloquem a música lá em cima) Suspirou, melancólico. Isso era novo para ela, pois não o viu sem seu sorriso de tirar o fôlego nestas horas que passaram juntos com as crianças. Parecia lembrar de algo desagradável ... e cantou:

Yesterday I died, tomorrow's bleeding
Fall into your sunlight
The future's open wide beyond believing
To know why hope dies – mexeu a cabeça
Losing what was found, a world so hollow
Suspended in a compromise
The silence of this sound is soon to follow
Somehow sundown – olhou para o chão

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