Prólogo

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"Você não foi única que saiu machucada dessa história"

Maya abriu os olhos de súbito. No pequeno apartamento com aspecto desleixado e cores cinzas, seus olhos se moviam freneticamente por todo local. Não conseguia se lembrar de ter pegado no sono no pequeno sofá vermelho surrado. Faziam só dois meses que ela tinha largado tudo na Argentina para viver em um apartamento simples de um parente, no bairro periférico do Brasil. Apesar do idioma e os costumes serem algo fora do que ela estava acostumada, sua adaptação tinha sido boa.

A garota se virou no sofá e soltou um resmungo de sono. Ainda deitada ela passa a mão por cima da mesa de vidro a procura dos seus remédios. Mais amargo do que o gosto deles era só o gosto do arrependimento que ela tinha na boca. Desistiu de procurá-los às cegas e levantou a cabeça vendo só um jarro de flores transparente na mesa.

O lugar que ela morava era bem apertado: um quarto, um banheiro, sala, cozinha e área de serviço. Tudo tão próximo que você só precisava dar dois passos para estar em um cômodo diferente. Bem diferente da casa enorme de dois andares que ela morava com os seus pais. Talvez Maya não tenha sentido tanto o impacto da brusca mudança de realidade por ter passado a maior parte do seu tempo trancada no quarto. Nunca fez questão de mordomias, mas existiam certos objetos que era imprescindível trazer consigo: uma vitrola de família, vinis, seu caderno de desenho, o notebook e alguns cigarros.

Levantou do sofá de má vontade se esbarrando nos móveis da casa. Caminhou pelo pequeno corredor, do lado direito tinha o quarto e do esquerdo o banheiro. Ambos com as portas abertas, refletindo o humor dela. Maya parou entre os dois cômodos como se estivesse diante de uma decisão difícil. Olhou para dentro do banheiro e viu seu reflexo no espelho. Cabelos bagunçados, olhos de um azul morto que em um curto período de tempo já tiveram vida. Mas o que a menina encarava não era a figura assombrosa do espelho, ela estava tentada pelos comprimidos que estavam atrás dele. Fechou as mãos em punho.

"Você me prometeu que não faria isso, Maya..."

A voz doce parecia ter saído da sua cabeça e sussurrado em seu ouvido. Os pêlos do seu pescoço se arrepiaram e ela apertou bem os olhos. Era travada uma batalha interna em Maya. A vontade de consumir os comprimidos até esquecer seu nome e a coisa certa a se fazer. A coisa certa sempre vencia. Ela desviou a atenção do banheiro e entrou no quarto.

A cama com lençóis brancos amassados, algumas peças de roupa que foram usadas recentemente, um notebook, um celular e dois travesseiros. Ela abriu espaço entre a bagunça e sentou-se na cama. Desbloqueou o celular.

Amir: Você me prometeu dar notícias


Maya: Oi Amir


Amir: Olha ela não morreu


Maya: Bom dia


Amir: O que você tem?

Amir: Eu sabia que deveria ter ido com você


Maya: A casa que estou não dá nem para mim imagina ter que dividi-la com mais uma pessoa


Amir: Sei. Se fosse ela você não reclamaria


Maya: Provavelmente


Amir: Por falar nela

Amir: Já a encontrou?


Maya: Ainda não

Maya: Mas eu vou

Maya: Ou não me chamo Maya Hart Corbalan

Do outro lado da tela Amir abria um sorriso orgulhoso. Ele amaria ter ido com a melhor amiga, mas o dinheiro que eles juntaram mal deu para pagar as despesas de Maya. Mandou mais algumas mensagens perguntando como era o Brasil e quando ela pretendia voltar, mas ela cessou a conversa ignorando as mensagens dele. Ela sabia que ele a compreenderia e ele sabia o que aquilo significa. Torcia para que ela ficasse bem apesar do seu temperamento instável. Amir guardou o celular no bolso e voltou para o seu grupo de amigos. Maya jogou o celular de canto e abriu o notebook.

Durante dois meses pareciam que todos caminhos que ela seguia levavam a um beco sem saída. Até que um usuário do Facebook que ela havia mandado mensagem lhe responderá com um sinal positivo.

Usuário: Sim, pode-se dizer que eu conheço a Riley. Por quê?

Depois da meia-noite (Rilaya / Rowbrina)Onde histórias criam vida. Descubra agora