Capítulo 19 | Medo

379 29 2
                                    

— Eu preferia ter ido para minha casa — Jaíne murmurou quando estacionaram no piso subterrâneo do apartamento de Leander.

— E eu preferia que você tivesse me esperado, mas nem sempre temos o que queremos, não é mesmo? — Leander retrucou.

Ela desceu da moto com a maior dignidade que conseguiu reunir. Não caiu de cara no chão e isso foi uma pequena vitória em meio ao seu estado de nervos. Sempre que Jaíne ficava nervosa, tinha tendência em fazer coisas estúpidas como bater o dedinho do pé em qualquer quina, esbarrar em vidro e tropeçar nos próprios pés.

Seus pelos ainda estavam arrepiados, mas de frio dessa vez, pois não havia se preparado para atravessar a cidade em uma moto sem nada mais que a pele contra o vento. O que a faz lembrar de algo.

Jaíne gruiu.

— Eu não sabia que você tinha uma moto — murmurou para as costas dele com cara feia.

— Eu não tenho, essa é do meu pai — ele disse, então se virou para ela e Jaíne teve que engolir em seco com o que viu.

Seus olhos estavam entrecerrados como frestas e seus lábios franzidos em uma carranca. Uma blusa polo estava com os botões superiores abertos como se não houvesse tido tempo e nem a disposição de abotoá-los. Era a primeira vez que o via assim, tão fora do eixo.

— Eu não sei por que estou aqui — começou ela, incerta. Era besteira, claro. Jaíne sabia, mas não queria admitir. Não tinha se preparado para enfrentá-lo tão logo.

Ele cruzou os braços no peito largo.

— Quanto anos você tem? — Leander questionou irritado — Três?

Jaíne ergueu os ombros.

— Não sei do que está falando.

— Há, não sabe? — ele retorquiu, irônico.

Jaíne cerrou os dentes.

— Não, não sei.

— Impressionante — ele disse mais para si mesmo e saiu em disparada para a porta do elevador. Apertou uma vez, com força, o botão e balançou a cabeça como se não acreditasse no que estava ouvindo.

Jaíne ainda estava parada no mesmo lugar quando as portas deslizantes e silenciosas do elevador se abriram e Leander entrou. Ele apertou o botão do seu andar e segurou a porta com uma enorme mão contra o sensor de presença.

— Jaíne — ele avisou.

Ela não se moveu, irritada com ele por tê-la arrastado até ali, mas irritada ainda mais consigo mesma por hesitar estar sozinha com ele naquele estado.

As narinas de Leander se ampliaram quando respirou fundo.

— Não me faça ir até aí. Vamos só conversar.

Agora era Jaíne que cruzava os braços.

— E se eu não quiser conversar com você?

— Você me deve ao menos uma explicação razoável por ter fugido de mim como o diabo foge da cruz.

Jaíne engoliu em seco.

— Não fale assim. Eu só...

Leander ergueu a outra não no ar interrompendo-a com irritação.

— Não vamos ter essa conversa aqui no estacionamento — Ele apontou sugestivamente para o subsolo e a distância entre eles.

Jaíne fungou.

— Ok — concedeu.

Ela passou próximo do torso dele que ainda estava entre a porta no sensor, mas o mais distante possível. Jaíne fixou sua atenção nas portas que se fecharam sentindo o peso do olhar fulminante de Leander na sua direção.

Lute por nósOnde histórias criam vida. Descubra agora