Capítulo 28 | Contrato

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Quarenta e cinco minutos depois, quando finalmente Leander estacionou em frente sua casa, estava imersa nas inúmeras dúvidas e pensamentos que giravam em círculos fazendo-a lutar contra lágrimas que borbulhavam dentro dela.

Ela está de pé sob o capacho e diante dela está a porta de casa, a fonte de luz exterior emitindo um brilho leve e amarelo em Jaíne. Ela respira fundo, pois através das janelas iluminadas ela percebe que seus pais estavam acordados ainda e Jaíne não queria passar por eles em pranto.

Suspirando, Jaíne abre a porta e se arrasta para dentro, mas no momento em que ela entra na sala, um grito a faz virar subitamente na direção da cozinha.

Jaíne larga a bolsa no chão e dispara para a copa, quase derrubando uma mesinha lateral em seu caminho. Ela estacou no vão da entrada alarmada pela sensação de que algo terrível aconteceu.

Sua mãe está sentada à mesa de café da manhã com o rosto mergulhado nas mãos, seus ombros tremem em soluços inconstantes, enquanto seu pai está de pé atrás dela com uma das mãos sob o braço da esposa em amparo.

Jaíne está paralisada demais para perguntar qualquer coisa, nenhum deles pareceu tê-la notado ainda, mesmo diante do barulho de saltos golpeando o piso em sua corrida até ali.

Poucos segundos depois, seu pai finalmente a vê e a olha solenemente com seus olhos azuis. Seu cabelo loiro-escuro era curto, a barba estava bem-feita e seu rosto tinha uma leve expressão de pesar e raiva, como se estivesse pensando em algo que pudesse ter perdido.

Jaíne manteve a respiração quando ele finalmente falou.

— Sua irmã fugiu — ele disse.

— O que?

Sua mãe levantou o rosto molhado de lágrimas e saltou da cadeira como se tivesse molas debaixo da bunda quando a viu. Seu pai a fez sentar novamente. Zangada, sua mãe bateu nas mãos dele para afastá-lo e fixou-se em Jaíne.

— Ela fugiu — sua mãe cuspiu. Houve uma longa pausa. — Ela levou todas as suas roupas e me deixou um bilhete. Só isso. Um bilhete! Eu a carreguei por nove meses, pari e a levei por dois anos no fisioterapeuta toda semana e é isso que eu ganho?

As pernas de Jaíne decidiram que seria o momento dela se sentar. Jaíne se aproximou da mãe e puxou uma cadeira. Procurou na mente algo sobre por que Lara faria tal coisa, mas a única razão que tinha era que ela estava de saco cheio da festa do casamento.

— E o que ela colocou no bilhete, mãe? — Jaíne perguntou, notando que ela tinha um papel amassado entre os dedos fechados como garras. Jaíne tentou pincelar a ponta do bilhete, mas sua mãe não liberou a mão.

— Ela disse que eu estava a pondo louca. A festa do casamento está cancelada pois ela pretende se casar no civil há 1600 quilômetros de nossa família e passar uma temporada de lua de mel na casa da família do noivo, no Rio Grande do Sul.

A vontade de esganar a irmã lutava contra ela, como um aço duro e inflexível, mas Jaíne estava muito preocupada pela expressão da mãe. Hipertireoidismo era uma coisa séria na família e sua mãe já tinha o sistema nervoso alterado o suficiente para uma notícia dessas ser perigoso para sua saúde. Ela se recusava a acreditar que sua irmã tinha sido tão irresponsável assim. Jaíne guardou esse pensamento com força e o usou como alimento para acalmar os nervos da mãe.

— Ela pode estar blefando, mãe. Sabe como ela é.

Seu pai balançou a cabeça em negação. Ele estava tenso, dentes cerrados. Jaíne o sentia lutando contra o que queria dizer, mas sua raiva e decepção estava fortalecendo muito dentro dele e quando falou, sua voz saiu furiosa.

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