Capítulo 20 | Imprevisto

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— Veio trabalhar assim? — Sâmia Torres lhe disse ao entrar na sua sala naquele dia.

Jaíne desceu os olhos pelo próprio vestido. Era colado, não chegava a ser indecente, mas não era exatamente o que utilizaria para trabalhar.

Torres a encarou divertida. Jaíne ainda estava de sobrolho franzido para o vestido, parecendo um pouco surpreendida como se não houvesse notado a roupa que tinha vindo. Então ela deu-lhe um sorriso amistoso.

— Pois é.

— Se eu não conhecesse você, diria que veio direto de uma balada. Mas eu só queria dizer que o seu vestido é muito bonito. Finalmente consegue destacar um pouco dessa sua cinturinha aí. — Acrescentou: — Aqueles terninhos sem sal mal lhe tocam os quadris.

— Obrigado, eu acho — roçou levemente a mão pela barra do vestido. — Eu tinha planejado usar o meu conjuntinho branco, se houvesse tido tempo. Mas hoje está bastante frio de qualquer forma e não se usa branco quando está frio.

— Quem foi que disse que não se usa branco no frio? — As sobrancelhas de Sâmia ergueram-se de curiosidade. — Esse teu vestido não me parece muito quente, não importa a cor que use.

— Eu disse — Jaíne lançou-lhe um olhar de descrédito — Não curto branco no frio.

— Há alguma coisa que esse teu cérebro fechado aceite de diferente? Você deveria ser mais livre, sabe? Se divertir um pouco mais. Você é tão séria. Não deseja fazer uma coisa louca de vez em quando?

Jaíne ficou pensativa por um momento.

— Não, não desejo. Você precisa de alguma coisa ou só veio implicar com o meu guarda-roupa?

Ela inclinou a cabeça, divertida com o desafio.

— Me diz só uma coisa. No calor você usa preto?

— Não. Quanto mais escura é uma roupa, mais calor absorverá. Por isso, não. Não gosto de usar preto no calor pelo mesmo motivo que não uso branco no frio.

— Meu Deus — resmungou Sâmia Torres — como é que o poderoso chefão atura? — Virou-se e saiu da sala, sem perceber bem como é que tinha um ar de superioridade para cima dela quando Jaíne sabia que a teoria das cores funcionava.

— Entre em um carro preto e outro branco no meio dia e me dirá se essa teoria não funciona — resmungou ela, para si mesma.

Lá pelo fim do dia estava à espera do diretor na sala de reunião junto aos demais professores, sentindo-se desconfortável pelo peso do olhar de esguelha de alguns deles, quando o seu celular começou a tocar, presumiu que fosse Leander, pois estava pensando nele também, então atendeu sem olhar para o ecrã.

— Alô?

— Jaíne — disse sua irmã. — Mamãe já falou com você?

Jaíne franziu o cenho. Tinha se esquecido completamente de avisar a mãe sobre ter dormido na casa do Leander. Ela poderia ser adulta e tudo mais, mas seus pais pensavam que enquanto estivesse dormindo sob o teto deles, tinha de avisar aonde é que fosse.

— Pelo seu silêncio presumo que esqueceu. Ainda bem que consegui falar contigo antes então. Ultimamente tem sido difícil nos encontrarmos em casa, pois eu estou sempre fora — disse sua irmã impacientemente. — Precisava de te dizer que tenho tido problemas em relação a mamãe. Ela quer pombas no casamento para representar o espírito santo e um jejum desde o nascer do sol ao final da cerimônia, simbolizando a purificação do corpo e da alma.

— Pombos? Jejum? — Jaíne riu baixinho, discretamente para que os professores não bisbilhotarem a sua conversa no celular — Diz que não quer pombos e jejum no seu casamento. Mamãe vai entender.

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