Voltando a rotina

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Voltando a rotina

16h49min – Sala A-3.

Sam batia a ponta do lápis impacientemente sobre a mesa, ouvindo o professor tagarelar sobre a cadeia alimentar. Ele estava realmente arrependido por não ter matado o último tempo de aula, na mente dele apenas uma hora de biologia não o mataria. Maior erro. Sua vontade era de pular a janela, sem se importar se morreria ou não. Ele deixaria para descobrir quando estivesse lá em baixo.

Seth também não estava diferente dele, o platinado batia os dois dedos indicadores na mesa, no ritmo que a bateria de. tocava Ian Damon ao som de Hush. Seth ao menos se importava de que levaria uma suspensão caso o professor o pegasse com fones de ouvido durante a aula.

Talvez o homem alto, de barbicha que adorava fumar um maço de cigarros nos intervalos atrás do prédio já tivesse o visto murmurando Deep Purple há minutos, porém preferiu ignorar, assim como sempre fazia com os alunos cujo não se interessavam por sua aula. Ele era um cara razoável pelo menos.

Os olhos negros e opacos de Sam seguiram até o outro canto da sala, onde Sarah estava deitada sobre o ombro de Norman. Patéticos. O mesmo pensou, girando o anel prateado em seu dedo. Havia o ganhado de seu pai assim que completou quinze anos, com o símbolo da família cravado no ouro branco.

Se perguntava o porquê de precisar vir ao inferno cujo ele chamava de colégio todos os dias. Todos sabiam que ele não precisava disso. Ele não precisava saber a fórmula de bhaskara, tampouco a ordem da cadeia alimentar, e o que aconteceria caso os roedores ficassem extintos. Ele não ligava para roedores, ele não ligava para o valor de x, nem para aquela pirâmide idiota. Ele estava mais preocupado com as carícias que Norman e Sarah trocavam do outro lado da sala. Não sabia exatamente o porquê, só sabia que não gostava daquilo.

Ele estava agindo como um babaca desde que chegou, e sabia muito bem disso. Na verdade ele estava agindo como um babaca desde o ocorrido de dois anos atrás. Por alguma sorte o destino havia aproximado Sarah e ele, mesmo que ele não acreditasse nessa baboseira de destino. Mas ele era um babaca, e repetia isso toda vez que se lembrava do que havia feito para fazer com que a garota se afastasse totalmente de si.

Ela era de Norman, sempre fora. Mas seu amigo não a merecia, de forma alguma. Não que o Sam também a merecesse, ele possuía a consciência de que ele era totalmente o oposto de cara no qual Sarah teria algum interesse. Sam era o tipo de cara que as pessoas mantinham distancia.

Com seu corpo cheio de pinturas permanentes de frases, caveiras e fogo, e um piercing na na língua. Sam ostentava do título de rebelde da cidade, com suas roupas pretas e seu melhor amigo cigarro nos dedos. Matando aulas, tirando a virtude das "filhinhas do papai" que se molhavam inteiras quando o viam. Ele havia ganhado uma péssima fama não só no colégio, mas na cidade, e fora dela também.

Uma perdição, todas diziam. Ele possuía a beleza de um modelo britânico, ou até mesmo de um deus grego para os mais poéticos.

E Sarah era totalmente o oposto dele, a princesinha da cidade. Ela ia à missa todo domingo, e era do tipo de garota que pretendia se guardar até depois do casamento. Sam ria quando via o desespero que Norman tinha para levá-la para cama, mas se continha, porque Sarah era tradicional demais para se deixar vencer por tentações. Ela era a garota que os garotos queriam ter, mas não podiam, porque ela já tinha dono. Um rosto de anjo, e uma mente de demônio.

Mas Sam sabia que não estava apaixonado por ela. Ele sabia que sua natureza não lhe permitia se apegar a uma garota por mais de uma noite.

Mas de alguma forma Sarah o atraía, talvez porque ele sabia que jamais a teria. E Sam odiava não ter o que queria. Não demorou muito para que o sinal tocasse, anunciando o fim das aulas naquele dia. Sam suspirou aliviado e guardou seu material, no qual ele ao menos havia tocado. Seth só percebeu que já estava na hora de ir quando viu os outros alunos da sala se levantando. O mesmo retirou os fones dos ouvidos e se levantou junto com Sam.

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