A treinadora e o capitão

3 0 0
                                    

Depois que o sinal tocou, Isis e Karin arrastaram Holly para a cantina, enquanto Max ia com Sarah até Tiana resolver os assuntos de seu novo posto como treinadora do time de basquete.

Conforme as duas caminhavam pelos corredores, Max contava suas experiências durante o pouco período em que morou na França. Contou quando ela havia pegado carona com alguns estranhos para praticar snowboarding, contou sobre a queda que ela tinha por um universitário francês de vinte anos. Da vez em que ela matou aula para fumar haxixe com suas colegas de quarto. Ela também queria ter contado para ela o quão frustrante foi ao descobrir que seus pais não pretendiam voltar para o Reino Unido, e que estavam pensando em viajar para a América no ano seguinte. Também queria ter contado que não foi fácil pedir emancipação para eles, e que ela e sua mãe ficaram quase duas semanas sem se falar.

Quis contar que estava sendo horrível morar sozinha em um apartamento no centro da cidade. Mas isso ela não contou, preferiu ficar apenas com as partes boas e interessantes. Sarah era sua amiga desde o ensino fundamental, e as duas eram mais próximas do que qualquer outra pessoa naquele colégio. Ambas tinham seus problemas, e não eram do tipo que precisavam compartilhá-los para se sentirem mais amigas. Elas se consolavam de forma não intencional.

Apenas com a presença da outra.

Quando Maxine terminou de contar suas histórias, as duas já estavam caminhando em direção a cantina. Max percebeu então que não havia deixado Sarah falar ainda. Então resolveu entrar em um assunto que a mesma não costumava tocar muito.

― Então Sam realmente voltou. ― Mudou o assunto repentinamente. ― Quase não acreditei quando o vi sentado lá.

― É, ninguém acreditou. ― Sarah disse desinteressadamente. ― E o pior é que do mesmo jeito que ninguém sabe o porque de ele ter sumido, ninguém também sabe o porque dele ter voltado.

― Não acha que é algum tipo de obsessão por você? ― Max arqueou uma sobrancelha. ― Desde aquele dia em que você dormiu na casa dele ele tem de perturbado. Talvez ele esteja gostando de você. ― Disse um pouco incerta. Colocar "Sam " e "gostando de alguém" na mesma frase parecia algo muito errado.

― Acho que não estamos falando do mesmo Sam, Max. ― Sarahfranziu o cenho. ― Estou falando daquele que tem um guarda-roupa cheio de jaquetas de couro, usa o mesmo penteado desde a quarta série, e gasta todo o dinheiro do pai em bebidas, prostitutas e carros para competir em corridas ilegais. ― Disse exaltada, e Max apenas riu. ― Ta rindo de que? Ele é um capeta reencarnado no corpo de um adolescente, e só quer arruinar a vida de todo mundo a volta dele.

― E o que ele faria para arruinar a sua vida? ― Revirou os olhos.

― Ele pode contar para o Norman o que aconteceu naquela noite. ― Disse um pouco mais baixo que o normal. Os corredores costumavam ter ouvidos.

― Primeiro, que se ele te ferrar com o Norman, ele se ferra também. E segundo, não aconteceu nada entre vocês dois, então não tem o porquê de temer.

Sarah suspirou, sabia que Max tinha razão. A morena era a única pessoa que sabia desse ocorrido, e era bom tê-la por perto durante esse momento.

Elas foram até a cantina do colégio. Max estava faminta. Maxine deslizou a bandeja pelo balcão de metal e escolheu um iogurte de morango, caminhou até os pratos quentes e encheu sua cuia com molho de queijo, alface verde, e alguns pedaços de frango cozido. Pegou a garrafa de refresco de uva, e alguns saquinhos de açúcar. Sarah apenas a observou em silêncio.

― Não vai comer? ― A morena perguntou, e Sarah balançou a cabeça em negação, dando a desculpa de que já havia comido muito no café da manhã.

― Max. ― A voz masculina demonstrou falsa empolgação. Quando Maxine olhou por cima dos ombros, viu Noah, com seus dentes branquinhos e bem alinhados, seus cabelos castanhos compridos e amarrados em um rabo-de-cavalo frouxo. Maxine prendeu o riso, era bem ridículo na opinião dela. Ah, e é claro, ela não poderia se esquecer de seus olhos brancos brilhantes.

― Noah. ― Ela curvou os cantos da boca para cima, formando um quase sorriso. O moreno arrastou sua bandeja para o lado da de Max, enchendo seu prato com uma pilha de frango frito, batatas assadas e alface-romana. Ele pegou uma garrafa térmica com água quente, e colocou dentro dela um saquinho de chá Basilur, uma fatia de limão, e um saquinho de açúcar.

Sarah que até então só observava o clima tenso entre os dois, aproximou-se deles. ― Sabe quem vai treinar seu time agora Noah? ― Ela perguntou. Noah apenas murmurou, sem encará-la. ― Max. ― Sarah passou um de seus braços em volta do pescoço da amiga, com um sorriso nos lábios.

Noah de repente ficou reto, encarando as duas como se elas tivessem lhe contado uma piada sem graça. Ele sabia que o professor estava procurando um novo treinador para o time esse ano, mas escolher uma garota de dezessete anos para fazer isso soava ridículo.

― Que engraçadinha você Sarah. ― Riu sem humor, enfiando uma colher de molho branco na boca, e juntando sua bandeja para caminhar em direção à mesa onde seus amigos estavam. ― Mas todos nós sabemos que isso não é verdade.

― E por que isso não seria verdade? ― Maxine sentiu-se ofendida com aquilo, e arqueou uma das sobrancelhas.

― Porque uma garota não pode treinar um time de garotos Maxine. ― Disse como se aquilo já estivesse mais do que explícito em suas palavras.

― Acho que você está atrasado algumas décadas Noah. ― Retrucou com indignação. ― Estamos no século vinte e um, e uma mulher tem os mesmos direitos que os homens.

― Mulheres têm os mesmos direitos que os homens e blá, blá, blá. ― Ele revirou os olhos. ― Sabia que não consigo ter uma conversa com você sem sentir vontade de dormir?

― Sabe Noah, de todas as coisas que eu senti mais falta aqui, você não estava incluído nelas. ― A garota pegou sua badeja de cima do balcão, e caminhou em direção a mesa onde Karin, Isis e Holly estavam. Sarah soltou uma risada e a seguiu, deixando Noah frustrado para trás.

Para Maxine só havia três coisas infinitas na vida, a estupidez humana, o universo e seu ódio por Noah.

_________________________________________________________________________________

Escola Where stories live. Discover now