Obrigada

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Obrigada.

21h56min – Mansão Uzumaki

Sam permaneceu no mesmo local sentado e encarando as prateleiras cheias de bebidas caras á sua frente, vendo o garçom servir os outros convidados. Ele se contentava em apenas terminar de beber sua garrafa de whisky.

Amaldiçoou-se por ter uma crise interna justamente na primeira festa do ano, onde ele sempre costumava transar e beber até cair. Amaldiçoou-se também por se ver perdido em pensamentos de dois anos atrás, quando tudo havia começado a ficar diferente em sua vida.

Quando Sarah apareceu de repente na porta do apartamento recém-ganho de seu pai há dois anos, com os olhos lacrimejados e os cabelos molhados por causa da chuva de verão. Ele lembrou exatamente do que havia sentido naquele momento. Um misto de confusão e dúvidas. Sarah e ele jamais foram próximos, e não possuíam nada em comum com exceção do amor pelo Norman. Mas lá estava ela, com o rosto inchado de tanto chorar bem na frente dele.

A garota do coração de gelo, que não havia derramado uma lágrima na frente dele desde que se conheceram aos três anos de idade, quando o pai dela levava-a em sua casa para que ele e seu pai pudessem conversar sobre negócios enquanto eles dois brincavam. Eles nunca brincaram.

Sarah era mandona, e Sam odiava ser mandado. Eles queriam sempre brincar de coisas diferentes, assistir desenhos diferentes ou comer coisas diferentes. Eles não eram compatíveis, e perceberam isso quando ainda usavam fraldas.

Cresceram sendo incompatíveis, permaneceram sendo incompatíveis.

Sarah era o tipo de garota que Sam não se interessava em sair, talvez porque alguns anos depois ela e Norman começaram a namorar. Ele jamais olharia para a namorada do seu melhor amigo. Já para Sarah, Sam era o tipo de cara que ela repugnava, não dava valor as garotas no qual dormia, e as tratava como lixo. Não possuía compromisso sério nem com ele mesmo.

Seus encontros passaram a ser apenas em jantares de negócios, em que ambos quase nunca trocavam olhares, á não ser quando eram obrigados a se cumprimentarem por educação. Seus pais eram próximos, eles não.

Mas naquela noite Sam sentiu como se eles fossem melhores amigos desde que nasceram. Ela chorava e tentava respirar ao mesmo tempo, resultando em palavras desconexas e inacabáveis. Mas ele não demorou muito para descobrir que se tratava de uma possível traição de Norman.

Naquele dia a garota havia recebido uma imagem anônima de seu namorado com uma garota da outra turma. ― Era ele, Sarah tinha certeza que era Norman.

A garota não sabia o porquê de ter ido até Sam. A maioria dos seus amigos estavam no acampamento de verão que CES fazia todo ano. Ela havia ficado em Demont pois a cidade estava em época de reeleição, e como filha do prefeito ela tinha que estar lá para manter a imagem de família perfeita que todos os cidadãos gostavam de ver quando iam votar. Sam era o único que ela sabia que encontraria em casa, pois ar livre e companhia eram as coisas que ele mais abominava no mundo.

De fato ele estava.

Ela hesitou muito antes de finalmente abrir a boca e lhe contar tudo o que estava acontecendo. Desesperada em busca de uma resposta para suas dúvidas. Sam sempre foi o melhor amigo de Norman, e se o namorado estava a traindo, ele, com certeza, saberia.

Sam ficou surpreso, não sabia de nada.

Quando a consciência finalmente bateu, Sarah percebeu o que estava fazendo; chorando na frente de um total desconhecido. ― Ela não era assim. Tentou se esgueirar e ir embora, como se nada tivesse acontecido, porém Sam não deixou.

De alguma forma viu nela a menina que fora lhe apresentada anos atrás, com cabelos cor de mel e olhos verdes como duas bolas de gude. Sentiu-se mal em vê-la chorando.

Ele conversou com ela, durante toda a madrugada. E se enrolou na cozinha tentando fazer algo para que eles pudessem comer, e jogaram Mario Kard até o sol aparecer no horizonte. Sarah naquela noite dormiu apoiada em seus ombros, como jamais havia feito com Norman. E Sam acariciou a cabeça dela durante todo o tempo, como jamais havia feito com uma garota.

Já havia se passado das seis quando o moreno também pegou no sono, com seu corpo aconchegado ao dela. Sarah possuía a fragrância do Eau de Toilette de flor de cerejeira, cheiro cujo Sam não se esquecia desde aquele dia.

Quando ele acordou naquela manhã de sábado, ela já não estava mais lá, porém havia deixado um bilhete em cima do reque, ao lado da televisão, escrito apenas " Obrigada ".

Na segunda feira, quando as aulas começaram, Sam achou que alguma coisa mudaria, mas não. Sarah fingiu que nada realmente havia acontecido naquela noite. Norman e ela estavam juntos novamente, como o casal perfeito que sempre foram.

Não era para que Sam se importasse com aquilo. Durante toda a sua vida ele dormiu com garotas que sumiam na manhã seguinte, e a maioria não deixava um bilhete. Não que ele achasse ruim, na verdade ele agradecia.

Mas essa não era como nas outras vezes. Algo dentro dele parecia doer.

Algo que ele imaginou nunca ter.

Pela primeira vez na vida, Sam não havia partido o coração de uma garota, e sim ela o seu.

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