Capítulo Sete: Gustavo

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Era maravilhosa a sensação de liberdade que começava a nascer em meu peito. Pela primeira vez em toda minha vida não precisei de bebida para me sentir daquele jeito. Eu estava pronto para mostrar a mim mesmo que era o que era e não precisava me esconder. Perdi muito tempo pensando no que as outras pessoas iriam achar de mim, o que pensariam sobre minha conduta, mas não percebi que ao fazer isso eu simplesmente estava deixando minha felicidade de lado e adoecendo.

Adoecendo mental e fisicamente.

Era tudo o que eu precisava. Ser eu mesmo. Talvez minha adolescência, a crença religiosa que cresci inserido, me ajudasse a manter as grades daquela prisão imaginária, mas não dava mais para continuar. Estava cansado de lutar aquela batalha. E me assumir em voz alta como estava fazendo me libertara.
Gritei mais algumas vezes e despenquei em pranto. Chorei amargamente, por todas as vezes que deixei alguém ir embora da minha vida, simplesmente pelo fato de não aceitá-lo, alguém que realmente era interessante, inteligente, educado e com todas as qualidades que poderia desejar, principalmente quando seus defeitos eram toleráveis.

Chorei por cada vez que fui a um bar e enchi a cara, por cada vez que 'cantei' uma mulher, por cada beijo dado a elas por covardia, por cada uma que dissera estar apaixonada por mim e eu as rejeitá-las com frieza.

Eu não sei se estava sendo pesado demais comigo mesmo, mas precisava. E me libertei de cada fantasma como em uma sessão surreal de liberação emocional.


Aquela noite dormi como um bebê. E acordei cinco da madrugada, duas horas antes do solicitado para o encontro. Eu iria mesmo. Eu iria sem culpas dessa vez.

Por que falar em culpas? Não era mais virgem, apenas me culpava. O famoso prazer culpado. Eu queria estar com os caras, mas no instante seguinte me detestava por isso. Eu tinha que ser 'normal', eu havia nascido para ser normal. Era essa a mentira que eu tentava tragar todos os dias, e graças a André, e sua coragem de me chamar para o encontro que estava prestes a acontecer eu havia conseguido me libertar.

Ao menos foi o que eu pensei;

Preparei um café bem forte para começar meu dia. E o bebi. Olhava para a xícara com um sorriso bobo no rosto, estava leve, renovado, livre. Como não havia deixado de ser religioso, e esse era um fato que não pensava em mudar em minha vida, sentia que estava novamente conectado com meu Deus. Estava em ordem agora. E sentia que ele se agradava dessa minha nova ordem mental. Eu estava sendo eu mesmo. Iniciando um novo caminho, e agora esse caminho era rumo a minha liberdade emocional. A graça conquistada por ele. Estaria livre. Livre de verdade e poderia ser feliz amando alguém.

Durante esse tempo todo em que bebia sem parar, me sentia desconectado de minha espiritualidade. Sentia que toda essa máscara me afastava de minha essência e meus erros se tornavam cada vez maior. Mas agora estava claro que meus erros não eram erros de verdade para ninguém, apenas para mim. Apenas aconteciam na tela bagunçada que era minha mente. Eu tinha tudo para ser feliz e não percebia. Agora eu podia ver. Tudo tinha uma cor diferente, um peso diferente, um sentido diferente.

Não demorei a me enfiar debaixo do chuveiro, e tomar um banho. Limpei minha pele com suavidade, já me sentia limpo. Me arrumei com simplicidade e trinta minutos antes eu já estava a caminho do All Mineiro.

Entrei e escolhi uma mesa próxima da porta. Não queria que André tivesse trabalho em me encontrar. Sentei-me e pedi um late grande. Esperei por ele. Esperei por ele pelos próximos trinta minutos até dar a hora que ele anotara no convite. Depois esperei por mais uma hora, e pela hora seguinte, e ele não apareceu. 

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