Três dias depois do ano novo, eu fui até a loja em que meus pais compraram meus presentes, para trocar as roupas por peças menores, e foi então que eu comecei a descobrir que a vida me sorria de uma forma diferente...
Eu não me recordava o tanto que gostava daquela loja, uma das mais antigas da cidade, sempre que íamos as comprar na infância era lá, e além disso poder comprar roupas e sapatos novos me encantam desde sempre...
Entrei e fiquei com esse sentimento de nostalgia que nos domina as vezes quando passamos ou repassamos por coisas que nos rementem às boas lembranças. Sem perceber eu sorria, um sorriso leve, como se eu tivesse outra vez sete anos de idade.
Voltei a si, quando escutei uma voz delicada de uma adolescente que veio me atender.
"Posso ajudá-lo moço?"
"Oi, pode sim... Eu vinha nessa loja quando criança, e amava. Quando estrei aqui tive um sentimento muito bom..." Percebi que estava tagarelando sobre meus devaneios e a menina sorria simpática, mas deixava visível que estava me achando um total esquisito, então voltei ao que realmente interessava.
"Meus pais me compraram uns presentes, mas a numeração das peças estão erradas, e eles me disseram para que eu procurasse um vendedor chamado Lucas que ele poderia me ajudar a concertar esse pequeno problema, você sabe onde eu o encontro?"
A menina olhou para alguém atrás de mim e sorriu outra vez.
"Sim, está ali." E aponta para um moço logo atrás de nós.
Lucas percebeu o que estava acontecendo e veio até nós.
"Bom dia, tudo bem? Vocês querem falar comigo?"
"Lucas, esse moço está te procurando. Vou deixá-los. Tenha um bom dia senhor."
"Obrigado, desejo à você também!"
Então me viro a ele e explico outra vez minha situação.
"Minha mãe disse para eu te procurar..." Concluo com todas as informações que já sabemos e então mostro as peças que até então estavam na sacola, porém nesse processo eu acabei esbarrando em uma das peças que estava dependurada na arara bem em minha frente e as derrubo. Nervoso e desajeitado abaixo para colocar a peça outra vez em seu lugar, mas não havia notado que Lucas também tinha feito o mesmo gesto, e então nossas mãos se tocam...
Sua pele é suave, e o toque me agrada. Olho para ele e ele me encara também. Seu olhar é intenso, tanto quanto o meu. E o sorriso, mais largo do que estava antes, permite uma visualização completa de seus dentes alinhados. Toda essa situação me deixa constrangido, e eu me pego o desejando. Não um desejo sexual. Um desejo além. Queria o conhecer melhor, tornar-me seu amigo, e quem sabe algo mais pudesse acontecer entre nós.
Mas e agora? Tudo o que eu poderia fazer até descobrir o que realmente eu queria fazer, se é que me entendem, era seguir com a compra.
Ah, no fim quem acabou pegando a peça e colocando na arara foi ele, já que eu estava todo enrolado com a sacola.
"Vem, vamos sentar ali, para vermos essas roupas com tranquilidade." Ele me salvou dos meus pensamentos de o que fazer adiante, e prosseguiu com naturalidade o que eu realmente havia ido lá para fazer, trocar as benditas roupas.
Sentamos no banco indicado por ele, e nossas posições foram de frente um para o outro. Eu abri a sacola e coloquei as duas peças com tranquilidade estendidas para que ele visse de quais se tratavam. Em um dado momento nossos joelhos se tocaram, e eu senti uma corrente de eletricidade passando por mim. Poderia ser coisa da minha cabeça, mas nesse exato momento ele olhou para mim e sorriu. Certeza que ele também tinha sentido aquilo...
"Você quer levar peças iguais a essa, ou prefere trocar por outras do seu gosto?" E ele segue agindo naturalmente e com profissionalismo.
"Eu preferia outras peças, mas como foram escolhas dos meus pais, eu vou querer levar as peças iguais, mas com uma numeração maior se estiverem disponíveis."
"Que gesto bonito de sua parte. Eu tenho quase certeza que temos peças maiores sim, e se eu não me engano eles até viram as de tamanho maior, mas optaram por essas que estão com você."
Acho engraçado esse comentário. Com ele penso em uma única coisa: "Será que meus pais fizeram isso de propósito só para que eu me encontrasse com o Lucas?"
Teria que descobrir isso... E se a resposta fosse positiva eu devia a eles outra vez gratidão.
Lucas é lindo, com a pele morena, os cabelos encaracolados e longos, e o sorriso emoldurado por uma barba por fazer bem preta que destaca ainda mais seu sorriso ostentoso de dentes brancos como a neve. Sua voz tem um tom agradável, sabe aquelas vozes que nos da vontade de ficar escutando por horas a fio, exatamente essas...
E além de todas essas características físicas, tinha em si uma simpatia natural. Um jeito de se movimentar único e encantador... Enfim, acho que havia me apaixonado no momento em que nossas mãos se tocaram...
Voltando à compra.
Ele foi até a arara onde haviam peças iguais as que meus pais me deram e selecionou as com tamanhos maiores e me entregou.
"Quer experimentá-las?"
"Acho que seria melhor, não é?" Na verdade o que eu queria responder era: Faço qualquer coisa para ficar um pouco mais com você...
Ele me levou até o provador e então eu perguntei:
"Você pode ficar aqui para me dizer o que achou?"
"Claro, fique a vontade. Quando terminar só me chamar que eu venho ver, estarei logo ali na frente." E aponta para o balcão antes da entrada dos provadores.
Um sorriso extremamente arreganhado e involuntário se apossou de minha face. Então fechei a cortina do provador e comecei a me trocar.
***
Esse capítulo continua no vinte e três, para que não fique muito longo aqui...
Gratidão por estarem acompanhando.
Preciso pedir desculpas por ter atrasado quase duas semanas com os capítulos. Prometo postar a continuação desse amanhã. (25/09/2019)Não esqueçam de votar e comentar o que estão achando.
Um big beijooo!! <3 <3 <3
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Diga que sim
RomansGustavo é um professor cansado e entediado com sua rotina. Tudo já parece não fazer mais sentido, sofre de alcoolismo, mas ainda não sabe. Sua vida segue por esse caminho até o dia em que recebe um convite em um lugar inusitado e por um homem que el...