Capítulo 4 - Entrem crianças

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  Senti o cheiro inconfundível de grama molhada,e pude sentir algo macio tocar meu rosto.

Meu olhos estavam presos a uma luz intensa, que insistia em tirar minha atenção.

-Ei,ela acordou! - era uma voz suave, familiar.

Virei meu rosto rapidamente e não consegui acreditar no que vi, Rick estava ali.
Junto a ele estavam Dylan e Elisa.

Arregalei meus olhos ao vê-los.

-Eu morri?

Rick sorriu, colocando uma mecha de cabelo atrás de minha orelha.

-Eu sei que pareço um anjo, mas não Sarah. Você não morreu. -exclamou ele, com o mesmo tom irônico de sempre.

-Mas o que... O que aconteceu?- perguntei, ainda confusa com o ocorrido.

-Quando estávamos na casa do terror, quando um dos atores se aproximou de você, você ficou com tanto medo que desmaiou. Seria engraçado,se não tivéssemos pensado que você tivesse morrido. - contou-me Rick, enquanto encarava Dylan e Elisa.

Minha mente parou ao ouvir tais palavras.
Espera.
Isso foi só um sonho?

Sorri ao sentir um enorme alívio invadir meu corpo. Meus amigos estavam vivos,estavam comigo,
Rick estava comigo.

Sem pensar duas vezes, me levantei e abracei Rick com toda a minha força.

- Eu estou feliz por você estar aqui. - o encarei timidamente, ele corou com meu gesto.

Ao perceber a reação de Elisa e Dylan os abracei também.

-Eu amo vocês. -distribui um beijo na bochecha de cada um.

Eles se encaram incrédulos.

-Você tá bem Sarah? - exclamou Elisa enquanto colocava a mão em minha testa.

-Eu estou ótima. - olhei ao redor. -Espera. Cadê o Josh e a Rachel?

-Eles foram comprar algodão doce faz uma meia hora, e até agora não voltaram.  Certamente, estão se embebedando em alguma barraca. -proferiu Dylan revirando os olhos.

-Embebedando? Desde quando aqueles dois bebem? -perguntei estarrecida.

-Há muitas coisas que você não sabe Sarah White. -Elisa me olhou maliciosamente. -O Rick por exemplo, ele gosta de... - Ele a cutucou, fazendo-a parar de falar.

-Olhem, a bilheteria do circo já está aberta. Vamos indo? - Rick mudou de assunto.

-Por quanto tempo eu fiquei desmaiada? - perguntei, quebrando o silêncio que as palavras de Elisa causaram.

- Por poucos minutos, eu acho. Por que? -Rick franziu as sombrancelhas.

-Ah... Por nada. - forcei um sorriso e continuei a caminhar ao seu lado.

Ao chegarmos na bilheteria, fomos atendidos por um senhor de cabelos grisalhos que possuía um sorriso simpático.

-Boa noite crianças, sejam bem vindos a ClownTown.
Aproveitem o show, espero que morram de rir com nossos palhaços. - ele nos encarou da cabeça aos pés, com uma expressão quase que perturbadora.

Ok,eu não achava ele tão simpático agora.

Mas, as luzes me fizeram tirar esse pensamento da mente. O circo parecia ser maior ainda visto por dentro.
Tinha cores vivas e pulsantes, luzes que piscavam freneticamente, e alguns trapezistas se alongavam no centro do palco.

-Estranho. Por que aquilo está ali? - Rick franziu o cenho, apontando para o canto do palco.

Todos olhamos, curiosos.

Era uma guilhotina, idêntica as que foram usadas durante a Revolução Francesa. Era enorme,sua lâmina brilhava.Não aparentava ser de plástico ou de brinquedo, o que me fez desconfiar do tipo de apresentação que ocorria naquele palco.
Que merda era aquela?

-Relaxa brother, deve ser usada para algum dos truques de mágica, ou sei lá. Você sabe como funcionam as coisas atualmente né? Eles procuram sempre inovar nos shows, e fazem isso de forma ousada. -exclamou Dylan calmamente, dando tapinhas no ombro de Rick.

-É, tem razão. Deve ser isso.- murmurou sem animação.

Aos poucos, a arquibancada foi totalmente ocupada.
Muitas pessoas chegavam, famílias, crianças...

Os observava com uma certa inveja. Eu queria que meus pais estivessem ali comigo, queria que Charlie estivesse.
Mas agora, eu estava sozinha. Meus amigos eram meu único apoio, minha única razão para continuar insistindo em viver. Quando esses pensamentos surgiam eu me sentia horrível,talvez  seja um caso perdido.

Apesar de estar me esforçando, ser forte é uma árdua e díficil tarefa.
O fracasso está presente em todas as minhas tentativas de melhorar.

Me vendo calada, Rick se aproximou devagar e colocou sua mão sobre a minha.

-Você não está sozinha ok? -sussurrou ele, enxugando meu rosto.

Ele sabia como eu me sentia,seus pais morreram ainda quando ele era criança.

Depois de me acalmar um pouco,foquei
toda a minha atenção no palco.

Um senhor usando uma cartola vermelha, se dirigiu até o centro dele segurando um microfone:

"Senhoras e senhores, sejam muito bem vindos a ClownTown! Se divirtam, se emocionem, percam o folêgo, e morram de rir com nossos palhaços!
Aproveitem o show!"

Algo que me deixou um pouco perturbada, foi o enfâse dada a palavra "morram", tanto na bilheteria, quanto no palco.

Eu sempre odiei palhaços, e circos. Pessoas com o rosto pintado, tentando fazer outras sorrirem, pra mim sempre foi bizarro. Pra mim,estar meio a tanta gente era bizarro, sinceramente eu nunca gostei disso.

Meus pensamentos foram cortados quando senti uma mão fria tocar meu ombro esquerdo.

-Sarah White?-uma voz me chamou.

Me virei, para descobrir a quem pertencia a voz.

Era um dos homens do sonho. Com a mesma máscara,e com a mesma aparência perturbadora que eu me lembrava.
Aquilo foi apenas um sonho.
Será?




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