GeorgiaSeu sangue espalhado pelo chão, o cheiro pútrido de seu corpo que fora dilacerado, seus cabelos ruivos já não balançavam mais.
O sangue que escorria de sua cabeça secou e formou uma espessa camada escura e grossa sobre suas belas madeixas.
O modo como ela lutou por sua vida, como foi corajosa e forte... Eu com certeza contarei essa história para Luke se eu sair viva desse inferno.
Luke era o motivo para eu ainda não ter pegado essa maldita faca e rasgado meus pulsos.
Mesmo tão pequeno, eu o sentia seus chutes e seus pequenos movimentos em meu ventre.Eu sairei daqui, eu farei tudo por ele.
Para protegê-lo, para salvá-lo.
Ele me motiva a ser forte.Ele é o fruto de uma relação curta e conturbada. Um casamento que durou 2 meses, ele foi a única coisa que valeu a pena nisso tudo.
- Certo Geo, se quiser eu posso ser tipo o pai do Luke! Não estou dizendo que precisamos namorar ou algo do tipo. Argh,aonde estou querendo chegar? Posso ser uma segunda mãe,isso! Eu vou te ajudar com tudo, posso buscá-lo na escola. Amigas são pra isso! - Lexi sempre me apoiou em tudo.
Após o divórcio, quando até mesmo meus pais me viraram as costas, ela esteve comigo.
Foi a primeira a saber sobre minha gravidez, e a única a me estender a mão.
Ela e Rosie.Após uma briga boba, Rosie se distanciou de nós.
Era uma sexta-feira a tarde, me lembro dela ter me ligado. Era o número da casa em que ela vivia com os pais, quando atendi o telefone ficou mudo.
Pude ouvir apenas uma respiração ofegante do outro lado da linha.
Desde então, não tive mais notícias dela.
Ela adorava beber, aquilo havia se tornado um hábito pra ela, talvez ela apenas tivesse exagerado na dose e quisesse ficar sozinha curando a ressaca.Isso já aconteceu tantas vezes, e por incrível que pareça eu não me preocupava com ela.
Ela sabia o que fazia, era independente.Talvez tenha sentido nossa falta, talvez tenha alertado a polícia.
Eles poderiam chegar a qualquer minuto.Mas minha fome, aquele vazio em meu estômago.
Luke precisava de algum alimento, de algo para mantê-lo firme e forte junto comigo.
Era repulsiva e nojenta a idéia de comer um cadáver, o cadáver de minha melhor amiga.O desespero e a dor eram maiores que o nojo ou qualquer outra coisa.
Sacrifícios são necessários, e por mais que custassem minha dignidade, eu faria sem hesitar.Me aproximei de Lexi, tampei o nariz com as mãos e apalpei o bolso de sua calça. Talvez houvesse algo, um barra de cereais, um chocolate.
Qualquer coisa.Aprofundei a mão em seu bolso que já estava com o tecido frágil, um embrulho mínusculo estava ao fundo de sua roupa.
O puxei com força, fazendo alguns dos vermes que passeavam pelo seu corpo caírem no chão.
De perto, a situação era ainda mais horrorosa.
Eu não poderia, não conseguiria colocar aquilo em minha boca.
Poderia causar a morte de Luke e a minha.
Não, "canibalismo" não está mais em minha lista de hipóteses para a sobrevivência.O pequeno embrulho trazia dentro de si um chocolate.
Ele não estava manchado pelo sangue ou rasgado, não era de Lexi.Me recusei a comer aquilo, Phill não me pegará. Phill não fará comigo o que fez com Lexi.
Eu não poderia deixar.Acariciei minha barriga que já estava começando a entregar meu estado.
Se ele percebesse algo, iria usar contra mim.
Ele mataria meu filho.
Me torturaria até que eu implorasse para ser morta.De qualquer forma, ele tentará me matar. Cabe a mim tentar evitar ao máximo isso, tentar manter algum tipo de vantagem.
Mas fraca, e sem forças até para me manter em pé... Eu não conseguirei lutar nesse estado.- Aguente firme meu amor. Mamãe vai tirar a gente dessa. - sussurei para Luke, eu tentava pensar em algo. Achar uma saída, bolar um plano.
Mas aquele lugar.... parecia ser impossível qualquer pessoa sair dali.Janelas altas e com grades, nada estava a meu favor.
{···}
1° mês
Por mais que eu não acredite, eu consegui sobreviver.
O maldito anda me trazendo sanduíches três vezes ao dia, isso está me mantendo.
Eu sei que ele não faz isso porque é "generoso e bom", ele está tramando algo.
Mas não posso me dar ao luxo de negar comida, não faço isso por mim. Faço por meu pequeno Luke.Ele cresce a cada dia, e por mais que esteja sendo difícil eu sei que vamos suportar.
Por mim, por ele e por Lexi.2° mês
É difícil tentar me manter sã aqui.
O cheiro não é mais tão ruim, ele colocou o corpo de Lexi para fora das grades.
Mas o sorriso que ele mantém em seu rosto cada vez que está por perto me faz sentir medo. Muito medo.
Me faz perder um pouco as esperanças que com tanto custo, eu consegui juntar.
Este diário e meu filho é tudo que eu tenho agora.Pensei em vários meios para uma possível fuga, mas nenhum é bom o suficiente.
Eu poderia gritar, mas ninguém me escutaria. Este lugar é afastado, não há vizinhos.
Poderia cavar um túnel com a colher que ele me entregara, mas o chão é de concreto.
Eu poderia serrar as grades, mas uma mísera faca de cortar pão nunca conseguiria fazer tal coisa.
Não há como sair.
Agora eu vejo isso.3° mês
Luke está cada dia mais próximo de vir ao mundo, estou quase no nono mês de gestação.
Estou cada dia mais forte, física e psicologicamente.
Me mantenho firme por tudo o que já passamos até aqui, não posso desistir.
Estou confiante, sinto como se algo estivesse diferente.
Não sei se em mim, ou nesse lugar.
Mas sinto que saíremos daqui vivos e bem.Eu e Luke.
Luke e eu.
Juntos.
4° mês
Phill está aqui.
Algo está errado. Aliás, nada nunca esteve certo com ele.
Ele não é o que parece, sua aparência esconde algo muito maior do que apenas psicopatia. Ele esconde...."- Está vendo garotinho? Sua mãe era uma mulher burra! - com o bebê miserável em meus braços li alguns trechos do diário de Georgia.
Ela era fraca, e seu filho também seria.- Veja, a vida é assim. - apontei para o corpo sem vida da cacheada. Eu havia feito uma cesariana, o chão estava imundo.
Seu sangue sujo o manchou. - Se você não matar, você morre.O bebê chorava incessantemente, nem minhas mãos fortes conseguiram calar sua boca.
- Luke não é um bom nome, a vadia da sua mãe não fez uma boa escolha. - passei o polegar em sua testa, desenhando um R com o sangue de Georgia. - Rick, esse será seu nome.
Você se chamará Rick!
Todos lembrarão de você, você fará história.
Isso se eu não te matar antes.O que acharam? Alguma teoria? CONTEM-ME!
VOCÊ ESTÁ LENDO
Entre se quiser , saia se conseguir
HorrorCapa feita por @ennestelar Ao perder seus pais em um terrível acidente de carro, Sarah White se isola do resto do mundo, na tentativa de superar e esquecer o que aconteceu. Quando um famoso grupo circense chega a cidade, seus amigos, na intenção de...