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Eu me olhava no espelho, há mais de uma hora.Logo que acordei, vim para a frente dele tentar me entender. Meus cabelos longos castanhos, meus olhos num castanho mais puxado ao mel, pele Alva, e se quer resquícios de uma mente totalmente ferrada. Sim, ferrada. Olho atentamente cada detalhe em meu corpo, marcas, cicatrizes, histórias. Por que tudo não poderia ser mais fácil?
- Senhora Langdon? - uma voz me desperta do meu transe me trazendo a realidade.
- ah, olá rosa, já chegou? Nem notei - disse num tom ameno, tentando esconder o susto que levei.
- a menina Jennifer esta cochilando no sofá, a senhora já vai sair? - perguntou sorrindo como sempre fazia
- sim, só irei tomar um banho e jaja saio, se puder a colocar na cama dela eu agradeceria. - falei juntando uma toalha e meus produtos capilares para iniciar meu banho
- tudo bem senhora, e boa sorte no plantão de hoje, muita coragem ser segurança nesse mundo de hoje - sorri falsamente, aquilo me machucava - estarei no quarto da pequena, caso queira se despedir - falou com seu sotaque texano inigualável.
- ok rosa, obrigado.
Fechei a porta e fiquei por alguns segundos olhando pro nada, pensando se algum dia rosa descobrirá que não sou segurança, mas sim uma stripper. Tive que arrumar alguma profissão de fachada para explicar todo o dinheiro que entra na casa, mas eu não poderia dizer a ninguém que eu mostrava meu corpo por dinheiro, já sofria o bastante por ser a " Mãe solteira com problemas psicológicos" do bairro. Meu passado me assombra até hoje, uma relação toxica, um abuso e ainda sim estou aqui, fugi do meu país para cá, mas a dor me acompanha, com apenas 19 anos fui mãe, fruto de uma relação mais que abusiva, fatal. Mas dela veio meu maior presente, Jennifer. Minha garotinha perfeita, já faz um tempo que consegui desassociar ela do pai, aquele monstro que me colocou onde estou agora, a aparência dos dois é a mesma, apenas seus olhos azuis a diferencia do mesmo. Despertei de meus devaneios com um bater da janela do banheiro, não estava fechada?
Andei até a mesma a fechando, e me dirigi ao box, ligando o chuveiro deixando que a água caísse sobre mim, quente, me trazendo a tona lágrimas, de solidão? Eu não sei, mas chorar já era algo do meu cotidiano, me encostei a parede e fiquei com o olhar fixo a uma parte do banheiro, e não sei exatamente por que, já se sentiram sendo observados? Tenho tudo essa sensação a semanas, e ainda não passou, deve ser esse medo de descobrirem o que realmente faço na noite, não me orgulho, mas foi minha única opção.
Desliguei o chuveiro, me enrolei na toalha, e fui para meu quarto me trocar. Me certifiquem de que rosa não adentraria o quarto sem aviso, trancando a porta. E então vesti meu uniforme de trabalho, um sutiã cheio de strass, verde e dourado, acho essas cores incríveis, uma meia calça arrastão, saltos do tamanho que me deixam nervosa sempre achando que vou cair, e uma mini saia igual ao sutiã, mas ao invés do tecido de laicra era couro. Coloquei meu sobretudo por cima para apenas chegar no clube e já estar pronta, odeio me trocar naquele lugar, as outras garotas me perguntando sobre as marcas e tudo o mais, elas se importam, eu sei, somos umas grande família, mas ainda não estou preparada para entrar nesse assunto.
