seis

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você me aparece depois de um certo tempo e diz que não aguenta mais essa vida.

que não sabia mais à quem recorrer e que ficar do meu lado era como uma terapia. [sempre gostei mais de ouvir, principalmente quando se tratava de você].

chega com o sorriso que me dilacera por dentro e deixa as borboletas do meu estômago, atordoadas.

porque não sabem se comemoram pela sua chegada ou se ficam quietas talvez por ser coisa passageira porque você não tinha mais à quem recorrer.

ouço seus problemas tanto sobre como a vida não anda te ajudando ultimamente, quanto aquela sua dor no braço esquerdo que quase não te deixa trabalhar.

sou calado, um bom ouvinte, você diz. sorrio discretamente e penso em tudo que queria falar há tempos, ali, olhando nos seus olhos.

mas as palavras ficam entaladas na garganta porque de quê adiantaria atravessar céu e mar por alguém que não andaria ao menos à pé, ao meu lado?

de quê adiantaria gritar aos quatro cantos do mundo que estava na frente da pessoa que mais amo, se entraria num ouvido e sairia no outro?

aquela era mais uma noite em que minha presença não era a primeira opção e que minha ausência logo não faria diferença alguma. você só não tinha à quem recorrer.

e por mais que doa, por mais que a tristeza ao invés de chegar e partir, se fizer morada, o que vai acontecer quando eu desistir de ser a pessoa à quem você recorre sempre que o mundo te dá as costas?

tudo que ainda me restouOnde histórias criam vida. Descubra agora