quarenta e um

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Jonny,

acho que no fundo - bem lá no fundo mesmo -, eu sabia que nada do que vivêssemos, seria verdadeiramente real.
por mais que eu quisesse, que engolisse choro e mágoa, não era exatamente aquilo que eu merecia. eu também sabia que merecia mais. eu realmente mereço mais.
eu tenho esse coração gigantesco que vez ou outra me expõe e se entrega muito fácil, sendo também facilmente quebrado, e você sabia disso, Jonny.
eu me entreguei de corpo e alma a alguém que não merecia um só fio de cabelo e demorei até perceber que os danos estavam à um fio de se tornarem irreversíveis.
no fundo - escuro e embalado à vácuo - algo queria me alertar do quão tóxica seria sua presença, mas se escondia entre os escombros que restavam sempre que você me destruía e saía como se nada tivesse acontecido, para se mostrar inferior e manter-se totalmente inalcançável, nesse muro quase impenetrável de nada-do-que-você-faça-vai-adiantar.
você chegou a falar primeiro que me amava, só que quem amou verdadeiramente fui eu. e como se não bastasse, servir de tapa buraco para você não era má ideia.
mas eu já vivia antes de você, Jonny. eu já comia e bebia e respirava, antes da sua desastrosa chegada, então abri os olhos e enxerguei que parecia estar no deserto do Saara e cada grão de areia se assemelhava a quantidade de vezes que você me magoou e ainda continuaria magoando.
só que diferente de você, assim como a imensidão da minha entrega e do meu amor, eu te perdôo. porque li uma vez que "a gente só é feliz quando perdoa."

e eu m[t]e perdôo, Jonny.

com todo amor que habita em mim
e agora sem nenhuma mágoa,
Sara.

tudo que ainda me restouOnde histórias criam vida. Descubra agora