quarenta e quatro

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"talvez tu seja mais uma cicatriz"

e eu espero do fundo do meu coração que seja. aliás, não queria que tivesse sido n a d a. nem ao menos um corte minúsculo. mas, quando fui ver, já estava sangrando gradativamente.

sua chegada foi minuciosa e minha alma, de tão ingênua, cedeu. e sangrou. no começo deixei passar [era só um arranhão].

o tempo passou e quando me dei conta, o corte já estava tão aberto que não havia sutura nenhuma que desse jeito. e sangrei. gradativamente.

você observava e não expressava reação alguma. parecia que dava gosto me ver em tal situação. parecia satisfatório.

"mas sempre que falam de ti, lembro ta tua mão na minha... meu deus, o que é que eu fiz?"

eu fui intenso demais. minha intensidade foi meu ponto fraco nesse caso. minha alma - antes ingênua - juntou cada caco espalhado pelos cantos do quarto e da sala e da cozinha e de tantos outros lugares que a gente f o d e u... e os petrificou.

entende a gravidade da cicatriz? minha presença só era do seu interesse para desabotoar a calça e te fazer desfrutar do meu corpo quando ninguém mais estava ali para fazer esse trabalho sujo.
[e parecia que eu o fazia tão bem].

eu era como um masoquista porque por mais que fizesse mal, a dor passava e logo eu estava pronto para outra. mas a cicatriz foi aumentando e tomando proporções ainda mais assustadoras, então cedi.

não como minha alma, antes ingênua. eu cedi no pior sentido da palavra. simplesmente não suportei mais porque a dor já não era na pele...

era na droga da alma.

tudo que ainda me restouOnde histórias criam vida. Descubra agora